sábado, outubro 28, 2006

Não Existe Almoço Grátis

“There’s no such thing as a free lunch” - diz um popular ditado da língua inglesa, muito caro às ciências econômicas. Em português, “não existe almoço grátis”. A lição que ele ensina, embora muito simples, é comumente ignorada. Antes de se explicitá-la, no entanto, é preciso distinguir entre duas possíveis interpretações, uma superficial e outra mais profunda.

A primeira, superficial e até errada em muitos casos, é aquela que lê no ditado a afirmação de que toda a humanidade é interesseira e egoísta. “Não existe almoço grátis”, ou seja, se você acha que alguém lhe dá algo de graça, engana-se; por trás de todo presente dado existem segundas intenções e desejos velados. Se ganhamos algo hoje, é porque seremos cobrados amanhã.

Nem toda aparente boa ação é desinteressada; isso ninguém nega. Mas também existem aquelas feitas por bondade e amor, sem nada exigir. É digna de pena a opinião segundo a qual o homem é puramente egoísta, muito embora o egoísmo seja uma realidade evidente da existência humana. Assim, o ditado é um lembrete de que as aparências de boa fé e honestidade podem nos enganar. Entretanto, uma interpretação mais profunda existe.

Uma interpretação mais profunda, ainda que mais simples. “Não existe almoço grátis”; isso não quer dizer que quem recebeu o almoço terá que pagar por ele de alguma forma. Mas se não for quem comeu, será outra pessoa. Todo almoço é pago por alguém. Muitas vezes ganhamos algum benefício, algo que ajuda a melhorar nossa vida, e não arcamos integralmente com seu custo. Como a riqueza não sai do nada, se não fomos nós que pagamos, foi alguma outra pessoa. Num almoço entre amigos, se um deles comeu mais do que pagou, é porque outro pagou mais do que comeu.

Na política essa simples verdade é esquecida. Parte da população quer um serviço, e não quer pagar por ele; quem pagará? O governo! Mas o que isso significa? Significa que a outra parte da população pagará pelo serviço por meio de impostos. Seria essa uma situação equivalente ao almoço entre amigos? De forma nenhuma: entre os amigos, aquele que pagou a mais o fez voluntariamente, por amizade, e ao fim da refeição todos estavam mais felizes do que antes. Já no caso do governo ocorreu o exato oposto: quem pagou a mais do que recebeu foi obrigado, sob ameaça de violência física, a fazê-lo; imposto é o contrário de contribuição voluntária; o serviço provido pelo Estado é a negação da ação caridosa.

O governo não gera, nem poderia gerar, riqueza nenhuma; apenas tira-a de uns para dá-la a outros (perdendo uma parte dela no processo). Esperamos que ele arque com o custo de escolas, faculdades, ruas, hospitais, novas empresas, filmes. Assim, aceitamos implicitamente que pessoas sejam forçadas a pagar por coisas das quais não poderão usufruir. “Não existe almoço grátis”; se você não estiver pagando, pode ter uma certeza: alguma outra pessoa está.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Nossa Precária Previdência

Devido à extensão do tema, focarei o texto na descrição do problema da Previdência no Brasil e buscarei responder as seguintes questões: por que economistas, frequentemente, se preocupam em discutir o tema; e por que o Governo continua seguindo uma política insustentável que está levando o país ao fracasso?

Das despesas federais de 2005, cerca de R$ 360 bilhões, 89% são protegidas por leis e pela Constituição. Destes "gastos blindados", 75% são despesas obrigatórias e crescentes: pessoal ativo (R$ 50 bilhões, tendo aumentado 85% em termos reais nos últimos 18 anos), inativos e pensionistas (R$ 43 bilhões, 310%), benefícios assistenciais e subsidiados (R$ 76 bilhões, 1362%) e previdência (R$ 96 bilhões, com elevação de 342%). Os 11% restantes, normalmente alvos de cortes, são destinados a gastos correntes (custeio da máquina) e investimentos em infra-estrutura (atualmente 0,5% do PIB)!

