segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Lucro ou Ação Social?

Um negócio prospera se satisfaz os desejos dos consumidores de forma eficiente. A empresa que cobra caro por um mau serviço ou muda ou desaparece, pois o consumidor preferirá comprar de outra. É assim que funciona o mercado, e é assim que as empresas ajudam a sociedade; esse é seu papel social. Uma empresa lucrativa é uma empresa que criou muito valor. O lucro é a indicação de que ela tem cumprido bem seu papel social, e é a própria sociedade que a premia. Já uma empresa que dê prejuízo destrói valor. Essa empresa tem falhado em cumprir seu papel social. É bom que, se ela não sair do vermelho, ela vá à falência. Uma empresa cumpre seu papel social ao prestar seus serviços aos consumidores, perseguindo o lucro.

E não ao dar dinheiro a caridades ou praticar “ações sociais”. Nada contra tais iniciativas; o que acontece hoje em dia, no entanto, é que as empresas procuram se justificar por meio de suas ações sociais: pelo número de ONGs que ajudam, pela quantidade de lixo que reciclam, etc.

As próprias empresas encaram esses gastos como marketing, algo que fazem para aparecer bem. No longo prazo isso as faz aparecer mal. Pouco a pouco se reforça a idéia de que a empresa de sucesso chegou lá porque explora a sociedade. O empresário que enriqueceu o fez às custas de seus consumidores e trabalhadores; contraiu uma dívida que deve ser paga com ações sociais. O lucro alto provoca reações similares a um grande crime. “Como pode uma empresa lucrar tanto? Com tanta gente passando fome...”; mal sabem que são exatamente as empresas e pessoas lucrativas que contribuem para o fim da fome. Deveriam se perguntar: “Como pode uma empresa criar tanto valor?”

O lucro do empresário não é uma exploração. É o resultado de sua capacidade acima da maioria de oferecer às pessoas o que elas querem. Imagina-se a riqueza da sociedade como um bolo, que existe por si só; se um empresário pega uma fatia grande, é porque outros ficaram com fatias pequenas. Mas as benesses comumente consideradas dados da realidade, ou “direitos” os quais seria criminoso não atender, são, na verdade, fruto do trabalho de empreendedores que viram necessidades não atendidas e a oportunidade de atendê-las. Sem eles, o mundo pararia.

Se usar papel reciclado for de fato econômico para a empresa, é ótimo que ela o faça. Por outro lado, se isso aumentar seu custo sem nenhuma vantagem, então é uma ação que destrói valor. Mas e se esse gasto com marketing se reverter em mais vendas, dado que os consumidores são “conscientizados” e valorizam esse tipo de coisa? É verdade, nesse caso a empresa está maximizando seu lucro e criando valor para os consumidores (assim como um charlatão que vende poções mágicas para crédulos ignorantes também cria valor para eles).

Mas esse benefício no curto prazo tem seu custo no longo. Quanto mais as empresas pedirem perdão por existir, mais forte fica a convicção de que elas são essencialmente más. Uma ou outra empresa beneficia-se com um dúbio marketing; toda uma cultura tem suas bases corroídas. As ações sociais têm sim trazido alguns benefícios sociais; mas as pilhas acumuladas de vítimas desconhecidas também não são pequenas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Quando vc diz (negrito meu):

Se usar papel reciclado for de fato econômico para a empresa, é ótimo que ela o faça. Por outro lado, se isso aumentar seu custo sem nenhuma vantagem, então é uma ação que destrói valor. Mas e se esse gasto com marketing se reverter em mais vendas, dado que os consumidores são “conscientizados” e valorizam esse tipo de coisa?É verdade, nesse caso a empresa está maximizando seu lucro e criando valor para os consumidores[...]

Bom, economicamente falando vc tem que concordar que não há destruição de valor uma vez que este é um custo com uma vantagem (suprir a necesidade do consumidor "conscientizado"). Juízo de valor é algo subjetivo, se os gentes envolvidos valorizam mais agir de tal forma (a empresa faz porque prefere agradar clientes conscientes, o cliente escolhe os produtos desta empresa porque o prefere em relação ao outro), não há destruição de valor. Pelo contrário.

OK, mas continunado com o seu post, logo depois vc diz que a empresa que usa papel reciclado cria valor para o consumidor da mesma forma que um charlatão [...] vende poções mágicas para crédulos ignorantes. Bom, eu discordo.

O seu exemplo de embalagens recicladas é uma coisa que eu vejo como essencialmente boa. Não vejo qual é suposta degradação moral que existe em consumidores que preferem consumir de empresas que tentam minimizar seu impacto nos recursos naturais do planeta. Pelo contrário, eu acho isso uma posição muito mais ética por parte dos consumidores e das empresas, pensar nas próximas gerações. Eu acho a idéia de produtos e serviços ecologicamente responsáveis como algo bom: o que tem de errado em exigir embalagens que não vão permanecer poluindo o planeta por mais uns 300 anos?

Isto é algo completamente diferente do exemplo do charlatão. OK, no exemplo do charlatão mesmo sabendo que economicamente está se falando de uma alocação eficiente de recursos com o conhecimento que os agentes têm, objetivamente é possível dizer que os meios empregados para alcançar tais fins estão errados. Mas isso é diferente do caso de embalagens recicláveis, usando seu exemplo. Usar embalagens recicláveis É REALMENTE uma maneira eficaz de diminuir o impacto ambiental de um dado produto, e se os consumidores VALORIZAM mais um produto com uma embalagem reciclável, o que há de errado nisso?

