terça-feira, agosto 29, 2006

Desemprego Total Gerado por Máquinas: Zero

Todo dia milhões de pessoas usam o telefone. Quando desejamos nos comunicar com quem está longe, nada é mais fácil do que tirá-lo do gancho e fazer uma ligação. Parece, ao olhar do homem comum, uma operação inocente e perfeitamente aceitável. Mas engana-se mortalmente: esse singelo aparelho rouba diariamente o sustento de milhões de seres humanos! O uso dessa máquina condena a humanidade à miséria! A quem duvida dessa dolorosa verdade, basta apontar a prova: se não houvesse telefone, ou se seu uso fosse proibido, todo mundo precisaria mandar suas mensagens por meio de mensageiros contratados; a demanda pelos serviços do correio seria muito maior do que ela é hoje, empregando assim muito mais funcionários. Esses funcionários, com o salário que ganhariam, comprariam muito mais produtos, fazendo assim a economia produzir mais, levando-nos, assim, a um patamar de prosperidade de sonhos. Mas, dado que a máquina telefônica existe e sua utilização é permitida, a pobreza reina incontestada.

Que os leitores deste blog não se ofendam com a patente absurdidade do raciocínio acima. Ele é apenas uma versão explícita e exagerada, mas essencialmente idêntica, de um argumento totalmente falacioso que convence a grande maioria dos que a ele são apresentados: máquinas exercem funções que poderiam ser exercidas por homens, e portanto tiram empregos de homens, e portanto aumentam a pobreza. Na verdade, em termos líquidos, nenhuma máquina jamais gerou desemprego algum em qualquer sociedade; pelo contrário, apenas aumentou a riqueza: liberou mão-de-obra e recursos para que se dedicassem a outras atividades e assim satisfizessem desejos humanos que antes não eram satisfeitos.

Voltemos à imagem da casa de família de alguns textos atrás: pai, esposa e filhos. Todo dia de manhã o filho mais velho levanta e rega as plantas do jardim, e gasta nisso meia-hora. Um belo dia, tendo juntado algum dinheiro, o pai compra um regador automático para as plantas e instala-o no jardim. Deveria o filho se preocupar e protestar contra essa máquina, dado que ela o deixa sem ter o que fazer? Não, pelo contrário: agora o filho tem mais meia-hora disponível em seu dia, a qual pode dedicar à leitura, à interação com a família, a consertos pela casa, à oração, às artes ou a qualquer outro fim que lhe convier. A casa como um todo enriquece com a instalação da máquina, que permite a realização de novas atividades.

Quando instalamos um telefone e deixamos de usar os correios, economizamos nossa renda e nosso tempo, que poderão agora se destinar a novos fins, e satisfazer mais desejos nossos. Da mesma forma, quando um industrial do ramo de eletrodomésticos instala máquinas e despede trabalhadores, ele não está gerando desemprego algum. O ex-funcionário da fábrica perdeu seu emprego, e terá que achar uma nova função para si. Ao mesmo tempo, no entanto, a economia de recursos na produção da geladeira faz com que seja possível produzir coisas que antes não seriam produzidas, e cria assim novas oportunidades de negócios, as quais geram, por sua vez, empregos. A diferença entre antes e depois da instalação da máquina é que, com os mesmos recursos, produz-se agora mais do que era possível anteriormente.

O trabalho não é em si algo bom; não é um fim em si mesmo. O trabalho é apenas o meio para chegar ao fim que almejamos: os produtos e serviços que dele resultam, e com os quais os homens satisfazem suas necessidades e desejos. Aumentar o trabalho às custas do produto do trabalho é aumentar o sofrimento e a pobreza às custas da abundância e da felicidade. É instalar uma lâmpada que, consumindo mais eletricidade, produz menos luz; ou, nesse caso, quebrar a lâmpada, trocá-la por um fogareiro e pagar alguém para mantê-lo aceso.

18 comentários:

Anônimo disse...

Excelente artigo, Joel.

O único aspecto negativo é que um texto em defesa da tecnologia tenha que ser escrito, em pleno Brasil do século XXI. Sinal de que a questão ainda é objeto de polêmica...

A nós, brasileiros, ainda cabe entender (com tristíssimo grau de atraso) que a luta contra o desemprego não encontra seu inimigo na tecnologia, mas sim na crescente e absurda regulamentação do mercado de trabalho.

Werther Vervloet disse...

