terça-feira, maio 23, 2006

A Ilusão da Igualdade e a Contradição de sua Aplicabilidade

São dados os valores do Iluminismo nos três ideais da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade. Acredito que, dos três, o ideal da igualdade foi o mais deturpado; e essa distorção trouxe seriíssimos problemas, não apenas no plano intelectual como na plano prático. Ou alguém nega os milhões de mortes do socialismo?

Primeiramente, entendamos o contexto no qual a igualdade se elevou como valor no século XVIII. Para isso, devemos nos lembrar do iluminismo como oposição ao Antigo Regime. Nesse quadro, a defesa da igualdade não estava na defesa da igualdade material de todas as pessoas, mas sim na igualdade de direitos, opondo-se à antiga sociedade de privilégios. Assim, entende-se que entre a igualdade iluminista e o princípio de igualdade material do socialismo, uma distorção ocorreu.

É assim que chegamos na ilusão da igualdade. Originalmente, não se contemplava a idéia de que todos somos iguais, mas a de que nascemos com direitos iguais. No século XIX, essa idéia mudou, começou-se a crer na idéia de que todos somos iguais e, por causa disso em certa medida, todos merecemos materialmente as mesmas coisas.

Entretanto, contra esse raciocínio há um fato muito claro: as pessoas são diferentes. Existem homens e mulheres, pessoas com cabelo liso e ondulado, pessoas com talentos artísticos, esportivos e intelectuais. E isso é dado, tendo cada indivíduo de conviver e aproveitar suas características. Logo, é totalmente irracional qualquer indignação a afirmações do tipo “homens em média têm resultados melhores em áreas exatas do conhecimento” ou “mulheres têm em média melhor desempenho escolar”.

Além disso, tratar diferenças como aspectos negativos e esforçar-se para dirimi-las é falacioso. Sob o ponto de vista da eficiência econômica, por exemplo, a igualdade é péssima. Em um mundo onde todos têm a mesma produtividade, não existem incentivos a trocar ou a dividir trabalho*, atos que historicamente permitiram um aumento brutal na produção agregada da humanidade.

Por fim, é importante mostrar** como a igualdade de direitos e a igualdade material são objetivos contraditórios. Suponhamos que o Estado se incumba de igualar materialmente todos seus cidadãos. Para tanto, ele deverá tomar de alguns e repassar a outros. Percebe-se que nesse caso o “grande irmão” deixa de tratar todos seus cidadãos imparcial e igualitariamente. Ademais, é fácil de demonstrar que o poder político apenas eliminará as diferenças de poder econômico provocando diferenças ainda maiores no poder político.


* Gostaria de me alongar nesse ponto, acerca de vantagens comparativas e ganhos de troca, mas me limitei objetivando um texto mais conciso.
** F. A. Hayek discute essas questões de forma muito superior à minha n'O Caminho da Servidão. Recomento a leitura.

16 comentários:

Joel Pinheiro disse...

Belo texto, Luiz.
Só tenho a acrescentar que mesmo entre os iluministas, especialmente os franceses, já havia sim o sonho da igualdade socialista, e o ódio à propriedade privada.
Rousseau, por exemplo, considerava a instituição da propriedade privada como o início da sociedade corruptora do homem, que em seu estado natural era bom.

Foi o racionalismo dos iluministas que justificou o ataque sem precedentes à vida e à propriedade nas revoluções européias, a começar pela revolução francesa, um dos maiores crimes da humanidade.

Anônimo disse...

Excelente post, Luiz!!
Ahh se a comunidade jurídica (especialmente legisladores) tivesse a capacidade de entender essa visão tão simples e bela do mundo...Igualdade de oportunidades, não igualdade de resultados.

Anônimo disse...

Luiz felipe, tive que ler seu texto duas vezes para começar a escrever algo. Primeiro pq vc afirma que a igualdade defendida pela Revolução Francesa era restrita à igualdade de direitos. Se vc pesquisar de verdade o assunto, vai perceber que naquela época, assim como até hoje, existia um debate muito grande e várias divergências sobre o que seria igualdade, liberdade e fraternidade. Não pense que foi um movimento homogêneo onde todos os teóricos concordavam entre si, pq não é bem assim. Basta ler por exemplo o "Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens", de Rousseau, que alí vc verá de que tipo de liberdade ele estava se referindo.
No mais, não se pode negar as mortes provocadas pelo socialismo, assim como não se pode negar as milhares provocadas pelo imperialismo, pela miséria e exclusão social, pela invasão americana no Iraque, entre tantos outros eventos que se passa em nossa história. Achar que se pode fazer uma revolução sem mortes é ser utópico demais, ainda mais quando se enfrenta uma guerra mundial, uma guerra civil e sendo invadido por 12 países.
No mais, nunca houve um modelo para implantação do socialismo a ser seguido. Aquela foi uma tentativa. Que deu errado, mas que tbm teve muitos acertos e que muita gente não quer admitir. Aliás, é muito errado acreditar que o pensamento de esquerda defende igualdade de resultados e uniformizar toda uma sociedade. Puro preconceito. Quando na verdade tudo que se quer é igualdade de oportunidades, coisa que não existe numa sociedade como a nossa por exemplo.
Bom, eu acho que isso dá muito pano pra manga.... E já se foi época em que eu achava que valia a pena ficar debatendo isso. tô ficando velha... =D
Então eu recomendo o memso livro de sempre "Direita e Esquerda" de Norberto Bobbio, que é baratinho e fácil de ler.

