sexta-feira, agosto 25, 2006

O problema Juros

Um dos muitos temas da nossa economia é a questão referente a Taxa de Juros no nosso país. Diferente do que uma candidata a presidência falou, uma das principais ferramentas da taxa de juros é controlar a inflação da economia, já que o preço do crédito fica mais alto e assim as pessoas irão ter menos incentivos para consumir.

Ultimamente estamos passando por uma queda na taxa básica de juros (hoje em dia em 14,75%) e a principal discussão é em relação a velocidade da diminuição da taxa de juros pelos bancos privados e o elevado Spread dos bancos. Para quem não esta muito familiarizado com esse termo, spread é a diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa efetiva cobrada dos clientes. Ou seja, a diferença entre a taxa na qual os bancos investem o dinheiro e a taxa que eles cobram do consumidor.

Para se ter uma idéia da magnitude desses números, a taxa de juros de empréstimo para pessoa física caiu apenas 1,5 ponto (54,3% ao ano em média) e o spread desta operação esta em torno de 39,7%, uma queda de apenas 0,9 ponto de acordo com a ultima pesquisa do Banco Central. Para se ter uma idéia o nível médio dos spreads é o menor desde 1994.

Depois de uma série de dados temos que tentar entender como esse cenário se sustenta no país por mais de 10 anos e como ele pode ser modificado.

Parece-me que um dos principais problemas do sistema bancário é a falta de competitividade dos bancos. No nosso país, temos uma alta concentração dos depósitos e operações financeiras centradas em, no máximo, 5 bancos que operam com taxas bancárias parecidas, desfavorecendo a competitividade. Alem disso, não existe uma mobilidade plena dos salários nos bancos. Normalmente, se uma empresa Y tem uma conta no Banco X, seus funcionários só podem receber seu salário em conta se tiver conta no mesmo banco X.

Outros dois pontos relevantes para essa discussão é o nível de inadimplência do pagador, que nos últimos anos vem aumentando consideravelmente e o nível do compulsório que o governo coloca aos bancos, este último influenciando fortemente na quantidade de crédito que o banco pode disponibilizar para a população. Com uma maior quantidade de crédito, a taxa de juros dos mesmos tende a diminuir, o que favorece a diminuição do spread.

O atual governo esta tentando colocar algumas medidas, como o DOC reverso, que tem como objetivo dinamizar um pouco mais o mercado bancário e facilitar a mobilidade de capitais entre os mesmos.

Essas distorções do mercado traduzem a falta de ineficiência de algumas áreas do sistema bancário do país que o próximo presidente e sua equipe devem se preocupar e achar soluções possíveis para acabar com essa oportunidade de ganho fácil dos bancos.

3 comentários:

Joel Pinheiro disse...

Boa lembrança, Chico: nosso sistema bancário não é caracterizado pela livre concorrência, e sim por um cartel regulamentado e sustentado pelo governo. Isso faz com que seus serviços sejam mais caros e de qualidade mais baixa do que seriam se houvesse concorrência.

No entanto, não podemos nos deixar iludir pela diminuição do compulsório bancário: isso é apenas dar aos bancos ainda mais poder de emprestar aquilo que eles não têm, de criar dinheiro do nada (que não cria riqueza alguma!).
Eles só podem fazer isso porque o Banco Central garante sempre uma quantidade a mais de dinheiro para cobrir o rombo dos bancos.

Mas permitir que esse rombo ocorra (ao se permitir um compulsório menor do que 100%, que é na prática permitir a fraude) não ajuda a sociedade. Sim, faz o crédito ficar mais barato, mas artificialmente mais barato; não há poupança para todos os empréstimos que são feitos. Em outras palavras, muito investimento não vai ser completado, e só foi iniciado por causa da "ilusão" criada pela permissão que os bancos têm de emprestar além do que eles têm.

Werther Vervloet disse...

Vale lembrar, também que nosso sistem judiciário favorece em larga medida a existência desse alto spread.

Como bem sabemos, aqui diferentemente de outros países mais desenvolvidos, um banco sofre poucas e boas para conseguir na justiça que um consumidor inadimplente pague o que deve, muitas vezes ficando "a ver navios". Tudo isso faz com que o risco das operações seja maior de uma maneira geral, e prejudica a economia como um todo.

Aliás, essa parte faz um link com meu artigo passado, sobre direito de propriedade.

Luiz Felipe Amaral disse...

Os juros também contraem a demanda agregada via diminuição dos investimentos. Aliás, os primeiros modelos macro (falivelmente keynesianos) nem contemplavam a contenção de demanda via crédito e consumo causada por uma alta de juros.

Também seria interessante discutir a neutralidade da moeda.