quarta-feira, março 19, 2008

Uso de células-tronco embrionárias: argumentos contrários

Discute-se a moralidade de se usar células de embriões humanos na pesquisa científica. O problema é que, para que essas células sejam coletadas, o embrião morre. E agora, o que será que tem precedência: o conhecimento científico ou a vida do embrião?

Esta discussão, como toda discussão ética, não pode ser resolvida com base na legislação vigente. O fato de uma ação estar ou não prevista em alguma constituição ou código de leis não muda seu caráter moral. Portanto, não vou me debruçar sobre a lei brasileira, e tratarei diretamente da ação em si mesma.

Um embrião humano é, biologicamente falando, um indivíduo; não é parte do corpo da mãe. Tanto é assim que tem DNA diferente do da mãe e é capaz, em condições artificiais, de existir fora de seu corpo (como é o caso dos embriões cujo futuro está em jogo). É um ser vivo individual. De qual espécie? Obviamente, da espécie dos pais. É, portanto, um indivíduo da espécie humana: um ser humano.

“Mas ele não tem nenhuma das características de um ser humano! Não tem nariz e nem braço!” – Essas são, de fato, as características de um ser humano adulto, que se desenvolveu plenamente. Todo homem adulto, no entanto, começou como embrião. O estágio embrionário é um estágio normal e natural do desenvolvimento humano. O embrião humano tem todas as características próprias de um ser humano da sua idade.

“Sim, é um ser vivo da espécie humana, mas não é um homem! Não tem sistema nervoso: portanto não sente dor e nem pensa! É como um pedaço de matéria bruta; não há problema, portanto, em tratá-lo como tal” – É bem verdade que o embrião ainda não desenvolveu seu sistema nervoso (como todos nós quando tínhamos essa idade). Mas isso dá o direito de tratá-lo como um objeto? Apliquemos o mesmo raciocínio a um outro estágio da vida humana. O bebê recém-nascido também não desenvolveu plenamente suas capacidades mentais: ainda não é um ser racional. A inteligência dele não é muito diferente da de um animal. Isso quer dizer que podemos tratar o bebê da mesma forma que tratamos os animais? Claro que não. Se o respeito à vida humana depende do desenvolvimento mental do indivíduo, então não há grandes problemas em se matar um bebê para se alimentar de sua carne!

“Se não usarmos os embriões congelados agora, eles vão ser destruídos de qualquer jeito!” - E se os usarmos, caímos imediatamente no círculo vicioso: mais embriões virão, e o que fazer com esses? Na prática, serão seres humanos feitos para ser assassinados. Dado que está estabelecido que o embrião é um ser humano e que sua vida tem a mesma dignidade dos outros homens, fica claro que a própria fabricação artificial de embriões deve ser proibida. Além do mais, não matamos doentes terminais para fins de pesquisa; por que deveria ser diferente com embriões, ainda que estejam fadados à morte? Na medida do possível, os embriões existentes e disponíveis deveriam ser implantados e gestados; se isso for impraticável, enterrados dignamente.

Ninguém nega a importância do progresso científico. Mas ele não deve ser feito às custas da humanidade! A ciência, assim como todas as atividades do homem, deve se pautar pela ética. Que tipo de sociedade seremos se aceitarmos que vidas humanas sejam criadas e destruídas para fornecer matéria-prima de tratamentos médicos?

27 comentários:

Unknown disse...

Joel, quando exatamente começa a vida na sua opinião?

Joel Pinheiro disse...

Não me parece que seja questão de opinião.

A vida começa quando temos um novo organismo. Isso se dá na concepção.
Antes havia duas células reprodutivas: uma do pai, uma da mãe. Agora, há um novo indivíduo, um organismo distinto.

Anônimo disse...