Estas informações seriam suficientes como uma resposta para a primeira pergunta. Um Estado muito grande e os impactos decorrentes de um leviatã desenfreado nas instituições já fariam economistas perderem o sono. Creio, porém, que a menção da questão fiscal seja muito importante e deva ser feita. Uma elevação da dívida pública em relação ao PIB ocasionaria um aumento da taxa de juros, impossibilitaria uma diminuição da carga tributária (atualmente próxima a 40% do PIB), desincentivando a produção e o investimento. O caminho lógico a ser seguido para a melhora da situação fiscal brasileira seria o congruente à solução da questão dos gastos assistencialistas, especialmente os referentes à previdência, que crescem a taxas elevadas.

Para o contato com uma das propostas de soluções factíveis deste problema recomendo a leitura da sugestão de reforma para a Previdência elaborada por Paulo Levy e Fábio Giambiagi, ambos do Ipea. Com medidas simples, propuseram mudanças que beneficiariam o sistema: desvinculação entre o piso previdenciário e o salário mínimo, correção das aposentadorias apenas por um determinado índice de preços (evitando aumentos reais) e aumento gradual da idade mínima são algumas delas.

Detalhes da precariedade do sistema previdenciário também são abordados por economistas, como o dilema da informalidade e o do aumento da expectativa de vida dos beneficiários (enquanto a idade média dos que se aposentam por tempo de contribuição é 55 anos...) que agravam o problema. O nível dos gastos com previdência é, como mostrou Claudio Haddad (Valor, 5 de outubro de 2006), elevadíssimo e desproporcional se relacionado ao tamanho da população de inativos (6% da população brasileira, por exemplo, tem mais de 65 anos). Isto é, não apenas o déficit e o aumento dos gastos com assistência são preocupantes, como também encontramo-nos numa situação, referente ao nível dos gastos, anômala. Cerca de 13% do PIB deste ano será destinado à seguridade social. De acordo com a estimativa da OCDE, este gasto deveria estar entre 3,5 e 6,5%! A investigação das causas e dos efeitos desta distorção também são relevantes e estudadas.

A explicação da manutenção da estratégia perdedora está relacionada às dificuldades de se aprovar uma reforma previdenciária. Estas complicações podem ser entendidas através da compreensão de que os custos de tais mudanças seriam observados e sentidos diretamente pela população e os benefícios seriam perceptíveis apenas a longo prazo. A pesquisa Ipespe/Valor (início de setembro) mostrou que a grande maioria dos brasileiros rejeita novas mudanças nas regras das aposentadorias. O imediatismo brasileiro faz com que a solução se distancie. Intervir nesta questão de estado de bem-estar resultaria num processo de degradação (obviamente injusta) da imagem e força do partido no poder. Como nenhum candidato à presidência parece ter capital político suficiente para tratar esta questão em uma profundidade desejável, o Brasil provavelmente continuará cometendo seu "suicídio a conta-gotas".

sexta-feira, outubro 20, 2006

Intervenção estatal nos preços, um erro grotesco

Um erro comum que costuma acometer muitas pessoas é o de achar que o governo deve intervir no preço de alguns produtos. Seja por pensarem que eles são tão essenciais que devem ser mais baratos e, à primeira vista, mais acessíveis a todos, seja por pensarem ser injusto as empresas cobrarem o “quanto querem” por eles. Mas, isso não passa de algo extremamente maléfico para a economia e apenas mais uma daquelas situações aonde o governo mostra sua face de “anti-Midas”.

Imagine um produto considerado muito importante para a subsistência de um brasileiro médio, digamos, o arroz. A primeira vista, pode parecer ótimo para os cidadãos mais pobres que o governo estabeleça um preço máximo para a comercialização do arroz, de modo que os mesmos possam consumir mais do produto.

A intenção pode até ser das melhores, porém uma análise mais cuidadosa mostra que o que ocorrerá, de fato, só prejudicará essas pessoas que deveriam ser beneficiadas. Com o estabelecimento de um preço máximo, abaixo daquele preço potencial de livre mercado, o governo estará permitindo que pessoas que antes não teriam acesso ao arroz, passem a demandá-lo de maneira efetiva, ou seja, há um acréscimo na demanda. Porém, ao mesmo tempo em que isso ocorre, aqueles produtores que são menos eficientes e possuem custos de produção mais altos passam a incorrer em prejuízos, pois sua operação lhes era lucrativa apenas no preço que vigorava anteriormente. E mesmo os produtores mais eficientes, com essa queda forçada no preço de seu produto, terão de produzir uma menor quantidade.