Eu acho que o grande problema é que as pessoas não conseguem fazer essa análise estrutural de longo-prazo feita no artigo.

Ao se conversar sobre esse tema, a grande maioria das pessoas já pensa no pobrezinho do cortador de cana, que foi substituído por uma ceifadeira automática, e etc. Realmente, no curto prazo muitos trabalhadores perderam seu emprego, e levará algum tempo para que consigam se reinserir no mercado. Mas, certamente isso ocorrerá, trazendo os benefícios citados.

Pra finalizar, vale ressaltar que a crescente aplicação de máquinas tem enorme papel na redução de custos, tornando assim acessível uma gama enorme de produtos à população.

Imaginem quanto custaria um computador todinho feito à mão, sem emprego algum de máquinas...

Anônimo disse...

Bastiat, há mais de 150 anos atrás, já provara isso, basta ler o texto sobre a pedra que quebra a janela, cujo nome esqueci :\

Aliás, seu texto está bastante parecido :P

Anônimo disse...

Olá Joel,

Muito bom texto, mas fiquei com uma dúvida. Existem infinitos desejos insatisfeitos em que "os recursos e mão-de-obra liberados" pelas máquinas poderão se concentrar? E a criação dos novos postos de trabalho será exatamente na mesma medida dos postos de trabalho extintos?

Não que eu defenda o ataque às máquinas, mas não estou convencida de que o desemprego gerado pela substituição por elas será mesmo zero.

Joel Pinheiro disse...

Kneca, o nome do texto é "O que é visto e o que não é visto" (traduzindo para o português, apesar de, até onde eu saiba, não existir versão portuguesa dos textos de Bastiat). Em todo caso, recomendo fortemente a leitura de Frederic Bastiat a quem quer que se interesse por economia. É fácil encontrar textos dele na Internet.

Maria Gabriela, será que sempre existirão desejos insatisfeitos? Enquanto houver alguma pessoa que não tenha tudo aquilo que ela consideraria ideal, sim.
E se chegássemos no estado em que todas as demandas já foram satisfeitas, não teremos muitos desempregados? Não. Pois se alguns ficam desempregados e passam por necessidades, então falta algo a essas pessoas, e elas podem, entre si, trocar seus serviços e assim empregar-se e melhorar de vida.
Nunca é e nem é possível que seja por falta de demanda que uma economia tenha pobreza.

Será que a quantidade de empregos gerada nos outros setores da economia compensa os perdidos no setor em que se instalaram as máquinas?
No prazo imediato é impossível de dizer; pode ser que os novos setores gerem mais ou menos empregos do que o setor que recebeu máquinas. O que se sabe é que a riqueza da sociedade é necessariamente maior agora que as máquinas foram instaladas.
E lembremo-nos que o trabalho não é um fim em si mesmo, e sim o meio pelo qual produz-se os bens e serviços que para nós têm valor.
No longo prazo, se houve um aumento de desemprego com as máquinas, ele é integralmente compensado, pois gente desempregada significa oportunidade de ganho para quem tem algo a oferecer para elas (e ganha em troca o trabalho dessas pessoas que está ocioso).

r.ihara disse...

É irrelevante pensar se haverá desemprego total zero ou não.
Uma questão relevante que não foi levantada é: o papel do Estado para amenizar os danos locais causados pela a adoção de novas tecnologias, ou seja, capacitar os trabalhadores desempregados para novos cargos, um auxílio desemprego, criação de empregos temporários, etc.

Joel Pinheiro disse...

Caro Ihara, não vou entrar muito em qual seria o papel do Estado nessa situação em que uma máquina foi instalada e algumas pessoas perderam seu emprego.

O que posso adiantar, e isso será tema de artigo próximo meu, é que o governo não pode nunca criar emprego algum.

Também levanto uma questão: como avaliar se o gasto do governo em capacitar trabalhadores valeu a pena ou não? Ou seja, como saber se o benefício gerado compensou o gasto nesse caso?

Anônimo disse...

Joel

Existem os chamados "efeitos laterais". Os gastos, como bem dito por vc, não podem ter seus retornos avaliados de maneira objetiva, mas subjetivamente melhoram as condições gerais da sociedade, proporcionando bem-estar, esta não na forma de assistencialismo, mas na forma de riqueza.

Lembrando que estou falando apenas dos gastos que geram "efeitos laterais".