Ao que tudo indica, as células embrionárias que estão em jogo no STF, por causa da lei de biossegurança e tal, são aquelas provenientes de fecundação in vitro, e que acabam sobrando e ficando congeladas, sem finalidade alguma, já que o seu destino será o lixo. A única saída moral para um defensor aguerrido "da vida", nesse caso, seria exigir que o Estado forçasse a gestação dessas células. Ou impedir o método de concepção in vitro.

Quanto à sua definição de "organismo", ela parece furada. Um conjunto pequeno de células pode formar um tecido. Um conjunto de tecidos, um órgão. Um conjunto de órgãos, um sistema. E um conjunto de sistemas (respiratório, circulatório, etc.), por fim, finda num organismo.

Joel Pinheiro disse...

Quanto ao primeiro parágrafo: sim, é exatamente isso que eu defendo no texto (sem [i]forçar[/i] a gestação, é claro)

Quanto ao segundo: os organismos adultos de grande parte dos seres vivos têm mesmo essa característica: seu corpo é um complexo de diversos sistemas, que por sua vez são compostos de órgãos, etc.
Isso no organismo adulto. Para chegar a esse estágio, ele começou sem essa complexidade toda.

Há que se notar também que organismos vivos muito simples não possuem órgãos, e nem por isso deixam de ser organismos; é o caso das bactérias.

Joel Pinheiro disse...

Em conclusão: embora a constituição células-tecidos-órgãos-sistemas seja comum a muitos organismos individuais adultos, ela não é o que os define como organismos.

Não tenho a pretensão de definir o que é um organismo. Procuro apenas identificar se algo constitui ou não um organismo individual, algo que, embora não seja trivial para muitas espécies, parece não ser difícil para o ser humano (e todos os mamíferos em geral).

Anônimo disse...

Eu tomaria mais cuidado com o assunto, Joel. Imagine que você considere um espermatozóide como um ser humano em potência (fato, não?); qualquer e todo homem seria responsável por um genocídio, pelo menos uma vez na vida, a não ser que possua alguma espécie de deficiência. Os tribunais então poderiam condenar à prisão toda a humanidade de gênero masculino.

Joel Pinheiro disse...

Um espermatozóide é um ser humano em potência apenas em um sentido secundário. Da mesma forma que um boi é um ser humano em potência.

Afinal, o casal pode se alimentar da carne do boi, e moléculas dessa carne serem usadas para fazer células reprodutivas do casal. Se essas células se encontrarem, forma-se um embrião, um novo ser humano, a partir da matéria do que costumava ser o boi.

Assim, até o capim que o boi come é ser humano "em potência".

Ou seja, se causas extrínsecas e acidentais operarem sobre essa matéria, ela pode vir a constituir um novo ser humano.

No caso do embrião, a história é outra: é próprio de seu desenvolvimento natural crescer e se tornar o homem adulto que todos conhecemos e amamos, se nada impedir esse processo.

Anônimo disse...

Joel, um boi não é um ser humano em potência em hipótese alguma.

Você afirmou que [a]final, o casal pode se alimentar da carne do boi, e moléculas dessa carne serem usadas para fazer células reprodutivas do casal, mas isso não faz o menor sentido.

E depois complementa com [a]ssim, até o capim que o boi come é ser humano "em potência".

Que fique claro: o espermatozóide de um homem não é qualquer célula, pois ele carrega informações genéticas cuja finalidade é a replicação de um homem e não a de qualquer outra coisa.

Joel Pinheiro disse...

Sim, mas o material está incompleto no espermatozóide. Não há um ser humano ali. Há material que, com a adição de outras coisas, poderá constituir um ser humano.

Anônimo disse...

