quarta-feira, junho 29, 2011

As Moralistas da Slutwalk

Se passeio na Cracolândia à noite com um relógio de ouro à mostra falando no meu iPhone 5, há uma boa probabilidade de ser roubado. Se eu for roubado, a culpa é do assaltante, e não minha. Contudo, quem negará que a minha conduta aumentou a probabilidade de um roubo acontecer? Só alguém cego de ideologia.

Cego como as partidárias da slut walk (e alguns partidários, se bem que o apoio desses costuma ser faca de dois gumes: de um lado, o direito das mulheres; do outro, ver gatinhas com pouca roupa), incapazes de fazer essa simples distinção: uma coisa é ser moralmente culpado de algo; outra é aumentar ou diminuir a probabilidade que esse algo aconteça. Vestir-se de maneira a atiçar o desejo sexual masculino (por exemplo, com um decotão bem grande para mostrar os peitos, com nanossaias, tatuagens à mostra que direcionem a visão para a genitália, dizeres sugestivos na camiseta e atrás da calça como “bitch” ou “fuck me”; e outras puritanices do gênero), bem, isso atiça o desejo sexual masculino. Também há certos locais ou circunstâncias em que os homens ficam naturalmente mais propensos a desejar sexualmente e de forma indiscriminada qualquer mulher que se lhe apareça na frente. Um baile de funk carioca (dos quais resultam não poucas gravidezes), uma balada com muitas drogas e dançarinas sensuais, etc.

Infelizmente, alguns homens (por culpa própria, salvo em casos de doença mental) dão vazão a seus desejos sexuais sem se importar em saber se a mulher que será alvo de suas investidas deseja ou não tal honra. Alguns se limitam a comentários ofensivos e dirty talk em geral – o que já é aviltante -, outros buscam um contato físico indesejado e alguns outros estão dispostos até mesmo à violação sexual forçada, que é dos piores crimes possíveis. Devemos fazer todo o possível para que os homens não fiquem assim, e punir severamente aqueles que perpetuam qualquer violência sexual. A culpa é deles.

Contudo, sabendo dessa realidade, as mulheres podem agir prudencialmente, por exemplo não usando roupas que incentivem os homens a vê-las como objetos sexuais; vestindo-se de forma a realçar sua humanidade. Talvez a maioria das mulheres ignore o quanto é fácil para um homem olhá-las como um mero objeto sexual e nada mais. Há, infelizmente, algo de desordenado na natureza humana, e essa desordem mexe também com nossa sexualidade. Cabe a cada um educar, domar e, quando a porca torce o rabo, barrar seus ímpetos mais descontrolados (sejam ligados à violência, à comida, ao sexo, etc.). Por isso a culpa do estupro é sempre do estuprador, e não da vítima. Contudo, a vítima pode agir de maneira a diminuir a probabilidade do estupro. Ao se vestir de forma provocante, a mulher aumenta a chance que ela provoque algum homem sexualmente; o homem sexualmente excitado está mais propenso a praticar alguma forma de violência sexual.

As manifestantes da slut walk parecem querer, ao mesmo tempo, atiçar o desejo sexual masculino e não sofrer violência sexual. Infelizmente, embora no plano das idéias as duas coisas pareçam perfeitamente distintas, no mundo real elas frequentemente caminham juntas. Isso não quer dizer que a culpa do estupro seja das mulheres; mas elas têm à disposição algumas condutas fáceis para diminuir a probabilidade do estupro (embora nada possa garantir a segurança total).

Quando você sai na rua, não procura, se possível, deixar celulares e objetos de valor fora da visão de todos? Não olha para os dois lados antes de atravessar, e se vê um carro desloucado à toda velocidade, não espera ele passar antes? Tanto no roubo quanto no atropelamento, a culpa é de quem rouba e atropela. Mas o celular é seu, e a vida é sua; trate de não facilitar! Por que no estupro o pensamento mais “iluminado” ignora isso? Mulheres, há dentro de cada homem heterossexual um forte desejo sexual pelo corpo feminino; esse desejo pode se manifestar de maneira sadia e positiva, que enfatize ao invés de negar a humanidade da mulher; ele pode também, contudo, se expressar de maneira bestial e violenta. Quando essa segunda opção lamentavelmente ocorre, a culpa é sempre do homem. Mas não a facilitem!

Já falei que a culpa do estupro é do estuprador? Repito-o agora: a culpa do estupro é sempre do estuprador e nenhuma mulher merece ser estuprada.

Assim, espero que as respostas fujam do usual “CULPANDOAVÍTIMACULPANDOAVÍTIMACULPANDOAVÍTIMA!!!!!111um”.

6 comentários:

Diácono Marcelo (Paiva) disse...