Mas é curioso ver o joel dizendo que na Revolução Francesa se cometeu um dos maiores crimes cometidos na humanidade. Por acaso ele é monarquista? huashuas
Bjus

Joel Pinheiro disse...

Ah... igualdade de oportunidades. A princípio parece algo muito bom, mas no fundo não é nada mais do que uma variação da agenda socialista.

Ta aí, um bom tema para meu próximo artigo!

Luiz Felipe Amaral disse...

1) Eu não disse que a Revolução Francesa defendia uma igualdade "restrita à igualdade de direitos". Disse que os ideais da revolução francesa traduzem valores do iluminismo. E que esse marcava-se por oposição ao antigo regime e por aí vai... De forma alguma estou renegando Rousseau. Mas primeiramente, e esse é o fato importante, desejou-se a igualdade de direitos. A igualdade material, nesse contexto, é posterior.

2) Tampouco ignoro as "mortes do imperialismo". Mas sei que, mesmo sendo mortes e portanto condenáveis, tiveram circunstancias diferentes e ocorreram em número menor. São 100 milhões os mortos pelo socialismo no séc XX, e não estou falando de argumentos do tipo: ah o socialismo tirou riqueza da Sibéria e por isso os siberianos morreram. Estou falando de extermínio, Gulag, Estado matando prisioneiros políticos e Cristãos. Sabe? Bem parecido com a Terror na Revolução Francesa.

3) Sobre as tentativas de se implantar o socialismo. "É humanamente burro insistir em aprender com a experiência própria, quando fomos dotados de raciocínio lógico justamente para poder reduzir a quantidade de experiência necessária ao aprendizado." (Olavo de Carvalho)

Anônimo disse...

Antes do socialismo surgir comoteoria científica já se falaa em igualdade de oportunidades.

Uma coisa que poderiam discutir aqui é algo sobre relações de similitude. Foucault falava muito disso e tá bem didático (Foucault didático?) no livro "Isto não é um cachimbo". Muitas pessoas tem mania de classificar as coisas só pq reune certas características ou se assemelham a algo.
Isso é errado...

Joel, deixei recado no seu orkut. =D

Anônimo disse...

1 - A forma como vc colocou o ideal de igualdade expresso pela revolução franecsa deu a entender sim que se limitava á igualdade de direitos.

2 - Existem números oficiais? baseados em quê? Foram registrados em algum lugar? Pura falácia..
pode ter sido mais.. pode ter sido menos... Mas 100 milhões é muita, muita, muita coisa!!!
É que nem falar no extermínio de índios na época da conquista da américa, de negros na partilha da áfrica, de africanos exportados pro brasil como escravos, de judeus mortos na 2GM...
Tudo especulação, que pode variar de acordo com os interesses e posição política de quem fala.

3 - Existem anticomunistas melhores e mais inteligetes do que o Olavo. Esse cara afirma que a O FMI e o Nazismo são de esquerda! Não merece ser levado a sério...

Joel Pinheiro disse...

Hah, outro bom tema para artigo: Nacional Socialismo É Socialismo!

Anônimo disse...

Não é iluminista, mas a lógica aristotélica sobre relações entre desiguais é muito interessante e dá o que pensar.
Numa olhada rápida no google achei um artiguinho que nem é muito bom, mas ajuda a pensar.
Pq tratar igualmente os desiguais, na verdade vc está perpetuando a desigualdade. Logo, a intervenção do estado nas relações não é para assegurar igualdade de resultados, mas de oportunidades, o que não acontece.
Dai por diante a gente pode pensar muita coisa, que eu nem sempre concordo, pq são políticas paliativas, que não resolvem o problema, como cotas por exemplo..
e blá blá blá

Anônimo disse...

putz, esquecí de postar o link! o.O
Aí vai: http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/default.asp?action=doutrina&iddoutrina=1120

Luiz Felipe Amaral disse...

Façamos como Jack...

1) NO CONTEXTO do iluminismo a igualdade apareceu antes como oposição à sociedade de privilégios do que igualdade material. NO CONTEXTO. Não posso escrever aqui sobre todas as idéias que apareceram no mundo. Simplestmente porque não as conheço. Mas sobre aquilo que sei eu posso, como no caso o fiz.

2) E existem por acaso números oficiais sobre as mortes do imperialismo? Não. Mas os números sobre o socialismo são certamente de maior credibilidade. São porque não são "mortes indiretas" e sim execuções. São porque podem averiguar-se por exemplo nos arquivos de Moscou.

3) Nazismo = Socialismo, a princípio seria contra escrever aqui sobre isso, mas estou paulatinamente me convencendo que esse blog deve tratar de obviedades.

4) E por acaso se eu tirasse (Olavo de Caravalho) do fim da frase ela teria sentido mais ou menos acurado? Esse seu argumento tem nome e é a falácia ad hominem. Aceito muito bem disordâncias, mas desonestidade intelectual me deixa, além de bravo, triste.

5) Ainda sobre a revolução francesa e seus ideais e o iluminismo e tudo mais. Leia o texto pela terceira vez e perceba que o que afirma não é correto. Se ainda assim acreditar que estou me referindo à revolução, eu posso quando tiver tempo fazer a análise sintática do primeiro parágrafo.

6) É, por fim, sintomático observar que a discussão aqui presente ignora completamente o cerne do texto.

Anônimo disse...

Sonja,

Sobre seu penúltimo comentário, talvez fosse interessante mesmo parar de pensar em "muita coisa", especialmente quando essa expressão se refere às muitas coisas que o Estado pode fazer para intervir na sociedade.

O estado intervindo para "garantir" igualdade de oportunidades soa (e é)tão ineficaz quanto o Estado intervindo para "garantir" qualquer outra coisa que não sejam as básicas e indispensáveis intituições de um estado democrático de direito.

Já passou da hora de aprendermos que o "paizão" não vai resolver nossos problemas por nós, até porque é cego, surdo, manco e falho.

Pessoal, esse blog mereceria uma sala de discussões...

Anônimo disse...

Oi Luiz Felipe, estive revendo o que escreví, concordo com parte do que vc escreveu sobre liberdade de direitos e blá blá blá, mas é curioso como o Joel, também fez questão de ressaltar o memso que eu observei! Será que nós dois que nem nos conhecemos e nem concordamos muito temos o mesmo problema de interpretação?
E estava só me referindo ao fato de que o ideal de igualdade da revolução francesa não se restringia tão e somente ao aspecto jurídico e vc foi bem claro na seguinte frase "a defesa da igualdade não estava na defesa da igualdade material de todas as pessoas, mas sim na igualdade de direitos". E sinto muito em lhe dizer, mas vc errou ao negar a defesa da igualdade material pois esta existiu sim!

2 - Vc indiretamente afirma que nazismo = socialimo pode ser uma obviedade e a desonestidade intelectual é minha? Claro que se a frase do Olavo viesse de outra pessoa não mudaria o sentido. Eu só acho que as pessoas que escrevem aqui tem referencias melhores! Eu só achava que alguém que escreve tão bem poderia citar alguém de maior credibilidade! Não fiz por mal ou por desonestidade, mas por esperar mais disso aqui!

A discussão está fungindo do cerne só pq eu não concordo com parte do que vc escreveu? Eu sinto muito, mas não retiro o que disse.

E se o número de 100 milhões é tão merecedor de créditos, então aponte de que lugar vc o tirou! Onde estão as estatísticas? Se é algo tão óbvio, deve estar registrado em algum lugar. Certo?Pq antes de postar aqui eu procurei e até postei um tópico num fórum perguntando para saber se esse número existe mesmo e estou aguardando alguém me responder, pq ate eu to querendo saber!

Ana, se o Estado é tão ineficaz, não resolve problemas, é surdo, cego e manco, o melhor seria ele deixar de existir, non? Até para isso o Comunismo e o Anarquismo tem propostas muito interessantes, embora eu não consiga visualizar a possibilidade disso acontecer!

Um abraço!

Anônimo disse...

Bom, os links dos lugares onde postei a pergunta estão aqui para que todos possam acompanhar alguma resposta que possa aparecer:

http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=10878523&tid=2466317424925409436&start=1

http://comunismo.com.br/forum/viewtopic.php?t=1094

Anônimo disse...

De jeito nenhum, Sonja!

Isso (ausência de Estado, ou anarquia, como queira) não decorre absolutamente do que eu disse.

O Estado é, como já muitíssimo falado por ai, um mal necessário.

Mas, é imperioso que ele fique restrito ao indispensável.
Abs.,

Luiz Felipe Amaral disse...

Depois eu respondo ao resto. Perdão pelo erro no entrada acima.

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