A primeira, superficial e até errada em muitos casos, é aquela que lê no ditado a afirmação de que toda a humanidade é interesseira e egoísta. “Não existe almoço grátis”, ou seja, se você acha que alguém lhe dá algo de graça, engana-se; por trás de todo presente dado existem segundas intenções e desejos velados. Se ganhamos algo hoje, é porque seremos cobrados amanhã.
Nem toda aparente boa ação é desinteressada; isso ninguém nega. Mas também existem aquelas feitas por bondade e amor, sem nada exigir. É digna de pena a opinião segundo a qual o homem é puramente egoísta, muito embora o egoísmo seja uma realidade evidente da existência humana. Assim, o ditado é um lembrete de que as aparências de boa fé e honestidade podem nos enganar. Entretanto, uma interpretação mais profunda existe.
Uma interpretação mais profunda, ainda que mais simples. “Não existe almoço grátis”; isso não quer dizer que quem recebeu o almoço terá que pagar por ele de alguma forma. Mas se não for quem comeu, será outra pessoa. Todo almoço é pago por alguém. Muitas vezes ganhamos algum benefício, algo que ajuda a melhorar nossa vida, e não arcamos integralmente com seu custo. Como a riqueza não sai do nada, se não fomos nós que pagamos, foi alguma outra pessoa. Num almoço entre amigos, se um deles comeu mais do que pagou, é porque outro pagou mais do que comeu.
Na política essa simples verdade é esquecida. Parte da população quer um serviço, e não quer pagar por ele; quem pagará? O governo! Mas o que isso significa? Significa que a outra parte da população pagará pelo serviço por meio de impostos. Seria essa uma situação equivalente ao almoço entre amigos? De forma nenhuma: entre os amigos, aquele que pagou a mais o fez voluntariamente, por amizade, e ao fim da refeição todos estavam mais felizes do que antes. Já no caso do governo ocorreu o exato oposto: quem pagou a mais do que recebeu foi obrigado, sob ameaça de violência física, a fazê-lo; imposto é o contrário de contribuição voluntária; o serviço provido pelo Estado é a negação da ação caridosa.
O governo não gera, nem poderia gerar, riqueza nenhuma; apenas tira-a de uns para dá-la a outros (perdendo uma parte dela no processo). Esperamos que ele arque com o custo de escolas, faculdades, ruas, hospitais, novas empresas, filmes. Assim, aceitamos implicitamente que pessoas sejam forçadas a pagar por coisas das quais não poderão usufruir. “Não existe almoço grátis”; se você não estiver pagando, pode ter uma certeza: alguma outra pessoa está.