domingo, outubro 08, 2006

Por que 46.662.365 votaram no Lula?

Como explicar os votos confiados ao Lula, dada a conjuntura política brasileira, na qual as promessas e os planos dos partidos que concorrem ao Governo Central praticamente coincidem (pelo menos nas áreas que mais interessam a maioia do eleitorado) e casos de corrupção envolvendo muitos dos dirigentes do Partido dos Trabalhadores surgem com uma frequência vergonhosa? Para entender a razão destes votos busquei separar os eleitores petistas em poucos grupos para que conseguisse analisar suas motivações de uma forma mais precisa. Com esse esforço cheguei aos seguintes grupos que apoiam a releição de Lula: o dos "iludidos" e o dos "desiludidos" (como veremos a seguir, a falta de informação é a principal responsável pela formação destes grupos). Certamente existe um terceiro grupo formado pelos que se beneficiariam diretamente de uma nova gestão petista, os membros do partido e as pessoas próximas a eles. Porém, como somam uma parcela ínfima da população e como quaisquer argumentos direcionados a eles (para que considerassem o voto na oposição) seriam inúteis, focarei apenas nos dois grupos citados a cima.

Começarei a análise pelo grupo dos "iludidos", que se segmenta em dois subgrupos. O primeiro deles é o dos "sonhadores", composto por uma pseudo-elite intelectual e por militantes mais radicais que apenas não votaram na então candidata Heloísa Helena porque sabiam que seriam votos a menos em Lula e, consequentemente, chances a mais do Alckmin levar a eleição para o segundo turno. As explicações mais comuns, deste sub-grupo, para seus votos são as de que o PT é o único partido com potencial para realizar uma revolução (uma transformação radical em nosso país) ou é o que mais dá importância para parte social. Normalmente não votam no PSDB porque não aprovaram suas gestões e o consideram um partido neo-liberal, formado por capitalistas e que ainda vendeu parte de nosso para os estrangeiros. Digo que estão equivocados ou sendo incoerentes. Por quê? Este sub-grupo é marcado pela imaturidade de pensamento e uma fidelidade as idéais de esquerda que já se provaram fracassadas até na prática. Defendem uma sociedade planejada pelo Estado, igualitária, justa, que promova o crescimento econômico e priorize a ética. Pensam nos fins (que na verdade são conflituosos), mas não nos meios. Para que uma economia seja controlada de uma forma centralizada toda a liberdade individual e o direito à propriedade, incentivos-base para o trabalho, seriam abdicados.

Considero-os desinformados, também, porque acreditam que a solução para quase tudo é vontade política e não conseguem entender que todas as decisões e ações de um governo afetam uma sensível relação de equilíbrios causando distorções e prejudicando a alocoção eficiente, e desejada pelos indivíduos, dos recursos, afetando assim o crescimento econômico sustentável. Por fim, poucos deles enxergam que o PSDB também é um partido de esquerda. Grande parte dos projetos sociais do governo Lula teve início com FHC. Metade do dinheiro conseguido com as privatizações foi destinado a projetos sociais, que este sub-grupo do eleitorado do Lula tanto prezam, enquanto poderia ter sido utilizado para pagar as dívidas do Estado (destino da outra metade do dinheiro), reduzindo os juros, o risco-país, a taxa de juros e atraindo investimentos... Resumindo, estão errados ao defenderem o socialismo, iludem-se ao pensar que o PT realizará mais investimentos nas áreas sociais do que o PSDB e se esquecem das falcatruas do Governo petista, que elevou a corrupção a um nível inédito no país.

O segundo dos subgrupos dos "iludidos" é constituído pelos "comprados" que viram suas rendas reais subirem nos últimos meses com a apreciação do real, a queda dos preços dos alimentos, pelos que se contentaram com o crescimento artificial resultante de uma política monetária expansionista (parte de um ciclo stop-and-go) e, principalmente, pelos beneficiados pelo Bolsa Família. O problema central deste sub-grupo é a falta de informações relacionadas à insustentabilidade das políticas que trouxeram estes aumentos de renda e à nocividade de políticas assistencialistas para a formação de uma sociedade. Os preços dos alimentos não caíram graças ao PT e provavelmente voltarão a subir, o real se desvalorizará, o crescimento alcançado com a redução da taxa de juros via o aumento na taxa de emissão monetária perderá cada vez mais seu efeito (com os agentes refazendo suas expectativas) trazendo apenas inflação e, em algum momento, não haverá como pagar o Bolsa Família para todos... O que o Governo de Alckmin fará em relação a esta situação? Dada a insustentabilidade apresentada buscará fontes de crescimento alternativas, mas certamente continuará com o programa Bolsa Família! O PSDB não planeja se suicidar politicamente, o que injustifica a insegurança dos "comprados" e a recusa de votarem no PSDB.

