Também eu vou falar sobre o racismo; mas nada de cotas neste blog. Se já sou contra leis que proíbam empresas de discriminar por cor na hora de contratar, o que dizer de leis que ditem a cor a ser contratada? É o debate mais amplo do racismo que me interessa; mesmo porque acho que ele está, ironicamente, repleto de preconceitos.
Há algo, chamado “racismo”, que todos, inclusive eu, concordam ser condenável. Uma definição dele que considero muito boa é “ódio racial”; racismo é odiar (isto é, querer o mal de) alguém por sua cor de pele, tipo de cabelo, formato dos olhos, etc, ou então por traços culturais de sua etnia. É algo desprezível deixar que um traço totalmente acidental da pessoa, que em nada muda sua essência humana, nos faça tratá-la de forma sub-humana. E não há dúvida de que isso exista no Brasil de várias formas, embora eu, branco, não o sinta na pele.
Contudo, o termo “racismo” é usado de forma muito mais abrangente, o que é prejudicial na luta contra ele. Qualquer afirmação que faça referência à cor de pele já é suspeita de racismo. Afirmar que as diferentes raças (ou sub-raças, ou o nome que se preferir) possam ter diferenças de aptidão é proibido. Apontar diferenças de comportamento é também muito mal-recebido. A situação é tal que um branco já não pode sequer se referir a alguém como negro sem criar um certo constrangimento.
Uma coisa é ódio racial; outra, é atribuição de diferenças. Essa pode ser conseqüência daquele; é o caso, por exemplo, de alguém que, por nutrir ódio contra uma raça, apóie pesquisas que mostrem essa raça como menos inteligente. Mas nem todos são assim; uma pessoa pode legitimamente crer que uma raça seja menos inteligente (crença que pode ser verdadeira ou falsa) sem por isso ser culpada de racismo (ódio racial). O mesmo vale para juízos muito mais prosaicos: ao se ver um jovem japonês, crer que ele é dos melhores alunos da sala. Claro que a crença pode estar certa ou errada com relação ao indivíduo em questão; mas em geral os japoneses são de fato bons alunos, e portanto o juízo discriminatório tem razão de ser. E quem apostaria no branco numa luta de boxe?
Que isso não leve ninguém a fazer juízos sérios sobre o caráter de outro com base apenas em freqüências estatísticas. Mas quando nada sabemos ou podemos saber sobre o indivíduo, ignorar a experiência passada e acumulada é simplesmente tolo.
Outra coisa que não é racismo é considerar mais bonitas pessoas dessa ou daquela raça. Não há nada de errado com o fato de uma pessoa preferir aquelas com cuja aparência e jeito de ser já está mais habituado pelo convívio; pelo contrário, é perfeitamente normal, e não motivo de vergonha ou que exija mil explicações. E são dessas percepções de diferença que surge o humor, uma das formas que os homens conhecem de lidar com o que é diferente e torná-lo familiar. Embora possa ser excessivo ou mal-utilizado, não é, em si, condenável; e se a luta contra o racismo nos obriga a obliterar o senso de humor, há algo de errado nessa concepção de racismo.
Grande parte da luta do movimento anti-racista, cuja motivação inicial é boa, é gasta com iniciativas tolas: impedir que se discrimine o que é de fato diferente. Pois é claro que existem diversas diferenças entre as raças: jeito de ser, temperamentos, aptidões físicas e intelectuais, etc. Ao se impedir que elas sejam publicamente expressas, sem constrangimento e sem ódio, mata-se as possibilidades de convivência harmônica. Sem abertura, liberdade e senso de humor não se acabará com o verdadeiro racismo; antes, ele aumentará, escondido por detrás de relações cada vez mais rígidas e de divisões cada vez mais profundas.