Esse texto objetiva trazer à discussão um assunto que a primeira vista, para a grande maioria, não deve ser discutido: a liberação do uso de drogas. A opinião geral costuma abordar o assunto pelo lado do politicamente correto: “as drogas são um mal para nossa sociedade, e devem de ser proibidas. Todos a favor de sua legalização são bandidos e drogados”. Meu objetivo aqui é levantar essa questão ao debate, e expor motivos concretos para que o uso de algumas drogas seja liberado.
O principal medo da população, quanto à liberação do uso de drogas é a crença que se caso fossem liberadas, as mesmas criariam uma legião de vagabundos e desocupados, que não produziriam nada e passariam seus dias drogando-se e cometendo crimes para alimentar seu vício. Essa visão é errada.
Existe sim, é verdade, aqueles que literalmente se acabam com suas vidas por causa das drogas. Assim como existem também aqueles que se acabam no álcool, ou na jogatina. Certamente, as drogas em si são maléficas e seu uso degenera o ser humano. Mas, males existem aos montes em nosso mundo, cabe a cada um saber resistir e lidar com eles. Caso contrário, em breve proibirão a existência de pontes e janelas, com a nobre justificativa de proteger aqueles mais fracos de espírito, que por ventura resolvam por um fim em suas próprias vidas.
Na questão das drogas alterarem as pessoas, tornando-as violentas, tomo a liberdade de utilizar citações retiradas de um artigo que encontrei na base de dados da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, que recomendo a leitura. Leia aqui.
“...vários estudiosos têm concluído que o álcool é a substância mais ligada às mudanças de comportamento provocadas por efeitos psicofarmacológicos que têm como resultante a violência. E isso, pelo menos provisoriamente, pode ser depreendido dos dados apresentados acima. Estudos experimentais (Fagan, 1990, 1993) mostram que o abuso de álcool pode ser responsável pelo aumento da agressividade entre os usuários. Há evidências também de que a cocaína, os barbitúricos, as anfetaminas e os esteróides têm propriedades que podem motivar atitudes, comportamentos e ações violentas”.
Claro que ao longo do ensaio a idéia é bem mais desenvolvida e justificada, porém o ponto que quero mostrar está explícito ai. Como pode uma sociedade que aceita tranqüilamente o consumo de álcool, maior gerador de comportamento violento, querer proibir o uso de outras drogas menos ofensivas nesse sentido? Aliás, a proibição das drogas gera um problema de segurança público gravíssimo.
Atualmente, é difícil de negar que o tráfico de drogas é o setor mais bem organizado e poderoso do crime brasileiro. Sua pujança é tamanha que possuem armamentos que nem as Forças Armadas tem condições de possuir. Assim, existem aqueles que pensam que com a liberação para o comércio de drogas a situação pioraria, mas ocorreria justamente o contrário. Hoje em dia, os traficantes lucram tanto com o tráfico por se tratar de uma atividade ilegal, onde uma minoria tenta se aventurar, assim fazendo com que exista pouca concorrência e, conseqüentemente, gerando lucros extraordinários. Lucros esse que financiam a criação e manutenção de Estados paralelos comandos por bandidos, que contribuem muito para a elevação da violência.
Assim sendo, com a legalização, a operação dos traficantes seria fortemente atingida, pois certamente as pessoas prefeririam comprar produtos em estabelecimentos legais. Isso ocorreria por diversos motivos: haveria algum controle por parte do governo, garantindo a “pureza” do produto. Não é incomum que traficantes misturem todo tipo de substâncias e detritos em suas mercadorias, fazendo as render mais. Além disso, os consumidores poderiam gozar de todos outros benefícios proporcionados pelo comércio legal. Existem ainda muitos benefícios, como por exemplo, a maior facilidade de controlar, o hoje irrestrito, acesso dos jovens as drogas. Por fim, o Estado teria mais uma fonte de arrecadação, pois certamente tributaria esse produto como todos os outros, além de diminuir o gasto de recursos na tentativa de coibir o tráfico.
Existem, é claro, diversas considerações mais aprofundadas a se fazer. Por exemplo, quais espécies de drogas deveriam ser liberadas? Certamente apenas aquelas que comprovadamente não gerem nenhum tipo de comportamento sóciopata. Onde seria produzida a droga consumida no país? E assim por diante. O importante é ter em mente que apesar de ser motivada por um nobre ideal (distanciar a população do uso de substâncias nocivas tanto ao espírito quanto ao corpo do ser humano), a proibição ao uso e comércio de drogas traz consigo uma série de malefícios e deve ser repensado.
7 comentários:
Você quer que o governo tenha gente para inspecionar a cocaína e ver se ela é purinha mesmo?!?!?!
Minha posição com relação às drogas em uma casca de noz: libera o consumo e venda (sem qualquer distribuição de renda para quem se drogar!), mas pune com pena de morte os grandes traficantes de quando ela era proibida.
Também sou obrigado a alertar que esses estudos em favor das drogas, segundo os quais o álcool é pior do que crack e cigarro comum pior do que overdose de heroína costumam ser bem tendenciosos.