O grupo dos "desiludidos" é o formado da maneira mais curiosa. Fazem parte do grupo os que a ciência política chama de "conservadores", que optam, ou simplismente dão um peso maior, pela a escolha do conhecido, o candidato mais familiar e normalmente o que está no poder. Esse tipo de escolha pode ser fruto da satisfação com a situação atual e preferência pela manutenção do status quo (são aversos ao risco), ou então, da indiferença (os políticos seriam essencialmente o mesmo tipo de ser, interessado apenas na obtenção do poder para usufruto próprio).

É importante que os integrantes do grupo dos "desiludidos", e todos os demais, entendam que, como vimos à cima, todos os "pontos positivos" que atualmente os eleitores do Lula destacam do Governo petista, como o Bolsa Família, serão mantidos pelo PSDB e que, se o Lula for re-eleito, os brasileiros estarão consentindo com toda a corrupção que foi exposta e estarão incentivando esta forma de condução política.

5 comentários:

Joel Pinheiro disse...

Se eu fosse candidato, começaria com:

"Meu povo, não se preocupe. Se eleito, vou não apenas abolir instantaneamente o bolsa família, mas vou proibir qualquer político de propôr medidas semelhantes no futuro!"

Sem dúvida posso ser classificado no grupo dos "desiludidos". Afinal de contas, a política, infelizmente, é a arte de enganar a população de forma a criar problemas que clamarão por novas soluções políticas, que criarão novos problemas ainda maiores, ad infinitum.

Claro que voto Alckmin, pois a facção criminosa PT, que se utiliza de meios maléficos para chegar a fins demoníacos, não pode continuar governando nosso país. Mas ainda assim, a única esperanca para a política brasileira é a diminuição radical e irrestrita da importância dela na sociedade.

Werther Vervloet disse...

Bom, Brunno, antes de mais nada gostaria de lhe dar as boas vindas como novo membro do Terra à Vista.

Já começou com uma boa contribuição. Fez uma bela análise "sociológica" (sem ofensas) da situação. Não tenho do que discordar.

Só tenho uma ressalva a fazer quanto ao comentário do Joel. Não acho que a política seja a arte de enganar o povo e gerar novos problemas visando a criação de um ciclo infinito de problemas/soluções.

A política, como temos hoje, é subproduto de uma evolução lenta e gradual da maneira da sociedade se organizar. Partilho de muitas das críticas que o Joel tem a fazer sobre a Democracia, realmente ela se encontra muito longe do ideal, porém foi um passo importante na proteção ao ser humano e seus direitos individuais fundamentais. Creio que apesar de todas suas falhas, a democracia ainda se justifica, pois é a única maneira viável de se manter um Estado de Direito, de se proteger os direitos fundamentais de todos os seres humanos.

Desse modo, nos resta aprender a lidar com a política, tornando-a mais eficiente e benéfica, fazendo com que os interesses pessoais que regem seu funcionamento trabalhem de alguma forma em prol de um bem público maior e seguir em frente da melhor maneira possível, até que surja algo melhor.

Joel Pinheiro disse...

É. Esses últimos 150 anos realmente viram uma progressiva melhora no respeito ao ser humano e a seus direitos fundamentais, né?

Está na hora de acordar para a realidade: democracia liberal, sufrágio universal, não servem para nada, só para piorar a situação.
Sinceramente, quem acredita que a simples vontade da maioria seja um bom critério para gerir um Estado?

Joel Pinheiro disse...

Não nego a legitimidade da democracia, nem digo que não é possível um sistema político democrático com qualidades.
O que nego enfaticamente é que o sistema atual do mundo, democracia liberal, sufrágio universal, seja bom ou desejável.

Anônimo disse...

Fala Brunno!!! Gostei bastante do post... vou acompanhar o blog de vocês freqüentemente!!! Estão todos de parabéns mesmo... gostei de todos os textos....
Agora... quanto ao Lula.... e ao segundo turno.............. enfim.... só resta dizer uma frase: que vença o melhor.... ou então o mais votado....

Abraços