Portanto, o resultado líquido final, será uma queda considerável na produção total de arroz. Antes, o arroz era mais caro, porém havia uma maior abundância do produto na economia e mais gente podia consumi-lo. Agora, apesar de estar com o preço menor e, desse modo, mais acessível para as camadas mais carentes, há uma quantidade menor de arroz sendo ofertada e menos pessoas tem acesso a ele.

Além disso, situações como essa, de alta demanda e baixa oferta, resultado direto de uma ação governamental atrapalhada, costumam representar um forte incentivo para a criação de mercados paralelos. Ou seja, produtores passarão a guardar uma parte da sua produção para vender de maneira ilegal, a preços mais altos, satisfazendo aqueles dispostos a pagar mais pelo arroz e que não estavam sendo atendidos devido à falta do produto no mercado. E, se o governo quiser fazer valer sua lei e coibir essa prática, terá que ser gasta uma quantia maior em fiscalização, o que resultará em maiores gastos governamentais e, conseqüentemente, maiores impostos sobre a população.

Assim, podemos concluir que ao tentar usar seu poder e intervir no mercado, mesmo buscando melhorar a vida de alguns, o governo apenas conseguirá piorar a vida de todos, sendo os grandes prejudicados aqueles que o governo visava ajudar, pois terão ainda mais dificuldade em conseguir comprar os produtos que sofreram a intervenção. Ademais, se o tamanho do erro não for percebido rapidamente, visando diminuir os custos da produção de arroz, o governo pode decidir estabelecer um preço máximo para os insumos que são utilizados em sua produção, depois nos insumos dos insumos, e assim por diante, interferindo cada vez mais na economia e tornando-a menos eficiente.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Questões Sobre Política Educacional

A educação é uma variável de fundamental importância para o crescimento econômico no longo-prazo. Ela permite aumentar a produtividade dos trabalhadores, produzindo mais bens e serviços com quantidades de recursos menores. Contudo, é inegável que o nível educacional tanto dos países desenvolvidos quanto dos países em desenvolvimento está abaixo do nível ótimo, fato evidenciado pelo grande número de pessoas com educação menor do que desejam. Este texto busca, a partir dessa premissa discutir o papel do Estado na educação.

São dois os motivos pelo quais a educação não ocorre em seu nível ótimo na sociedade. O primeiro deles é o fato de que a educação é uma externalidade positiva. Uma externalidade positiva ocorre quando o agente que arca com os custos de um bem ou serviço não é o único a receber seus benefícios, ocorrendo falta de demanda por esse bem ou serviço. Uma pessoa mais educada é uma externalidade positiva no sentido que a sua educação não beneficia unicamente essa pessoa: sua educação pode significar um voto mais consciente ou uma melhor probabilidade de descobertas tecnológicas, eventos que beneficiam a sociedade como um todo.

O segundo motivo a ser discutido se deve a problemas no mercado de crédito. Por mais que, muito provavelmente, um indivíduo mais educado tenha sua renda aumentada, dificilmente ele conseguirá um empréstimo bancário para arcar com os custos de sua escola ou faculdade. Uma possível explicação para isso pode ser o fato de que o financiamento da educação, ao contrário do financiamento de um carro ou de um imóvel, não tem um bem a ser usado facilmente como garantia.

Os dois parágrafos acima podem ser usados como argumentos para justificar algum tipo de intervenção estatal no mercado de educação. Outro argumento é o fato de que pode ser desejável por si só uma sociedade onde todos sejam educados. O que a possível necessidade de intervenção estatal na educação não justifica, contudo, é a provisão pública de serviços educacionais (escolas e universidades controladas pelo Estado).

Serviços públicos carecem de incentivos para se aprimorar e por isso são normalmente de qualidade inferior aos do setor privado. Tal situação não é diferente na questão educacional. Uma alternativa seria a distribuição de vales educação (vouchers) para as parcelas da população sem renda suficiente para adquirir serviços educacionais. Tais vales poderiam ser usados em quaisquer escolas, promovendo a concorrência entre estas últimas e, conseqüentemente, uma melhoria na qualidade da educação. Em um contexto assim é bem provável que o Estado consiga um resultado melhor, dado o que gasta com educação, de que na oferta destes serviços.
Outra vantagem do sistema de vouchers é dar a escolha aos responsáveis pelos alunos sobre qual deverá ser sua escola, promovendo maior liberdade. Enfim, a questão educacional é, sem dúvida, extremamente importante, e muitas mudanças podem ser feitas.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Falta de Demanda Gera Pobreza? Não!

Sociedade pobre. Desemprego, fome, prédios abandonados, educação baixa, degradação social e moral, pessimismo, falta de perspectivas. Graves problemas, todos esses, e todos ligados à economia. Perguntemos, então, a um economista representativo de sua profissão, qual o diagnóstico e a receita dele para esses males. “Ora, é-me óbvia a causa de toda essa pobreza: a população vive uma vida muito austera, consome muito pouco! Como é possível que uma firma de sucesso se estabeleça se ninguém consome seus produtos? Se consumirem mais, gerarão empregos, que por sua vez gerarão mais renda, e assim mais empregos, num círculo virtuoso com direção à riqueza! Lembre-se: cada centavo extra que é gasto gera mais riqueza, e cada centavo poupado é um emprego tirado de um trabalhador”.

A profissão na qual pretendo em breve ingressar padece de sérias deficiências! A visão exposta acima, apesar de completamente errada, é partilhada por muitos economistas. O erro dela se baseia numa simples inversão de papéis: mais consumo gera riqueza, afirmam. O correto seria “mais riqueza propicia consumo maior”. Se eu torrasse, em um dia, toda a poupança da minha família, viveria como um príncipe durante esse dia; mas estaria mais rico? De jeito nenhum; eu empobreceria. E o que é a poupança? Poupança é aquilo que foi produzido mas não foi consumido (ao invés de guardarmos diretamente nossos produtos, guardamos aquilo que aceitamos em troca deles: o dinheiro, que dá no mesmo). Da mesma forma, um país que consuma tudo aquilo que ele produz e ainda o que havia poupado não fica mais rico, e sim mais pobre.

A pobreza nunca se deve à falta de demanda. Não é por falta de mercado consumidor que uma sociedade é pobre. Enquanto alguém tiver necessidades e desejos não satisfeitos, não há falta de demanda. E se todo mundo tiver todos os seus desejos já satisfeitos, então não há pobreza nenhuma: todas as pessoas já têm tudo aquilo que querem; nada lhes falta. O entrave ao crescimento e a causa da pobreza é a falta de oferta: é a incapacidade de se produzir mais do que se produz atualmente.

A poupança e o comedimento, tão mal-vistos por economistas de certa linha de pensamento, são essenciais para o crescimento econômico. Sem poupança, todo mundo tem que viver sempre produzindo diretamente aquilo que consome. Com alguma poupança, é possível sustentar pessoas que trabalhem em projetos de longo prazo.

Numa tribo indígena na qual não exista poupança, na qual se consome instantaneamente tudo o que se caça, todos os homens têm que sempre estar caçando para matar a fome; se um não caçar, falta comida. Mas se eles conseguirem poupar um pouco do alimento, então alguns índios poderão não ir à caçada e se dedicar à produção de armadilhas e armas, que permitirão, no futuro, a captura de um maior número de animais. Durante o tempo da produção desses utensílios, eles são sustentados pelo alimento que foi poupado. É assim, por meio da poupança e do uso dela para produzir coisas de valor, que sairão da pobreza.

Não é por falta de vontade de consumir que há pobres. Não existe excesso de poupança. Ao contrário, é o excesso de consumo e de imediatismo, é a incapacidade de poupar, que contribui para que tantas sociedades permaneçam na mais abjeta pobreza. Para quem não estuda economia, essa conclusão deve parecer óbvia; mas os economistas têm que lutar muito para se acostumar com ela.

domingo, outubro 08, 2006

Por que 46.662.365 votaram no Lula?

Como explicar os votos confiados ao Lula, dada a conjuntura política brasileira, na qual as promessas e os planos dos partidos que concorrem ao Governo Central praticamente coincidem (pelo menos nas áreas que mais interessam a maioia do eleitorado) e casos de corrupção envolvendo muitos dos dirigentes do Partido dos Trabalhadores surgem com uma frequência vergonhosa? Para entender a razão destes votos busquei separar os eleitores petistas em poucos grupos para que conseguisse analisar suas motivações de uma forma mais precisa. Com esse esforço cheguei aos seguintes grupos que apoiam a releição de Lula: o dos "iludidos" e o dos "desiludidos" (como veremos a seguir, a falta de informação é a principal responsável pela formação destes grupos). Certamente existe um terceiro grupo formado pelos que se beneficiariam diretamente de uma nova gestão petista, os membros do partido e as pessoas próximas a eles. Porém, como somam uma parcela ínfima da população e como quaisquer argumentos direcionados a eles (para que considerassem o voto na oposição) seriam inúteis, focarei apenas nos dois grupos citados a cima.

Começarei a análise pelo grupo dos "iludidos", que se segmenta em dois subgrupos. O primeiro deles é o dos "sonhadores", composto por uma pseudo-elite intelectual e por militantes mais radicais que apenas não votaram na então candidata Heloísa Helena porque sabiam que seriam votos a menos em Lula e, consequentemente, chances a mais do Alckmin levar a eleição para o segundo turno. As explicações mais comuns, deste sub-grupo, para seus votos são as de que o PT é o único partido com potencial para realizar uma revolução (uma transformação radical em nosso país) ou é o que mais dá importância para parte social. Normalmente não votam no PSDB porque não aprovaram suas gestões e o consideram um partido neo-liberal, formado por capitalistas e que ainda vendeu parte de nosso para os estrangeiros. Digo que estão equivocados ou sendo incoerentes. Por quê? Este sub-grupo é marcado pela imaturidade de pensamento e uma fidelidade as idéais de esquerda que já se provaram fracassadas até na prática. Defendem uma sociedade planejada pelo Estado, igualitária, justa, que promova o crescimento econômico e priorize a ética. Pensam nos fins (que na verdade são conflituosos), mas não nos meios. Para que uma economia seja controlada de uma forma centralizada toda a liberdade individual e o direito à propriedade, incentivos-base para o trabalho, seriam abdicados.

Considero-os desinformados, também, porque acreditam que a solução para quase tudo é vontade política e não conseguem entender que todas as decisões e ações de um governo afetam uma sensível relação de equilíbrios causando distorções e prejudicando a alocoção eficiente, e desejada pelos indivíduos, dos recursos, afetando assim o crescimento econômico sustentável. Por fim, poucos deles enxergam que o PSDB também é um partido de esquerda. Grande parte dos projetos sociais do governo Lula teve início com FHC. Metade do dinheiro conseguido com as privatizações foi destinado a projetos sociais, que este sub-grupo do eleitorado do Lula tanto prezam, enquanto poderia ter sido utilizado para pagar as dívidas do Estado (destino da outra metade do dinheiro), reduzindo os juros, o risco-país, a taxa de juros e atraindo investimentos... Resumindo, estão errados ao defenderem o socialismo, iludem-se ao pensar que o PT realizará mais investimentos nas áreas sociais do que o PSDB e se esquecem das falcatruas do Governo petista, que elevou a corrupção a um nível inédito no país.

O segundo dos subgrupos dos "iludidos" é constituído pelos "comprados" que viram suas rendas reais subirem nos últimos meses com a apreciação do real, a queda dos preços dos alimentos, pelos que se contentaram com o crescimento artificial resultante de uma política monetária expansionista (parte de um ciclo stop-and-go) e, principalmente, pelos beneficiados pelo Bolsa Família. O problema central deste sub-grupo é a falta de informações relacionadas à insustentabilidade das políticas que trouxeram estes aumentos de renda e à nocividade de políticas assistencialistas para a formação de uma sociedade. Os preços dos alimentos não caíram graças ao PT e provavelmente voltarão a subir, o real se desvalorizará, o crescimento alcançado com a redução da taxa de juros via o aumento na taxa de emissão monetária perderá cada vez mais seu efeito (com os agentes refazendo suas expectativas) trazendo apenas inflação e, em algum momento, não haverá como pagar o Bolsa Família para todos... O que o Governo de Alckmin fará em relação a esta situação? Dada a insustentabilidade apresentada buscará fontes de crescimento alternativas, mas certamente continuará com o programa Bolsa Família! O PSDB não planeja se suicidar politicamente, o que injustifica a insegurança dos "comprados" e a recusa de votarem no PSDB.

O grupo dos "desiludidos" é o formado da maneira mais curiosa. Fazem parte do grupo os que a ciência política chama de "conservadores", que optam, ou simplismente dão um peso maior, pela a escolha do conhecido, o candidato mais familiar e normalmente o que está no poder. Esse tipo de escolha pode ser fruto da satisfação com a situação atual e preferência pela manutenção do status quo (são aversos ao risco), ou então, da indiferença (os políticos seriam essencialmente o mesmo tipo de ser, interessado apenas na obtenção do poder para usufruto próprio).

É importante que os integrantes do grupo dos "desiludidos", e todos os demais, entendam que, como vimos à cima, todos os "pontos positivos" que atualmente os eleitores do Lula destacam do Governo petista, como o Bolsa Família, serão mantidos pelo PSDB e que, se o Lula for re-eleito, os brasileiros estarão consentindo com toda a corrupção que foi exposta e estarão incentivando esta forma de condução política.

quinta-feira, outubro 05, 2006

A diferença entre Geraldo e Lula

Muitas pessoas, ao saberem que votarei no Geraldo, me perguntam se eu realmente acho que existe um abismo de diferenças entre os dois. Como aprendiz de economista que sou, respondo que depende.

E de fato, depende. Depende de qual área estamos falando. Se tomarmos como base os governos FHC e o governo Lula, veremos que, no âmbito econômico, os dois se assemelham muito. Ambos beberam da mesma fonte no que diz respeito à política econômica adotada, empurrando com a barriga as reformas que de fato fariam o país entrar em uma rota de crescimento sustentável.

Acredito que, caso eleito, Geraldo e seu governo apresentarão uma melhor capacidade administrativa, darão alguns passos importantes e até realizarão algumas reformas menores e, certamente, alcançarão níveis de crescimento superiores aos que vem sendo observados. Mas não acredito que vá ser o Geraldo que dará um “jeito” no país. Creio que nossa economia necessite de muito mais do que um “choque de gestão” para poder crescer. São necessárias reformas importantes como a previdenciária, a trabalhista, a tributária entre tantas outras. E acho que assim como Lula, o candidato tucano não conseguirá angariar capital político para tanto.

Sendo assim, apesar de possuir uma certa superioridade nesse quesito, podemos dizer que o Alckmin não é lá tão diferente do Lula, e acredito que em termos econômicos seu governo não seria muito diferente. Assim como ocorre na questão do posicionamento político, já que ambos são candidatos assumidamente esquerdistas e de partidos esquerdistas. Ou seja, não é o posicionamento político e econômico que faz com que o Alckmin seja tão melhor que Lula aos meus olhos.

O que, então, de fato diferencia Alckmin e o PSDB do Lula e do PT? Um simples fato: o respeito à democracia e a ética. Nesses quatro anos de Lula tivemos todo tipo de ocorrência que denotam claramente a tendência totalitarista de nosso presidente e seu partido. Mensalão, dossiê-gate, grampos telefônicos, e toda aquela infinidade de bandidagens que nos acostumamos a ouvir.

Não vou afirmar que a corrupção e a falta de ética são exclusividades do governo petista, seria um tanto leviano de minha parte. Corrupção, de fato, sempre existiu no Brasil e no mundo, não só na política quanto em qualquer atividade humana. O ‘X’ da questão é o tratamento dado à mesma.