Joel, acho que essa questão é mais moral do que ética, e é importante lembrar que tanto a moral quanto a ética não são imutáves. Em primeiro lugar devemos nos atentar para o que se define por vida humana. Para a medicina, uma pessoa está morta quando o sistema nervoso central não funciona mais. Usando como exemplo o paciente em coma por morte encefálica: ele respira artificialmente e é alimentado através da veia, e tem todas as funçoes vitais e todos os outros órgãos vivos e funcionantes, mas podemos desligar os aparelhos após testes que confirmem que o cérebro morreu. Se a definição de vida fosse uma célula que funciona, esse paciente estaria mais do que vivo, já que tecidos e órgãos inteiros estão funcionando, e, portanto, os médicos seriam obrigados a deixar esse paciente entubado e em estado vegetativo por anos ou até décadas. No entanto, os médicos não são homicidas nessas situações.
Por essa definição, a morte até o segundo ou terceiro mês de gestação (quando o sistema nervoso se forma) poderia ser permitida. Mas eu não quero entrar nessa questão, já que colocaria problemas legais e não morais.
Alguém pode argumentar, no entanto, que essa é uma situação não natural, ou seja, que se não houvessem aparelhos médicos, essa pessoa estaria completamente morta. Eu pergunto então: a inseminação artificial não seria uma maneira não natural de concepção? Porque a moral vigente aceita a inseminação artificial e a retirada dos aparelhos de pessoas com morte encefálica?
Agora voltando à questão de definição do que é vida. Se a moral aceita que a vida acaba com o fim das funções encefálicas, poque considera-se vida no momento da concepção, quando é apenas uma célula, e o sistema nervoso está longe de se formar? Não seria incongruência?
No caso do aborto poderia-se argumentar que o feto com menos de três meses tem a perspectiva de virar um ser humano vivo (segundo a definição médica, com sistema nervoso central), e então eu concordo que a questão é um pouco mais complicada. Com as células tronco isso não acontece, já que elas são inutilizadas exatamente porque elas são inviáveis, ou seja, é impossível que um ser humano se forme a partir delas.
Se então essas células não são vivas ainda, e não têm a perspectiva de virarem vida, porque não usá-las para pesquisa? Você defende que, se estão fadadas à morte, elas tenham um fim digno, ou seja, que enterremos elas. Porque seria um fim indigno usá-las para pesquisa? Não usamos cadáveres para o estudo de anatomia? A moral não desaprova isso.
Essa é uma questão que, na minha opinião, a ciência já resolveu, e o impedimento é estritamente moral. E mais do que isso, a defesa moral é inconsistente.
(chateau)

Joel Pinheiro disse...

Chateau:

Sim, a medicina usa, como critério para estabelecer se alguém está vivo ou morto, a morte cerebral. Não se trata de definir o que é vida (se os médicos amanhã definissem vida como "estar andando" nem por isso os pacientes deitados na cama estariam mortos), mas sim de se estabelecer um critério para distinguir quem está vivo e quem está morto, já que a transição de um estado para o outro, embora certa, é gradual.

E parece ser esse um ótimo critério. O que coordena as atividades do ser humano é o cérebro; não apenas os pensamentos abstratos e decisões conscientes, que são o que nos distinguem dos outros animais, mas mesmo as funções orgânicas mais básicas do corpo têm seu "centro de controle" no cérebro. Se ele pára de funcionar, é óbvio que, por conseqüência, as outras funções do corpo logo mais pararão também; e, se por algum motivo continuam autonomamente por um tempo, é sem qualquer ordenamento com o resto do organismo.

Assim, se o cérebro morreu, o homem morreu. Esse é o critério de averigüação (não a definição de vida).

Isso com o homem adulto!

Com o homem em seus primeiros estágios, não há cérebro, mas certamente há vida. Ou por acaso alguém acha que, miraculosamente, um pedaço de matéria bruta, inanimada, ganha vida dentro do útero materno? O embrião, mesmo sem cérebro, já é ser vivo, assim como tantos outros seres vivos que existem sem cérebro (plantas, bactérias, etc). E se é ser vivo, tem alguma espécie. Qual a espécie deste embrião? A espécie humana!

