quarta-feira, março 12, 2008

Aforismos sobre a felicidade

Aproveitar o momento. Aproveitar? - Carpe diem! O importante é aproveitar o momento. Mas o que é aproveitar? Usar algo de forma eficaz para atingir um fim que se tem em mente. Para o aluno ginasial em risco de recuperação e que queira passar de ano, ter ficado a véspera da prova inteira no boliche com seus amigos não foi um bom aproveitamento do tempo. Para outro, que queria se integrar melhor com os colegas de classe, foi. Só sabemos quem aproveitou seu tempo se conhecemos suas finalidades.
.......Quem diz “carpe diem!” pensa em uma finalidade (aliás, costumam pensar sempre na mesma!); resta saber se ela deve ser perseguida; e, se não, qual outra em seu lugar?

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A felicidade NÃO é o caminho - “Depois de muito procurar a felicidade, descobri que ela não é destinação; é o caminho”. É claro que o caminho importa; todo mundo prefere chegar ao topo da colina por uma trilha na natureza em companhia dos amigos do que sozinho por um viaduto sujo, lento e pobre. Mas o caminho é bom ou mau apenas à luz do destino final. Mesmo tendo que atravessar São Paulo de ônibus (um passeio não muito agradável), o passageiro vai feliz por saber que se dirige à casa dos avós que não vê faz tempo. Já uma viagem de trem pelo continente europeu é algo lindíssimo; mas se o passageiro é um prisioneiro nazista e seu destino é o campo de Auschwitz, a viagem não será das mais alegres. Quem sabe uma cena de beleza natural ou da vida campestre seja capaz de distraí-lo por uns instantes; dado que seu destino é irremediável, esquecer-se dele enquanto dura a viagem não é má idéia. ..
.......Mas para nós, livres que somos para escolher nosso destino, esquecer-se dele e perder-se nos atrativos do caminho é o caminho para se perder. A qualidade da estrada é importante; mas mais importante é saber aonde ela leva.


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A felicidade de cada um NÃO varia conforme a opinião de cada um - Se uma pessoa alcança tudo aquilo que ela queria para sua vida, ela é feliz? Não necessariamente. Podemos dizer que ela está contente (isto é, contenta-se plenamente com o que tem), mas nem por isso é verdadeiramente feliz.
.......Um homem adulto cujo retardo mental lhe condene a ter, pelo resto da vida, a inteligência de uma criança de 10 anos, é objeto de compaixão, e nunca de inveja, mesmo que esteja plenamente satisfeito. Sabemos que, por mais contente que esteja, não alcança aquela felicidade da qual o homem é capaz. Dois copos de tamanhos diferentes podem ambos estar cheios até a boca; mas um terá muito mais água que o outro; ou ainda mais: pode ser que, ao invés de água, tenha vinho!
.......O homem do exemplo não tem qualquer culpa de sua situação. E todos aqueles que voluntariamente se condenam a vidas e a felicidades muito inferiores àquela que o ser humano poderia almejar? Quantos não deixam de lado a felicidade do homem adulto para procurar, não a da criança, mas a do porco? Em alguma medida, todos nós o fazemos. E já que buscamos a felicidade (a verdadeira felicidade, aquela que não se contenta com o medíocre), cabe perguntar: no que ela consiste, e quais são os meios à nossa disposição para alcançá-la? Aí estão questões que, seja quem for que nelas pense, terá aproveitado seu tempo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Começou a fazer o curso da Scarlett e resolveu escrever aforismos? (:

Joel Pinheiro disse...

Heh, pois é. Influências nietzscheanas; talvez com sinal trocado.

Anônimo disse...

Esse talvez é um bom motivo para anátema. d: