quarta-feira, agosto 09, 2006

Na hora da discussão

Não me surpreende a atitude tomada pelo nosso presidente da república quando questionado se ia ou não participar de debates políticos. Além de enrolar como todo político médio tenta fazer, ele deixou claro que dificilmente irá participar dos debates políticos com medo (sim, medo!) de ataques dos adversários em relação aos inúmeros casos de corrupção que foram evidenciados e confirmados pelas CPIs que foram instauradas na sua gestão.

Esse fato, de não querer participar do debate político, não é um mérito apenas do atual presidente da república. Como bem sabemos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o atual candidato ao governo de São Paulo José Serra também tiveram atitudes parecidas quando questionados em 98 e para as eleições desse ano quanto a participação nos debates, respectivamente.

Nesses casos, é claro que o político está no topo das pesquisas e não quer arriscar perder votos por causa de alguma discussão ou debate político no qual ele perca ou fique mal visto pelos espectadores. O político prefere maximizar seus votos ao invés de contribuir positivamente para o processo democrático do nosso país. É preciso lembrar que estes mesmos, graças aos mesmos debates políticos, conseguiram consolidar a campanha eleitoral com sucesso e foram eleitos em seus respectivos cargos (José Serra foi eleito prefeito apesar de ter saído com menos de dois anos de mandato).

Como bem sabemos, nosso país sofre com o processo democrático mal organizado. Os debates políticos são realizados apenas para os cargos mais altos do governo e pela mídia como forma de ganhar ibope, já que a eleição vira moda e aumenta o preço das propagandas no horário do debate. No final das contas, acabamos esquecendo que o plenário é tão importante quanto qualquer outro cargo e tem tanto poder que pode promover esquemas de corrupção de milhões de reais.

Outro problema é a falta de cultura política dos brasileiros que votam. Nossa população não tem a cultura de procurar saber sobre o candidato no qual irá votar (sim, eles decidem o nome do candidato antes de saber quem ele é direito e acabam elegendo até o ex-barbado que falava grosso) e aposto que muitos candidatos que foram acusados de participar de esquemas de corrupção irão se candidatar e provavelmente vão sentar mais uma vez nas cadeiras do plenário como se nada tivesse acontecido.

Estar envolvido com a política e com a informação são ferramentas fundamentais para o bom andamento da política e do processo eleitoral que, hoje em dia, não tem capacidade nem de provocar uma mudança consistente nos valores da política.

5 comentários:

Anônimo disse...

De fato, observamos no Brasil uma democracia na qual falta qualidade nos partidos e candidatos (mal preparados, com bases teóricas frágeis e propostas ridículas), sobra quantidade (na maioria ratos em busca de algo para roer, parasitas em busca do "maior hospedeiro"... Os poucos que buscam melhorar o país, e não estão apenas atrás de benefícios, são os iludidos, os que acreditam na miragem do socialismo e o defendem publicamente ou então seguem idéias de esquerda "maquiladas"...) e que a cada eleição torna-se menos parecida com a "deliberative democracy" (Elster) que, para mim, seria a forma mais interessante de democracia (que, infelizmente, exige de seus participantes um nível de formação intelectual raro neste país).

Anônimo disse...

A democracia direta (Grécia Antiga, Canadá, Suíça...) que requereria um nível, provavelmente, ainda mais elevado de educação também é merecedora de atenção.

Parece-me claro que o desempenho da democracia num país depende da "educação" deste... Seria um sistema fadado ao fracasso em países como o nosso?

Joel Pinheiro disse...

Minha questão é:
será que se todo mundo se interessasse mais, se gastassem mais do seu tempo se informando sobre os políticos, lendo suas propostas, se as TVs promovessem debates de candidatos a cargos menores, se cada eleitor pensasse bem em quem vai votar, comparando as propostas de cada um, em suma, se participássemos mais do processo democrático, será que ia mudar alguma coisa?

Não sei, tendo a pensar que ia ficar tudo na mesma. Não tem opção, não tem alternativa. Existem apenas os consensos da maioria, que podem estar (e freqüentemente estão) errados.

Então, se por um lado eu bem que gostaria que todo mundo se interessasse mais pela política, por outro não sei se mudaria muito. Quiçá até pioraria, pois quanto mais "educada" (pelos padrões da nossa civilização moderna) fica a pessoa, parece que piores ficam suas idéias políticas.

Espero estar errado, e se depender da vontade da maioria das pessoas, nunca saberemos.

Anônimo disse...

O grande problema da democracia é confundir o seu exercício com a possibilidade de eleger nossos representantes.
Citar o exemplo da Grécia antiga como exemplo tbm é furada, pq o conceito de democracia que eles tinham não é o mesmo que temos hj em dia. Por exemplo, as mulheres, os metecos, e as pessoas das camadas sociais inferiores não participavam desse processo. Apenas um grupo privilegiado de aristocratas do sexo masculino. Será que dentro do conceito que temos de democracia que temos hj isso seria "democrático"?
Democracia tbm nnão tem a ver com o regime de governo e nem com a sua forma. Ditadura e democracia não são excludentes por exemplo, e muita gente não consegue compreender isso! Assim como um governo monárquico tbm pode ser absolutamente democrático! O regime, seja ele de esquerda ou de direita, da mesma forma que podem ser exercidos de forma democrática, tbm podem ser antidemocráticos!
Isso são coisas que devem ser pensadas pela maioria das pessoas, porque democracia significa um governo que representa os interesses da maioria, para ser mais exata, democracia é o poder que emana do povo. Isso nada tem a ver com como ele é exercido! Sacou?
Só escreví isso por causa de alguns comentários, pq o artigo em sí está perfeito! Parabéns para o autor! \o/

Anônimo disse...

Comentário do HEITOR DE OLVEIRA.
Concordo,em parte,com a opinião do Sonja,Democracia não é só eleição;mas devo retificar que a democracia não é o mesmo que tirania da maioria,democracia é uma doutrina de direito competente,um exemplo disso é a questão sexual,decidir sobre a escolha sexual não é de competência da maioria,mas de cada indivíduo isoladamente;por outro lado questões como saúde pública são de competência de todos,educação e emprego para todos também;por isso defendo que para haver democracia deve haver uma mínima noção do que é público e privado,competente e incompetente.
NO aspecto formal de política,defino democracia como sendo a preservação das liberdades civis unida a uma política estatal e comunitária de desenvolvimento econômico;sou contrário ao neoliberalismo.