Como você bem coloca, a observação do desenvolvimento natural do ser em questão nos permite ver se ele está vivo ou morto. O corpo sem cérebro, se desligadas as máquinas que mantêm partes suas em operação, simplesmente pára de funcionar. Já o embrião, se mantido em seu ambiente natural e se nada impedí-lo de desempenhar suas funções naturais, desenvolve-se até se tornar um bebê facilmente reconhecível.

Concordo com você quando aponta que parece haver uma inconsistência entre ser contra aborto e assassinato de embriões humanos e não ver problema na inseminação artificial. Só que não o mero fato de ela ser "não-natural" (ou seja, não acontecer espontaneamente na natureza sem intervenção consciente humana) que faz com que ela seja imoral. Se assim fosse, guiar um carro, ou mesmo usar uma enxada, atividades "não-naturais", seriam imorais.

Por fim, você volta ao ponto de que os embriões em questão não podem mais ser implantados. Estão, portanto, fadados à morte. Já que vão morrer mesmo, por que não fazer pesquisa com eles?

Dois motivos: o primeiro é que o fato de que um homem está à beira da morte não justifica que o utilizemos para nossos fins. Um paciente com câncer em metástase pelo corpo inteiro vai morrer, não tem como evitar. Nem por isso podemos matá-lo para nossa pesquisa.

Em segundo lugar, aceitar esse argumento é sinalizar aberta e claramente a todos que podem começar a produzir quantos embriões quiserem (e se trata, cada um deles, de uma vida humana!) para fins de pesquisa. Uma vez criados, são "fair game". A pesquisa com embriões humanos fica automaticamente legitimada em todos os casos possíveis.

Por fim, cabe um comentário ao seu uso do termo "moral". Ficou parecendo que "A Moral" é alguma voz ou autoridade externa que emite ordens e imperativos arbitrários ao homem, e varia conforme variam os tempos. Imperativos esses que, muitas vezes, entram em conflitos com diversas aspirações humanas, como por exemplo o conhecimento científico ou o desenvolvimento de novas tecnologias.

Moral não é isso. Quando discutimos se matar embriões é certo ou errado, não queremos saber se certa sociedade X aceita ou não essa prática. Queremos saber se um homem que faça isso age bem ou mal; se essa prática constitui ou não, objetivamente, uma violação das condições necessárias que a vida humana precisa para se desenvolver e florescer.

E o caso é exatamente esse. Se tratamos outros seres humanos de forma instrumental na pesquisa científica, privamos muitas pessoas daquela condição mais básica de todas, que é necessária para tudo o mais: a vida.
O mal causado a todos esses que morrem por causa da pesquisa é real, embora não seja visível já que não é acompanhado de gritos ou de montanhas de corpos adultos.

Em segundo lugar, nos membros da sociedade que continuam vivos e aceitam essa prática institucionalizada, cria-se um crescente descaso para com a existência alheia. Enraiza-se na sociedade a visão de que outras pessoas não passam de meios a serem utilizados para que alcancemos nossos próprios fins, custe o que custar a eles.

Sim, a técnica científica não constitui um impedimento ao uso de embriões. Esse impedimento é "apenas" moral.
Da mesma forma, a técnica científica não impõe nenhum impedimento à pesquisa com homens adultos e saudáveis. Temos a tecnologia para fazer isso. O impedimento é "apenas" moral!

Nos meios acadêmicos, onde as idéias são levadas mais longe antes do resto da sociedade, há gente de peso que propõe seriamente a licitude não só do uso de embriões e do aborto, mas até do infanticídio de bebês nascidos, e de pessoas com doença mental, e de inválidos, de idosos. É para lá que nossas sociedades têm caminhado.

negoailso disse...