Talvez eu mude meu pensamento sobre isso num futuro próximo ou distante, mas minha crença é que estes gastos auxiliam no desenvolvimento da riqueza de um país.

Anônimo disse...

O ponto discutido é, na escala apresentada, extremamente equivocado. É óbvio e não demanda genialidade alguma, perceber o nítido desenvolvimento economico que o avanço tecnologico oferece. A frieza racional automatica é substituto eficiente à mão de obra humana, não há dúvida. A escalada tecnológica é inexorável, e, por assim dizer, desejada pela humanidade. Porém acreditar que o remanejamento humano é algo "natural", como foi dito por alguem, é de uma falta de práxis no entendimento da economia que assusta a qualquer um. A "vitória" do novo "tempo livre" (Domenico de Masi que o exalte) não pode ser entendida como uma entrega ao ócio como desejado no séc.XIX, mas sim como uma excludente desvalorização da mão-de-obra desintelectualizada que cada vez mais será extirpada do séc.XXI. Desatrelar a geração de empregos da política estabelecida por um estado é uma das afirmações mais reacionárias e provavelmente deve ser herdeira do legado de "Robert Fields", que foi embora tardíssimo por sinal. Outra coisa que é assombrosa e surgiu em muitos dos comentários, com a devida certeza da falta de profundidade gerada por analises rapidas e superficiais dos blogueiros mundiais (salvo raras exceções), é a hilária noção de "enriquecimento do país" ou "da sociedade"; bom...realmente um comentário dessa categoria originado de alguém que mora no Brasil ou é piada ou estamos defronte de uma ingenuidade assombrosa. O grande problema, já que todos devem estar me xingando demais a esta altura, é que os "grandes" economistas deste país ainda estão, no que tudo parece, atrelados à modernidade (vide história da arte por favor e não o conceito de modernidade da rede globo ou do google) e estão perdendo a evolução da humanidade, enganando-se nos frutos (podres) que o neo-liberalismo nos oferece, agora não mais com a cobra e sim com o powerpoint. Finalizando, devo também dizer que voces que aqui escreveram são a reserva intelectual deste país, assumam o seu papel de elite de uma vez! Assumam a responsabilade que a elite tem de transformar e adicionar e não deixem a maya neo-liberal anuviar suas percepções do mundo.

Joel Pinheiro disse...

"Remanejamento humano": algo natural?!?

Não fui sequer capaz de entender o teor de sua crítica, ultraseven, tão confusas que parecem estar as idéias nela expostas.

Como pode um Estado ter políticas de geração de emprego? Isso é impossível.
Um emprego é gerado apenas da seguinte maneira: uma pessoa quer ter algo, e para ter esse algo precisa de trabalho. Ao invés de trabalhar ela mesma, oferece algo em troca do trabalho de outra.
Pronto, "gerou-se" o emprego, sem política alguma!

E afinal de contas, é possível falar em enriquecimento da sociedade ou trata-se de "ingenuidade assombrosa"?

Ora, antes da instalação das máquinas a quantidade de recursos X era usada para produzir q bens e serviços.
Depois da instalação das máquinas, que baratearam a produção, a mesma quantidade de recursos X produz agora (q + h) bens.
Riqueza é a quantidade total de bens e serviços disponíveis às pessoas em uma sociedade (impossível de ser medida por sinal; mesmo o PIB leva em conta apenas aqueles bens e serviços os quais compramos).
Portanto, fica demonstrado como, em qualquer situação em que o uso de máquinas valha a pena e seja colocado em prática, a riqueza da sociedade aumentou (e como foi visto não se perdeu empregos! Alguns ficaram sem emprego e novas oportunidades abriram-se a outros).

No fundo, suas críticas partem de um entedimento muito deficiente das ciências econômicas, bem como uma filosofia "evolucionista" que nega a existência da verdade, condicionando-a à época em que se vive.
As conclusões traçadas acima não foram válidas para um época apenas. São universais, válidas em todos os lugares e em todos os tempos.

Anônimo disse...

Desculpe mas voce não está interpretando nada corretamente.

"Como pode um estado ter políticas de geração de emprego? Isso é impossível." Meu caro voce jogou a historia social e politica da humanidade na latrina, voce não pode estar falando sério. E isso nem merece ser retrucado. Voce deveria falar melhor sobre isso com um professor.

O que voce defende é a pura exploração da mão-de-obra, o seu conceito de emprego é o mais básico possível.

