quarta-feira, março 19, 2008

Uso de células-tronco embrionárias: argumentos contrários

Discute-se a moralidade de se usar células de embriões humanos na pesquisa científica. O problema é que, para que essas células sejam coletadas, o embrião morre. E agora, o que será que tem precedência: o conhecimento científico ou a vida do embrião?

Esta discussão, como toda discussão ética, não pode ser resolvida com base na legislação vigente. O fato de uma ação estar ou não prevista em alguma constituição ou código de leis não muda seu caráter moral. Portanto, não vou me debruçar sobre a lei brasileira, e tratarei diretamente da ação em si mesma.

Um embrião humano é, biologicamente falando, um indivíduo; não é parte do corpo da mãe. Tanto é assim que tem DNA diferente do da mãe e é capaz, em condições artificiais, de existir fora de seu corpo (como é o caso dos embriões cujo futuro está em jogo). É um ser vivo individual. De qual espécie? Obviamente, da espécie dos pais. É, portanto, um indivíduo da espécie humana: um ser humano.

“Mas ele não tem nenhuma das características de um ser humano! Não tem nariz e nem braço!” – Essas são, de fato, as características de um ser humano adulto, que se desenvolveu plenamente. Todo homem adulto, no entanto, começou como embrião. O estágio embrionário é um estágio normal e natural do desenvolvimento humano. O embrião humano tem todas as características próprias de um ser humano da sua idade.

“Sim, é um ser vivo da espécie humana, mas não é um homem! Não tem sistema nervoso: portanto não sente dor e nem pensa! É como um pedaço de matéria bruta; não há problema, portanto, em tratá-lo como tal” – É bem verdade que o embrião ainda não desenvolveu seu sistema nervoso (como todos nós quando tínhamos essa idade). Mas isso dá o direito de tratá-lo como um objeto? Apliquemos o mesmo raciocínio a um outro estágio da vida humana. O bebê recém-nascido também não desenvolveu plenamente suas capacidades mentais: ainda não é um ser racional. A inteligência dele não é muito diferente da de um animal. Isso quer dizer que podemos tratar o bebê da mesma forma que tratamos os animais? Claro que não. Se o respeito à vida humana depende do desenvolvimento mental do indivíduo, então não há grandes problemas em se matar um bebê para se alimentar de sua carne!

“Se não usarmos os embriões congelados agora, eles vão ser destruídos de qualquer jeito!” - E se os usarmos, caímos imediatamente no círculo vicioso: mais embriões virão, e o que fazer com esses? Na prática, serão seres humanos feitos para ser assassinados. Dado que está estabelecido que o embrião é um ser humano e que sua vida tem a mesma dignidade dos outros homens, fica claro que a própria fabricação artificial de embriões deve ser proibida. Além do mais, não matamos doentes terminais para fins de pesquisa; por que deveria ser diferente com embriões, ainda que estejam fadados à morte? Na medida do possível, os embriões existentes e disponíveis deveriam ser implantados e gestados; se isso for impraticável, enterrados dignamente.

Ninguém nega a importância do progresso científico. Mas ele não deve ser feito às custas da humanidade! A ciência, assim como todas as atividades do homem, deve se pautar pela ética. Que tipo de sociedade seremos se aceitarmos que vidas humanas sejam criadas e destruídas para fornecer matéria-prima de tratamentos médicos?

sábado, março 15, 2008

Duas novidades quentes na Internet

A primeira novidade diz respeito diretamente a mim. Já foi ao ar o site do Instituto de Formação e Educação (IFE), do qual eu e o Luiz Felipe (membro inativo deste blog) fazemos parte. Nosso intuito? Criar, ou ao menos alimentar, uma cultura acadêmica de alto nível no Brasil. Temos dois projetos já em andamento: a revista de humanidades Dicta & Contradicta, que será lançada em breve, e alguns cursos ministrados no Universo do Conhecimento, em São Paulo. Quem valoriza o saber e o pensamento humano, e especialmente o patrimônio intelectual construído por nossa civilização ao longo de sua história, compareça.

Ao dizer que visamos criar uma cultura acadêmica no país, não desmerecemos os resultados das universidades nacionais. Apenas constatamos a existência de lacunas na formação humana dos estudantes brasileiros, que esperamos ajudar a remediar, por meio do debate intelectual e da troca de idéias.

O site do Instituto, com as informações sobre os cursos, é http://www.ife.org.br/

A segunda notícia, essa sem relação comigo, é o lançamento da versão brasileira do site do Instituto Mises. O site Mises.org é a melhor fonte de artigos sobre economia na Internet, bem como de livros online sobre a escola austríaca de economia. A versão brasileira, integralmente em português, é uma grande adição para os internautas nacionais.

Só espero que o site consiga manter uma distância analítica de certas posturas dos autores americanos que em nada contribuem para o conhecimento sério. Um exemplo é o artigo traduzido do Llewellyn Rockwell (que tem ótimos textos, por sinal), que começa com a seguinte afirmação: "A história da Escola Austríaca começa no século XV, quando os seguidores de São Tomás de Aquino, que escreviam e lecionavam na Universidade de Salamanca, na Espanha, procuraram entender e explicar toda a completa extensão da ação humana e da organização social."

Bem que eu gostaria que a Escola Austríaca tivesse começado com São Tomás de Aquino! Mas o fato é que ela data do fim do século XIX, e a ligação dela com o pensamento tomista, embora válida, é muitíssimo indireta. Os primeiros austríacos provavelmente nem sabiam da existência da escola de Salamanca. Bom, isso são detalhes.

Espero que o site brasileiro foque-se mais na produção de novos textos do que apenas na tradução dos americanos! E que tenham sucesso em educar o povo brasileiro nessa disciplina negligenciada e vilipendiada que é a economia!

O site do Mises Brasil é http://www.mises.org.br/

quarta-feira, março 12, 2008

Aforismos sobre a felicidade

Aproveitar o momento. Aproveitar? - Carpe diem! O importante é aproveitar o momento. Mas o que é aproveitar? Usar algo de forma eficaz para atingir um fim que se tem em mente. Para o aluno ginasial em risco de recuperação e que queira passar de ano, ter ficado a véspera da prova inteira no boliche com seus amigos não foi um bom aproveitamento do tempo. Para outro, que queria se integrar melhor com os colegas de classe, foi. Só sabemos quem aproveitou seu tempo se conhecemos suas finalidades.
.......Quem diz “carpe diem!” pensa em uma finalidade (aliás, costumam pensar sempre na mesma!); resta saber se ela deve ser perseguida; e, se não, qual outra em seu lugar?

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A felicidade NÃO é o caminho - “Depois de muito procurar a felicidade, descobri que ela não é destinação; é o caminho”. É claro que o caminho importa; todo mundo prefere chegar ao topo da colina por uma trilha na natureza em companhia dos amigos do que sozinho por um viaduto sujo, lento e pobre. Mas o caminho é bom ou mau apenas à luz do destino final. Mesmo tendo que atravessar São Paulo de ônibus (um passeio não muito agradável), o passageiro vai feliz por saber que se dirige à casa dos avós que não vê faz tempo. Já uma viagem de trem pelo continente europeu é algo lindíssimo; mas se o passageiro é um prisioneiro nazista e seu destino é o campo de Auschwitz, a viagem não será das mais alegres. Quem sabe uma cena de beleza natural ou da vida campestre seja capaz de distraí-lo por uns instantes; dado que seu destino é irremediável, esquecer-se dele enquanto dura a viagem não é má idéia. ..
.......Mas para nós, livres que somos para escolher nosso destino, esquecer-se dele e perder-se nos atrativos do caminho é o caminho para se perder. A qualidade da estrada é importante; mas mais importante é saber aonde ela leva.


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A felicidade de cada um NÃO varia conforme a opinião de cada um - Se uma pessoa alcança tudo aquilo que ela queria para sua vida, ela é feliz? Não necessariamente. Podemos dizer que ela está contente (isto é, contenta-se plenamente com o que tem), mas nem por isso é verdadeiramente feliz.
.......Um homem adulto cujo retardo mental lhe condene a ter, pelo resto da vida, a inteligência de uma criança de 10 anos, é objeto de compaixão, e nunca de inveja, mesmo que esteja plenamente satisfeito. Sabemos que, por mais contente que esteja, não alcança aquela felicidade da qual o homem é capaz. Dois copos de tamanhos diferentes podem ambos estar cheios até a boca; mas um terá muito mais água que o outro; ou ainda mais: pode ser que, ao invés de água, tenha vinho!
.......O homem do exemplo não tem qualquer culpa de sua situação. E todos aqueles que voluntariamente se condenam a vidas e a felicidades muito inferiores àquela que o ser humano poderia almejar? Quantos não deixam de lado a felicidade do homem adulto para procurar, não a da criança, mas a do porco? Em alguma medida, todos nós o fazemos. E já que buscamos a felicidade (a verdadeira felicidade, aquela que não se contenta com o medíocre), cabe perguntar: no que ela consiste, e quais são os meios à nossa disposição para alcançá-la? Aí estão questões que, seja quem for que nelas pense, terá aproveitado seu tempo.