Sociedade pobre. Desemprego, fome, prédios abandonados, educação baixa, degradação social e moral, pessimismo, falta de perspectivas. Graves problemas, todos esses, e todos ligados à economia. Perguntemos, então, a um economista representativo de sua profissão, qual o diagnóstico e a receita dele para esses males. “Ora, é-me óbvia a causa de toda essa pobreza: a população vive uma vida muito austera, consome muito pouco! Como é possível que uma firma de sucesso se estabeleça se ninguém consome seus produtos? Se consumirem mais, gerarão empregos, que por sua vez gerarão mais renda, e assim mais empregos, num círculo virtuoso com direção à riqueza! Lembre-se: cada centavo extra que é gasto gera mais riqueza, e cada centavo poupado é um emprego tirado de um trabalhador”.
A profissão na qual pretendo em breve ingressar padece de sérias deficiências! A visão exposta acima, apesar de completamente errada, é partilhada por muitos economistas. O erro dela se baseia numa simples inversão de papéis: mais consumo gera riqueza, afirmam. O correto seria “mais riqueza propicia consumo maior”. Se eu torrasse, em um dia, toda a poupança da minha família, viveria como um príncipe durante esse dia; mas estaria mais rico? De jeito nenhum; eu empobreceria. E o que é a poupança? Poupança é aquilo que foi produzido mas não foi consumido (ao invés de guardarmos diretamente nossos produtos, guardamos aquilo que aceitamos em troca deles: o dinheiro, que dá no mesmo). Da mesma forma, um país que consuma tudo aquilo que ele produz e ainda o que havia poupado não fica mais rico, e sim mais pobre.
A pobreza nunca se deve à falta de demanda. Não é por falta de mercado consumidor que uma sociedade é pobre. Enquanto alguém tiver necessidades e desejos não satisfeitos, não há falta de demanda. E se todo mundo tiver todos os seus desejos já satisfeitos, então não há pobreza nenhuma: todas as pessoas já têm tudo aquilo que querem; nada lhes falta. O entrave ao crescimento e a causa da pobreza é a falta de oferta: é a incapacidade de se produzir mais do que se produz atualmente.
A poupança e o comedimento, tão mal-vistos por economistas de certa linha de pensamento, são essenciais para o crescimento econômico. Sem poupança, todo mundo tem que viver sempre produzindo diretamente aquilo que consome. Com alguma poupança, é possível sustentar pessoas que trabalhem em projetos de longo prazo.
Numa tribo indígena na qual não exista poupança, na qual se consome instantaneamente tudo o que se caça, todos os homens têm que sempre estar caçando para matar a fome; se um não caçar, falta comida. Mas se eles conseguirem poupar um pouco do alimento, então alguns índios poderão não ir à caçada e se dedicar à produção de armadilhas e armas, que permitirão, no futuro, a captura de um maior número de animais. Durante o tempo da produção desses utensílios, eles são sustentados pelo alimento que foi poupado. É assim, por meio da poupança e do uso dela para produzir coisas de valor, que sairão da pobreza.
Não é por falta de vontade de consumir que há pobres. Não existe excesso de poupança. Ao contrário, é o excesso de consumo e de imediatismo, é a incapacidade de poupar, que contribui para que tantas sociedades permaneçam na mais abjeta pobreza. Para quem não estuda economia, essa conclusão deve parecer óbvia; mas os economistas têm que lutar muito para se acostumar com ela.
A profissão na qual pretendo em breve ingressar padece de sérias deficiências! A visão exposta acima, apesar de completamente errada, é partilhada por muitos economistas. O erro dela se baseia numa simples inversão de papéis: mais consumo gera riqueza, afirmam. O correto seria “mais riqueza propicia consumo maior”. Se eu torrasse, em um dia, toda a poupança da minha família, viveria como um príncipe durante esse dia; mas estaria mais rico? De jeito nenhum; eu empobreceria. E o que é a poupança? Poupança é aquilo que foi produzido mas não foi consumido (ao invés de guardarmos diretamente nossos produtos, guardamos aquilo que aceitamos em troca deles: o dinheiro, que dá no mesmo). Da mesma forma, um país que consuma tudo aquilo que ele produz e ainda o que havia poupado não fica mais rico, e sim mais pobre.
A pobreza nunca se deve à falta de demanda. Não é por falta de mercado consumidor que uma sociedade é pobre. Enquanto alguém tiver necessidades e desejos não satisfeitos, não há falta de demanda. E se todo mundo tiver todos os seus desejos já satisfeitos, então não há pobreza nenhuma: todas as pessoas já têm tudo aquilo que querem; nada lhes falta. O entrave ao crescimento e a causa da pobreza é a falta de oferta: é a incapacidade de se produzir mais do que se produz atualmente.
A poupança e o comedimento, tão mal-vistos por economistas de certa linha de pensamento, são essenciais para o crescimento econômico. Sem poupança, todo mundo tem que viver sempre produzindo diretamente aquilo que consome. Com alguma poupança, é possível sustentar pessoas que trabalhem em projetos de longo prazo.
Numa tribo indígena na qual não exista poupança, na qual se consome instantaneamente tudo o que se caça, todos os homens têm que sempre estar caçando para matar a fome; se um não caçar, falta comida. Mas se eles conseguirem poupar um pouco do alimento, então alguns índios poderão não ir à caçada e se dedicar à produção de armadilhas e armas, que permitirão, no futuro, a captura de um maior número de animais. Durante o tempo da produção desses utensílios, eles são sustentados pelo alimento que foi poupado. É assim, por meio da poupança e do uso dela para produzir coisas de valor, que sairão da pobreza.
Não é por falta de vontade de consumir que há pobres. Não existe excesso de poupança. Ao contrário, é o excesso de consumo e de imediatismo, é a incapacidade de poupar, que contribui para que tantas sociedades permaneçam na mais abjeta pobreza. Para quem não estuda economia, essa conclusão deve parecer óbvia; mas os economistas têm que lutar muito para se acostumar com ela.
3 comentários:
eu aprendi isso em introdução à economia
o importante é a taxa de juros!
hahaha
Mas a questão, Joel, está no prazo da dinâmica macroeconômica.
Está claro que o crescimento econômico (o longo-prazo, crescimento do produto potencial) está fortemente relacionado com a poupança, enquanto os desvios do PIB de seu potencial, segundo algumas teorias, se relaciona com a demanda.
É esse último ponto o importante. É verdade que a dinâmica do hiato do produto é uma questão de demanda? É possível suavizar esses desvios com o uso de instrumentos de política? Talvez fosse esse o "alvo" do texto.
Ainda assim, está muito bom!
De fato, mudanças de preferências, por exemplo, podem criar a necessidade de mudanças de oferta. O empreendimento que antes fazia sucesso agora não sustenta mais.
E assim, durante um período de transição, algumas pessoas sofrem antes que outras consigam ganhar.
Mas não me parece que alguma política econômica pode ajudar nesse processo. Políticas econômicas apenas redistribuem parte da riqueza (sempre para fins que, obviamente, não representam as necessidades mais urgentes dos indivíduos, senão não seria necessária política nenhuma), destruindo uma certa quantia dela no processo.
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