"Já o embrião, se mantido em seu ambiente natural e se nada impedí-lo de desempenhar suas funções naturais, desenvolve-se até se tornar um bebê facilmente reconhecível" - mas o embriao a que[m?] aludimos NAO está em seu ambiente natural. enterrá-lo é melhor do que utilizá-lo em pesquisas? se a questao [como adriano colocou e concordastes]é a BIZARRICE da técnica, que motivo teremos para desancá-la justamente quando aparece um método que pode amenizar seus efeitos malévolos? como adriano apontou, é lixo [ou 'enterro decente', como preferes]ou pesquisa. no teu exemplo, com seres adultos, nao seria a disposicao dos órgaos de pacientes terminais a comparacao mais apta, acho eu, afinal, aa reproducao artificial [ou a simples formacao do ovo] nao é garantee para que o embriao torne-se um ser REALMENTE vivo [em tese, alguns vírus podem cristalizar-se e 'viverem' milhares de anos antes de retornar aa ativa. mas sao vírus, nao homens. ovos congelados NAO estao vivos, ao menos nao na medida para o que chamamos de homo sapiens - digo, somos mais que um DNA, certo? - antes de qualquer contraste entre este último passo e a VIDA intra-uterina, chamo aa atencao para o desenvolvimento do feto, assustadoramente exponencial - o que o difere d'outro congelado SUBSTANCIALMENTE]

Ly disse...
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Joel Pinheiro disse...

Gabiru, o embrião é um ser vivo. Como já foi dito, não tem as características do homem adulto (e sim as características próprias do homem de sua idade), mas já é vivo e é ser humano.

Sim, esses embriões provavelmente não serão implantados. Como eu já disse, há dois motivos para não aceitar o uso deles mesmo nesse caso:
O primeiro é que, sob a suposta restrição de se aceitar "apenas porque eles não viverão mesmo", na prática libera-se irrestritamente a criação e uso de embriões.

O segundo, que creio ser o mais sério, é que não se deve matar alguém para derivar bons resultados disso.
Você compara o caso com o paciente que morre e cujos órgãos são doados.

A comparação mais apta, no entanto, teria uma leve diferente: um paciente em estado terminal é morto pelo médico, e então seus órgãos são doados.

Faz toda a diferença, não? Num caso, a morte natural é seguida do uso das partes do corpo que ainda são utilizáveis. No outro, o paciente é morto para que se usem seus órgãos (sim, ele morreria de qualquer maneira, mas isso pouco muda a monstruosidade do ato, não é?).

E note que, provavelmente, um paciente que seja executado em condições controladas no hospital provavelmente terá órgãos em melhor estado para a doação do que aquele que morre naturalmente. Mas esses benefícios não devem levar-nos a aceitar esse meio, o assassinato, que é intrinsecamente contrário à dignidade da vida humana.

Anônimo disse...

Joel,
concordo plenamente com você. O critério de morte cerebral não é definição de vida, é apenas um método de averiguação. Eu coloquei esse exemplo para questionar por que, se não há restrições a essa prática, há tanta divergência sobre o uso de embriões, que na minha opinião é uma situação bem semelhante.

Se consideramos que o paciente com morte encefálica está morto, apesar de quase todas as células estarem vivas, não é a perspectiva iminente e irremediável de morte? Ou em suas palavras, "a transição certa, porém gradual, de um estado para outro"? Pois então, o embrião que seria destinado para pesquisa tem como uníca perspectiva a morte, e você se engana ao dizer que "o embrião, se mantido em seu ambiente natural e se nada impedí-lo de desempenhar suas funções naturais, desenvolve-se até se tornar um bebê facilmente reconhecível": esse embrião é inviável, ou seja, ele está fadado a morrer, mesmo sem impedimentos e no meio mais natural possível : o útero materno.

O exemplo do paciente com câncer foi mal colocado, já que não há dúvidas de que ele está vivo. Estamos discutindo situações que não são tão claras, em que não há consciência ou interação com o ambiente extracorpóreo (manifestações indubitáveis de vida).

Eu não disse em nenhum momento que a inseminação artificial é imoral, muito pelo contrário: a moral a aceita. Lendo agora acho que me expressei mal, esqueça essa parte.