Já parou para pensar quantos estudos não há tentando provar que a maconha tem alguma propriedade medicinal? Por que escolheram justo a maconha para fazer tantos testes, e não outra planta, como o capim ou a hortelã?
Só questões a se pensar.
Sou radicalmente contra as drogas e nutro desprezo por quem as comercializa, mas proibi-las parece gerar ainda mais problemas e malefícios do que não fazê-lo. Sem falar que é complicado justificar a proibição legal da pessoa consumir algo que faz mal a ela.
Mas é um ótimo tema para discussão.
Bom Joel, a partir do momento que alguem passa a comercializar um produto, dizendo que o mesmo é puro ou tem certas propriedades, e na verdade ele não é aquilo que foi dito, cabem ações legais.
Não seria diferente de nenhum outro produto.
Quanto ao resto concordo com você. Só gostaria de salientar que pode ser que os estudos sejam motivados por interesses quaisquer, mas isso não influi ou não veracidade da coisa. Existem diversos estudos em diversas áreas do saber humano que apontam na mesma direção: o álcool é mais "perigoso" socialmente (no sentido de gerar comportamentos violentos) do que outras drogas, como a maconha, por exemplo.
E é necessário fazer uma disntinção aqui. O artigo que coloquei, discute a influência das drogas na geração de comportamento violento. Nada mais. Talvez (e muito provavelmente), algumas drogas sejam mais prejudiciais que o álcool para o organismo das pessoas. Sabe-se que pessoas costumam degenerar muito rapidamente após o início do consumo de heroína, por exemplo. Isso é inegável, e vejo pouca gente discutindo isso. O que se discute é a influência dessas drogas no aumento da criminalidade, e como disse acima, atualmente parece ser quase uma unanimidade que o álcool é pior.
Algumas informações adicionais:
- de acordo com o World Drug Report de 1997 um traficante de cocaína, em média, lucrava US$72 por cada dólar gasto na exportação da droga;
- a proibição do álcool nos EUA, nos anos 20, fez com que seu preço aumentasse vertiginosamente... Os lucros do negócio ilegal possibilitaram uma maior organização do crime, distribuição de armas, corrupção de 30% da polícia... Vale lembrar que o consumo de álcool nos EUA, nessa década, dobrou.
(Para os interessados no assunto: Eliana Cardoso, no Valor de 27.07.06, escreveu sobre essa questão.)
Hah. Se alguém diz que álcool causa mais violência do que as drogas (proporcionalmente!), desconfio que algo esteja errado.
Por acaso os pesquisadores incluem na pesquisa todo mundo que toma bebidas alcoólicas ou só quem fica bêbado?
Bom, em todo caso, tenho uma pergunta, Werther: qual o critério para decidir quais drogas seriam ou não liberadas? Você acenou para aquelas drogas que causam mais comportamentos perigosos; mas segundo suas próprias pesquisas o álcool parece liderar esse grupo, e não creio que você defenda a proibição das bebidas acoólicas.
Bom Joel, ai é uma questão de olhar os trabalhos e tirar a dúvida. Mas não resume apenas a pesquisas estatísticas, existem evidências biológicas de que o álcool gere maior propensão para comportamentos violentos que algumas outras drogas.
Quanto a sua outra pergunta, ai é necessária uma maior reflexão. Inicialmente estou propenso a acreditar que o álcool seria um bom limite nesse sentido, não podendo ser ultrapassado.
Lego, esse é um dos melhores artigos que já lí no blog de vcs! =D Está de parabéns!!!
Dias atrás estava comentando com meu cunhado, que é Neurocirurgião e ele comentou que algumas drogas provocam dano cerebral de forma irreversível e não apenas mudanças comportamentais nos seus usuários! Mas isso tbm ocorre com os usuários de cigarro, que tem lesões pulmonares e nos de bebidas alcoolicas, que tem danos no fígado, por exemplo!
Mas a discussão ficou em torno da facilidade com que se pode comprar drogas hj em dia! Quem quer usar usa sem grande dificuldades. Então, em vez de proibir, que gera corrupção e violência por causa do contrabando, pq não regulamentar e arrecadar impostos em cima dessa atividade?
Minha opinião pessoal é de que só a maconha deveria ser liberada sem nenhum tipo de restrição quanto ao uso!
No mais, entre meus conhecidos que trabalham em hospitais a maioria absoluta afirmam que a maioria dos casos de violência domestica que aparece por lá é causado pelo consumo de alcool e não de drogas ilícitas.
Uma outra importante questão a ser colocada é com relação a discriminalização do uso da droga. Os usuários e dependentes químicos não podem ser tratados pela lei como criminosos, quando na verdade precisam de acompanhamento médico e psicológico.
Um abraço!
Eu acho que realmente o uso das drogas `e algo super perigoso, e deve ser proibido, porque , as pessoas sofrem grandes consequencias atraves dessas "Drogas"!!
o que podemos fazer `e proibir!!
alguem me da uma resposta sobre isso, porque vou fazer um texto pra muitas pessoas e preciso ter certeza do que falar!
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