Também não vejo como isto cria uma mentalidade nociva. A questão não é bem que a empresa precisa se desculpar pelo lucro, mas que seus clientes preferem que elas supram seus desejos, que incluem ficar com a consciência mais tranqüila por estar consumindo de uma empresa "gente boa".

Po, isto é o melhor exemplo de como não é necessário o uso da força para que as empresas siguam determinado tipo de código de conduta, que se algo é valorizado pela sociedade, as empresas o farão. Isso é o melhor exemplo de como o mercado works for everybody e vc ainda reclama, cara?

Joel Pinheiro disse...

Exemplo do papel reciclado: quando disse que ele destruía valor, era supondo que a única diferença dele era o preço maior.
Depois, supondo também que as vendas da empresa aumentem, de fato, ele cria valor.

Usar papel reciclado, mesmo pagando a mais com isso, de fato contribui para a melhora da vida das pessoas (digo, supondo que elas não façam idéia que a empresa usa papel reciclado?) Não sei; acho que não. Sei que, com florestas privadas, essa questão poderia ser perfeitamente reduzida ao preço do papel.

Não tenho nada contra essas ações sociais em si, embora tenha minhas dúvidas se elas realmente são eficazes em seus objetivos. Algumas delas certamente são.

O meu problema está na forma como isso tem virado a justificativa da existência da empresa. Não há a menor dúvida: para muita gente, lucro alto é algo "absurdo!". O empresário é egoísta e ganancioso e explora a sociedade e seus trabalhadores. O empresário percebe isso e entra no jogo: "Vejam só, eu não sou mau não! Tudo bem, ganho meu lucro, MAS também financio essa ONG aqui, também penso nos outros."

Tudo isso é mercado operando, sem dúvida. São as pessoas livres para perseguirem suas idéias; uma liberdade que eu defendo mesmo se as idéias forem más. E nesse caso, essa idéia em especial é má, e se levada à sua conclusão lógica pode destruir essa mesma liberdade e muitas coisas boas que existem em nossa sociedade. As próprias pessoas que a defendem não percebem suas conseqüências destrutivas para elas mesmas.

Não sou a favor de forçá-las a ver diferente. Mas sou sim a favor de tentar convencê-las racionalmente.

Não é porque algo acontece livremente no mercado que esse algo é bom. A ciência econômica não faz juízos de valor, mas nem todo o conhecimento humano é ciência econômica.

Todo mundo quer beber veneno de rato porque acha que é o caminho da felicidade. Todo mundo compra veneno de rato. Todo mundo bebe. Todo mundo morre.
Um economicista (que faz a economia suplantar a ética) dirá: "bom, eles agiram de acordo com seus valores e a informação disponível no momento da melhor forma possível. A situação é eficiente! Viva!". Será que realmente é impossível fazer um juízo de valor objetivo e constatar que essa situação descrita é ruim, mesmo que as pessoas que bebiam o veneno achassem que era super legal? Certamente é possível.

A ciência econômica nada diz sobre valores. Mas nós, seres humanos, devemos sim pensar sobre eles.

Anônimo disse...

Esta resposta já foi dada em outro lugar, mas acho que é bom ficar registrada aqui também.

A respeito do seu longo comentário sobre como a análise econômica não deve ser o única fonte de julgamento da ação humana: eu concordo.

Meu último comentário direcionado a vc não se foca muito nisto (apesar de eu não ter podido de deixar de comentar o detalhe econômico de que não há destruição de valor naquele seu exemplo).


Vc disse em sua resposta:

Usar papel reciclado contribui para um mundo mais verde? Não sei te dizer; acho que não, mas não posso provar. O que eu sei é que, se florestas fossem todas privatizadas, esse tipo de dilema não ocorreria.

Contribui a partir do momento que os dejetos do papel reciclado não vão durar tanto quanto os de sacolas plásticos, para falar do seu exemplo. Não sei se vc sabe, mas para dar uma imagem da situação, no redemoinho subtropical do Pacífico Norte tem um amontoado de lixo plástico que dá pra ver do espaço. 90% do lixo marinho é plástico, principalmente de embalagens plásticas.

Segundo uma estimativa do programa ambiental da ONU feita há poucos anos, em algumas áreas dos oceanos a quantidade de dejetos plásticos supera a de plâncton em 6 vezes.

Não acho que seja necessário nem tantos dados, é meio que evidente que embalagens que durem centenas de anos menos para se degradar ou que podem ser recicladas contribuem com a desaceleração do aumento do estoque de lixo no mundo.

Mas essas informações são desnecessárias. Ainda que consumidores conscientes estivessem errados, vc parte do princípio de que a posição deles é moralmente degradante. E mesmo que eles estivessem errados, a posição ética é defensável: eles estão se preocupando com o futuro de novas gerações.

Sobre o ponto da mentalidade de que "ações social" são uma forma de desculpa de empresas por seu sucesso, como eu falei, isto pode até ser verdade para certos casos. Mas o exemplo que vc usa para ilustrar a sua posição, como eu também já disse, para mim não tem nada a ver com este tipo de caso.

Enfim. Acho que a mentalidade anti-lucro é algo a ser combatido, e é bem forte em nosso país. Mas não enxergo este tipo de coisa no exemplo específico ao qual vc se referiu no post do blog, o caso de embalagens ecologicamente corretas.