terça-feira, maio 09, 2006

Apresentação

Uma pequenina embarcação, tendo passado dias à deriva, avista ao longe um continente, terra sólida na qual os navegantes podem desembarcar. “Terra à vista!”, grita um tripulante do alto do mastro. Todos no pequeno barco podem respirar aliviados, pois os dias de incerteza e sofrimento que passaram perdidos e sem rumo em alto-mar estão próximos do fim.

Cenas como essa já não fazem parte de nossos tempos. Pertencem exclusivamente às páginas dos livros de história e aos romances de aventura. No entanto, nunca o encontro com a terra firme se fez tão necessário e urgente à humanidade. Não falo aqui, obviamente, da terra firme literal, aquela em que pisamos todos os dias e sem a qual nossa própria sobrevivência seria impossível; essa, malgrado as previsões dos ambientalistas, ainda não foi inundada e perdida pelo derretimento das calotas polares. A terra que falta à humanidade não é aquela na qual firmamos nossos pés, mas sim aquela na qual sustentamos nossas mentes; é a solidez e segurança da possessão da verdade, sem a qual é impossível pensar e agir corretamente; sem a qual podemos sobreviver como animais, mas nunca viver como homens.

Qualquer pensamento que tenhamos, qualquer idéia ou linha de raciocínio que viermos a desenvolver parte necessariamente de crenças ou princípios que julgamos serem verdadeiros. Da mesma forma, todas as nossas ações se baseiam em um ordenamento interno de valores que possuímos, e da avaliação das circunstâncias nas quais a ação se dará. É impossível ter qualquer pensamento sem se admitir alguma verdade (e assim negar algo que é falso) e é impossível agir bem sem se admitir uma hierarquia de valores (e assim rejeitar hierarquias inferiores). Mas o homem moderno nega a existência da verdade, e a superioridade de qualquer sistema ético, e ainda assim insiste em pensar e agir.

É muito comum ouvir quem, do alto de sua sabedoria, declare que “a verdade não existe” e que “não há certo e errado”. Essa pessoa já deixou há muito a terra firme e agora se afoga no oceano do relativismo, onde vale tudo (afinal de contas, rejeitar algo significa afirmar a existência da verdade) e nada tem valor. Autocontradições, falácias, sofismas e slogans tomaram o lugar do pensamento verdadeiro. Ao invés da terra firme na qual se pode pisar e construir, mas na qual corre-se o risco de tropeçar ou ver uma construção ruir, preferiu-se a imensidão do mar, na qual é impossível sequer ficar de pé ou sustentar uma pedra que seja, e na qual o afogamento é a conseqüência final e inescapável. Em sua ânsia de não recusar nada e de nada impor, o homem moderno recusou a tudo e impôs a si mesmo o mais terrível dos fardos: a eternidade da autocontradição.

Não espanta constatar que, tendo já negado a possibilidade da verdade, tenha o homem abandonado também os princípios que devem reger sua ação. Falar de moral absoluta é, para as contraditórias mentes modernas, uma imoralidade absoluta. Toda moral, toda ética, defendem, é relativa. A conseqüência dessa doutrina é óbvia: se não há moral absoluta, então toda ação é lícita. Da degeneração do pensamento seguiu-se a degeneração das ações. O oceano do relativismo no qual tantos se jogam não é sequer um mar azul e saudável; é sujo, poluído e corrupto, infectado de todo tipo de doença. Nele perde-se não somente o pensamento mas também a integridade; não só o conhecimento, mas também a alma.

Mas não há motivo para desespero. Por mais que a maré do relativismo suba, algo da terra firme sempre continuará acima da superfície. Pois a verdade tem essa vantagem: ainda que os erros sejam múltiplos e a ataquem por todos os lados, ainda que sejam mais populares e dominem a mente de muitos, a verdade é irrefutável; não importa a força da mentira, ela é incapaz de transformar o verdadeiro em falso. É com essa certeza que nós, jovens estudantes, iniciamos este blog. A luta é longa e muito além de nossas capacidades; mas a solidez da verdade nos garante que, ainda que pouco a pouco, a vitória última é certa. Deste nosso pequeno barquinho virtual, esperamos ajudar quem por ventura nos leia a sair dos erros e vícios, do mar de lama que é a mentalidade relativista contemporânea, e navegar aos poucos até o porto seguro da verdade e da virtude.

No início de 2005, o atual papa Bento XVI (na época cardeal Ratzinger) afirmou que vivemos sob uma “ditadura do relativismo”; convocamos nossos leitores a fugir dessa opressiva tirania, dessa ditadura sanguinária e desumana, e embarcar rumo à liberdade e segurança da verdade absoluta.

“Terra à vista!” – respiremos aliviados; o percurso ainda é longo, mas a chegada é garantida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, Joel, lindo texto!
Do conteúdo (que endosso - quase -integralmente) à construção das frases.
A metáfora central que dá nome ao blog é genial.