Você fala que assim que permitido será "fair game". Discordo totalmente: para evitar-se isso basta que a legislação seja clara. A proposta é que apenas as sobras inviáveis de tentativas de inseminação artificial sejam usadas. Isso é usar o que já existe e está guardado em geladeiras, e não criar embriões à vontade.

Concordo com você sobre a definição de moral. Tirar a vida humana é certamente um mal. A tecnologia sem dúvida precisa da moral para o impedimento de certas coisas. No entanto, deve-se questionar o porque de certas afirmações morais (e isso sim pode ser mutável), como "qualquer embrião é vida". Poque ele é vida? Segundo quais critérios? O que eu tento provar é que a definição de vida defendida pela moral não é objetiva: ela parte de uma crença de que a vida começa a partir da concepção em qualquer situação.

Anônimo disse...

mais uma coisa: se o embrião está morto da mesma maneira que o paciente com morte encefálica, então utilizar o embrião para pesquisa seria semelhante a doar um órgão desse paciente. Em ambos os casos, apesar de haver(em) células(s) vivas, não se constitui vida humana, e portanto não seria matar uma vida para usá-la para pesquisa, mas sim usar um organismo já morto (cuja célula é viva). É importante diferenciar a vida humana da vida celular.

Unknown disse...

O respeito à vida depende primeiramente da existência mental do "indivíduo" e não do seu desenvolvimento mental, como argumentou meu caro Joel. Defenter a imoralidade do uso de embriões para a pesquisa de células troncos, eu considero, obscurantista! Não há sistema nervoso, não há desenvolvimento mental e não há consiência. Não se pode de forma alguma estabelecer que o embrião é um ser humano, como foi feito, de forma alguma. E ao invés de enterrarmos os embriões fadados ao insucesso vital, por que não doarmos o que eles têm de bom? Ou será você também contra a doação de orgãos após a morte? Olhemos para a frente, imagine as possibilidades...

Joel Pinheiro disse...

Chateau, sinto muito mas seu principal argumento simplesmente não cola.

Os médicos usam a morte cerebral (ausência de atividade no cérebro) como critério para estabelecer se o paciente morreu ou não. O embrião não tem cérebro, portanto não tem atividade cerebral. Logo, está, por definição, morto para a medicina.

Esse critério, atividade cerebral, obviamente não se aplica aos seres vivos que, seja por seu estágio inicial de desenvolvimento (como é o caso do homem), seja por sua própria natureza (como é o caso da bactéria), não têm cérebro.

Quanto ao fato dos embriões estarem fadados à morte, continuo com a posição acima, na resposta dada ao Gabiru.

Joel Pinheiro disse...

Adre,

A existência da consciência individual tem como condição necessária a vida do ser individual.

Se se desrespeita a vida do embriào humano, desrespeita-se, por consegüinte, também a existência consciente do homem, que depende da vida dele.

Talvez sejam muitas as possibilidades do uso dos embriões (embora até agora os sucessos tenham vindo do uso das células não-embrionárias). Talvez sejam muitas as possibilidades do uso de seres humanos adultos para a pesquisa...

Mas há outras considerações, inclusive mais importantes, além dos ganhos científicos e tecnológicos que poderão advir de tais pesquisas.

Você diz que minha posição é obscurantista. Mas eu, assim como quem discorda de mim, tenho argumentado racionalmente. É o uso do termo "obscurantismo" sem embasamento que me parece ser uma tentativa de persuadir por meio exclusivamente dos sentimentos produzidos no leitor; ou seja, um recurso anti-racional.

Anônimo disse...

Joel, a sua definição de vida humana também é insuficiente. Segundo você, basta que (1) a célula esteja viva (é portanto vida) e (2) a célula tenha características humanas (é portanto humana). O embrião, sendo célula viva e tendo o material genético da espécie humana seria uma vida humana.

Só que a célula que sai do corpo (por exemplo na cirurgia para se retirar algum órgão), embora viva e humana, não é uma vida humana em si.