Se voce acha que tenho deficiencia em entender ciencias economicas eu só posso lhe dizer que voce não possui nenhum conhecimento cientifico de qualquer especie. Tudo o que voce diz são um monte de besteiras já abandonadas pelos atuais "grandes" intelectos da economia mundial, tanto direitistas quanto esquerdistas, e, já que voce parece com certeza estar iniciando sua reflexão de mundo, vou lhe adiantar algo para que voce não perca anos da sua vida para entender.

"As conclusões traçadas acima não foram válidas para uma época apenas. São universais, válidas em todos os lugares e em todos os tempos." --> Isso é a sintese de um pensamento MODERNISTA meu caro amigo. Voce esta ERRADO em suas conclusões por pelo menos 150 anos. "Universalista" foi o mesmo conceito usado para justificar o holocausto judaico pelos nazistas. Voce não possui conhecimento crítico algum de história.

E o mais grave é voce babar um conceito de VERDADE sem ter a menor ideia de toda a discussão filosofica (e isso esta óbvio pelas suas palavras) acerca da sua "VERDADE" que abarcou o séc.XX.

Basta lhe dizer que tal qual a sua teoria, já foram consideradas verdades absolutas, a terra plana, a relatividade e as supercordas.

Bom, agora voce deve estar muito puto comigo e com razão. Eu deliberadamente entrei no seu blog e estou fazendo comentários impertinentes e tomando o seu tempo. Então fica-lhe ao menos um consolo, eu só lhe escrevi porque achei em suas palavras uma inteligencia latente e um esforço admirável, acredito piamente que voce é o tipo de pessoa realizadora e obstinada com o conhecimento da sua matéria, que não tenho dúvidas, voce irá ao longo dos anos dominar com maestria.

Só será uma pena se voce se negar a dominar os outros campos tão necessários para afinar a sua intelectualidade.

E peço-lhe novamente: Entenda essa perigosa palavra "universal" que voce usa deliberadamente. Não seja mais MODERNO, seja CONTEMPORANEO.

Joel Pinheiro disse...

Sou anti-moderno, ultraseven.

E continuo com o que a razão prova ser verdadeiro:
Se uma máquina é instalada numa indústria, ela economiza recursos na produção, e assim libera recursos para outros setores da economia.
Não se perde emprego algum.

Se amanhã um político baixar lei que proíba o uso de máquinas nas linhas de montagem, nenhum emprego extra será gerado.
Cada centavo extra que fôr destinado a pagar os trabalhadores novos nas linhas de montagem terá saído de outro ramo de atividade ao qual se destinava antes da lei.

Leis que proíbam qualquer economia de custos na produção apenas aumentam a dificuldade, aumentam os custos, da produção. Forçam que produzamos menos com a mesma quantidade de recursos.

Não geram emprego algum. Geram apenas pobreza.

Espero que você tenha entendido.

Recomendo também que você leia o artigo "Afinal, A Verdade Existe?" que se encontra nos arquivos deste nosso blog:
http://tavista.blogspot.com/2006/05/afinal-verdade-existe.html

Anônimo disse...

Obrigado pela dica lerei com certeza.

O que voce afirma é corretíssimo acerca do emprego da tecnologia nos meios de produção, não há duvidas. O que questiono é usar o princípio da razão "kantiana" na tomada de decisões na economia.

Agora, a questão é, em cima do que voce disse, será, por exemplo, a CLT, um fator negativo à economia em geral?

Joel Pinheiro disse...

Negativíssimo!

Anônimo disse...

Entendi. Realmente pode ser que voce tenha razão.

Anônimo disse...

Joel, e os "efeitos laterais"? Elucide a minha mente =)

Joel Pinheiro disse...

Sim, kneca, é uma forma de se tentar avaliar gastos públicos.
Mas também haveria efeitos laterais no caso de investimentos privados.
Portanto, fica difícil comparar.
E já que o governo não tem a preciosa informação fornecida por lucros e prejuízos, ele não tem como saber se seus gastos valem a pena ou não.

Uma ponte possibilita que uma vizinhança encurte seu tempo de transporte. Isso sem dúvida é bom. Mas será que isso compensou o que foi gasto para construir e manter a ponte? Impossível do governo saber.

Anônimo disse...

Ficar desempregado e mesmo duro ! Indico este site para ajudar a galera que esta desemprega: Empregos, Estágios & Concursos

Abraços.