No governo Lula, a corrupção tornou-se generalizada e o modo de governar. A falta de ética tornou-se um requisito obrigatório para manutenção do poder aos olhos dos petistas, que não fazem a menor cerimônia para adotá-la, a mando do próprio Lula. Eles não conhecem limites e já demonstraram que estão dispostos a fazer qualquer coisa para se manter no poder. Desde a compra de votos, do congresso e da população, até a fabricação de falsas evidências e o uso da PF como instrumento político, de espionagem e acusação. Se alguém duvida disso, é só contar nos dedos quantos da alta cúpula petista saíram ilesos dos escândalos ocorridos. Até o Lula consegue. Usando a mão esquerda, ainda por cima. Todos foram tão longe em suas safadezas que , ao estourarem os escândalos, nem a famosa camaradagem petista conseguiu salvá-los.

Há aqueles que ainda tentam defender o modo de governar petista, dizendo que não fizeram nada que nunca tenha sido feito antes. Acusam o governo FHC de irregularidades e dizem que só porque é com o PT tudo é amplificado. Não defenderei o PSDB aqui, mas o fato é que apesar de terem surgido algumas denúncias, pouca coisa foi provada e nada de grande magnitude e envolvendo a alta cúpula do governo tucano, ao contrário do que tem ocorrido com os petistas. Se realmente ocorriam fatos semelhantes na época, por que a oposição (PT) não fez nada?

Por fim, temos na pessoa de Geraldo Alckmin alguém, até agora pelo menos, acima de qualquer suspeita no quesito corrupção. Uma longa carreira política, ocupando cargos importantes e uma reputação ilibada. Uma pessoa ponderada, com uma boa formação intelectual e valores morais mais sólidos. E como a tendência de uma pessoa honesta é cercar-se de pessoas também honestas, temos motivos o bastante para crer que um eventual governo “Alckmista” venha a ser bem mais honesto que o atual.

domingo, outubro 01, 2006

Os possíveis resultados das eleições

No momento em que escrevo este texto, algumas das urnas da eleição de hoje começam a ser contabilizadas. Nas duas últimas semanas, tanto a possibilidade de segundo turno quanto seu possível resultado passaram por mudanças. Nesse exato momento, a combinação de eleição e escândalo do dossiê tem três possíveis resultados, cada um deles delineando um contexto para a atuação daqueles que são hoje situação e oposição. Analisarei um por um estes contextos, enfatizando as prováveis atitudes dos jogadores políticos do Brasil e como cada contexto contribui para as reformas necessárias ao desenvolvimento do país.

No primeiro caso a eleição vai para o segundo turno e Geraldo Alckmin vence. O PT volta à oposição. O mais provável, nesse caso, é que o PT na oposição passe a agir como sempre agiu quando na oposição: obstruindo as reformas necessárias (as mesmas que aprovou quando no governo), procurando sempre que possível desestabilizar, etc. Obviamente, tal situação não é benéfica para o país – se o fosse, o desempenho do Brasil nos anos FHC seria melhor – contudo, as outras possibilidades são ainda piores.

Em um segundo caso, Lula vence as eleições (é irrelevante se no primeiro ou no segundo turno), mas tem sua candidatura impugnada pelo Superior Tribunal Eleitoral devido às irregularidades do escândalo do dossiê. Nesse caso, o PT se portará não apenas como se tivesse perdido as eleições como também (como já age atualmente) acusará a atual oposição de golpismo, desrespeito à democracia – como se as leis não fossem elas mesmas algum tipo de representação do povo. Soma-se a isso a tolerância que algumas partes (se não a maioria) da imprensa tem com relação ao PT, produto da revolução cultural, e constitui-se uma situação pior que a primeira.

A última situação possível é a situação em que Lula é eleito e permanece presidente pelo segundo mandato inteiro. Nesse caso, partindo da hipótese controversa de que o segundo governo Lula se portará de forma semelhante ao primeiro, o país permanecerá na situação em que está: assolado pelo populismo, com uma economia carente que cresce a taxas mínimas, sem fortes garantias de direitos de propriedade, institucionalmente instável. Tudo isso com dois agravantes: um governo marcado por denúncias de corrupção e uma população para quem as urnas são capazes de absolver criminosos.

Concluindo, independentemente do resultado das eleições, a situação do Brasil permanecerá frágil.