Você não conseguiu chegar racionalmente numa definição de vida. Vou tentar definir mais claramente e sucintamente o que, na minha opinião é vida, e escrevo mais tarde. Tente fazer isso também. Acho que nossa´grande divergência (e toda a polêmica dessa questão) é exatamente a definição de o que é vida humana.

Unknown disse...

Joel,
Não julgo apenas você obscurantista, e sim, todos aqueles que são contra. Concordo que não expuz meus argumentos adquadamente, e também não quero ficar aqui "jogando" para saber quem é mais ou menos racional ou pacional. Apenas acredito que esse é apenas mais um, de tantos outros, avanços da ciência contra os quais uma corrente mais conservadora da sociedade, liderada pela Igreja, luta e se opõe. Julgo-os obscurantistas... Você disse também que o começo da vida não é questão de opnião. Bom, acho que todas essas discussões já são suficientes para o contradizer... você como bom filosofo, me responda: Existe alguma coisa que realmente não é questão de opnião? Para regular todas essas diferentes posições e opniões existem as leis...

Joel Pinheiro disse...

Adre, a filosofia só pode existir porque nem tudo é questão de opinião!

Se fosse tudo questão de opinião, não poderia haver discussão racional sobre nada. Cada um teria a sua e não haveria nenhum critério objetivo para compará-las. Estaria cada um preso à sua própria subjetividade.

Só porque temos o poder de fazer algo, não quer dizer que esse algo deva ser feito. É exatamente essa a questão. Expressá-la em termos de conservadorismo e progressismo é perder de vista o essencial dela, e cair novamente no velho jogo entre os que querem "o progresso" e os que querem barrá-lo.
Será que é progresso esse uso de embriões humanos? Como tenho argumentado, é um grande retrocesso aceitar uma coisa dessas.

Joel Pinheiro disse...

Chateau, o embrião humano é um indivíduo distinto de seus pais.

Já a célula que se tira do corpo numa operação não passa de parte daquele corpo.

É fácil verificar isso: basta observar o desenvolvimento natural delas. A primeira (o embrião) cresce e se desenvolve até adquirir todas aquelas características que reconhecemos no bebê. A segunda, se ainda ligada ao corpo, simplesmente se reproduz e morre, dando origem a novas células como ela, mas sem nunca constituir um novo indivíduo.

Não fosse assim, veríamos homens brotando do nosso braço.

Anônimo disse...

Meus caros, depois de acompanhar esse "debate", gostaria de incluir aqui mais uma questão, que ainda não foi nítidamente levantada: Imaginemos, que tudo se libere, pesquisas e/ou manipulações genéticas de todos os gêneros, partindo de células-troco embrionárias podem ser feitas... O resultado disso tudo seria somente bom? Será que esses "projetinhos de gente"- os embriões, ñ seriam banalizados, feitos de milhões para se testar e descartados de milhões? O benefício disso tudo iria para Quê? e para quem? A ciência "brincaria" de Deus aos montes com a vida humana(pois p/ mim um embrião é sim uma vida, msm que criada em laboratório), em benefício do progresso dela mesma e se o resultado for ótimo com curas de doenças etc (algo que muito provalvente aconteceria),somente os ricos iriam usufruir desse "bem", Fazendo todo o processo virar + uma mercadoria nesse nosso mundo capitalista.Não podemos negar que quem sempre se beneficia é a classe rica.Hoje temos um horrível tráfico de orgãos que quem manipula é essa classe e quem sai perdendo são os pobres, carentes de alimentos e conhecimento, que se submetem por cirurgias clandestinas para ser retirado um Rim e assim ganhar uma mixaria de dinheiro.

Anônimo disse...

Muito bom, quase me vez mudar de ideia seus argumentos e contra-argumentos.
Mas continuo a favor do uso de células tronco embrionarias.

Anônimo disse...

Joel,

Se um dia você precisasse de células-tronco embrionárias para a sua própria sobrevivência... O que você faria?

lucas disse...

Qual o embasamento bibliografico da pesquisa?