Prezado Joel,
você tem razão, é claro : As mulheres que se vestem de maneira provocante, provocam...E a provocação pode trazer consequências.
E tendo feito a ressalva sobre a responsabilidade final de quem não conseguiu se controlar, está tudo bem amarrado.
Contudo, penso que o "x" da questão é o seguinte : O estupro é a unica coisa que uma mulher deve temer ? E perder a sua dignidade como ser humano? Pois quando uma mulher passa a ser um "objeto sexual" (e isso porque ela deseja ser mesmo isso), e passa a se comprazer com a liberdade de ser isso, ela não está "violentando" a sua própria dignidade?
O "direito de ser vagabunda" é o mesmo que o "direito de ser violentada". No segundo caso, não violentada por outros, mas por elas mesmas.

Joel Pinheiro disse...

Concordo integralmente com você, Sr. Paiva. Este texto especificamente era só sobre o risco de estupro. Adota, chamemos assim, uma abordagem prudencial para com as roupas. Indo além dela, é possível fazer uma abordagem moral.

Cora disse...

Joel,

Vc virou, mexeu, falou, justificou, ressaltou e no final das contas responsabilizou a vítima. Vc não quer escutar isso (e eu entendo pq não queira), mas foi exatamente o q acabou por fazer. Sua linha argumentativa chega, se levada ao limite, a justificar o uso da burca. Isto é, cubram-se mulheres, pois do contrário vcs podem ser estupradas.

Vc parece criticar o comportamento masculino, mas diz q cabe a nós, mulheres, evitar o estupro.

A culpa é do estuprador, vc disse diversas vezes, mas somos nós q devemos modificar nosso comportamento, nossa forma de falar, de vestir, de andar. Nós devemos limitar nossa liberdade de ir e vir. Vai saber o q diabos atiça o desejo masculino?

Será q é minha blusa? Ou a forma como prendo meu cabelo? Ou a forma como sorri?

Vc esquece q muitas mulheres estupradas estavam perfeitamente vestidas, mas algo nelas “atiçou” o desejo sexual masculino q, a partir deste momento, não pode mais ser contido, tendo q se realizar mesmo sem o consentimento da mulher.

Vc esquece q muitas mulheres são estupradas por conhecidos, colegas de trabalho, parentes, “amigos” e não por desconhecidos em becos escuros (q aliás, evitamos de tds as maneiras).

Somos tão objetificadas, q vc compara um estupro ao roubo de um celular ou de um relógio! É do corpo de uma pessoa q vc está falando. O corpo habitado por alguém! Acontece q este corpo tem, por contingências da natureza, peitos e bunda! O q não significa q ele seja público!

Vc está dizendo q o corpo feminino deve ser escondido e q, qdo mostrado, pode ser usado por alguém, pois é sinônimo de sexo, pois é obsceno! Meu corpo, mesmo descoberto não é um convite ao sexo! Ele é apenas e tão somente, o lugar q eu habito.

Em nenhum momento vc pensou em ajudar os homens a perceberem a mulher como um ser humano q, como eles, deve ser respeitado em sua individualidade.

O problema de fato é que, no Brasil, o corpo feminino é objetificado e sexualizado por todos, o tempo todo. A nudez feminina, mesmo parcial, é sexualizada. É sobre isso q devemos debater. Percebemos q em outros países, como os europeus, a nudez feminina não é tão sexualizada assim, é percebida como algo natural, semelhante à nudez masculina. Vide o hábito europeu do topless.

As manifestantes da slutwalk não querem atiçar o desejo masculino. Elas (nós) querem(os) ser vistas como pessoas e não como objetos sexuais.

Só uma mudança de mentalidade pode aumentar a segurança feminina em relação à violência sexual.

Foi louvável sua tentativa de não responsabilizar a vítima, mas percebe como a mentalidade do brasileiro e a forma como somos vistas neste país impossibilita isso? Mesmo vc não querendo e se esforçando muito, acabou colocando sobre a vítima o ônus de evitar a violência q sofre.

Anônimo disse...

asgf

bruno disse...

A Cora matou a pau!

Eu apagava o post depois dessa...

Viajante do tempo de 2017 comentando num post de 2011 disse...

"Vc parece criticar o comportamento masculino, mas diz q cabe a nós, mulheres, evitar o estupro."

Ele não disse que cabe às mulheres evitar o estupro, e sim que existem comportamentos femininos que podem aumentar ou diminuir a chance do crime acontecer, que é o exemplificado pelo caso do roubo e do atropelamento.

As feministas modernas da slutwalk parecem incapazes de diferenciar entre o aspecto positivo e o aspecto normativo, entre a responsabilidade moral do ato e que ações pode uma vítima em potencial adotar para evitar sofrer o crime, entre a explicação da realidade e a justificação moral ou legal do ato. É óbvio que após o ato o bandido deve ser punido, e a responsabilidade moral é do estuprador (o que foi reiterado repetidamente no texto).

A babaquice desse discurso é a politicização das medidas de proteção: se você pede a uma mulher para evitar fazer o comportamento X que aumentaria a chance de ser estuprada então "você está colocando a culpa nela" - óbvio que não!!! Se quer é diminuir a chance dessa mulher ser estuprada, porque depois que esse crime bárbaro e hediondo aconteceu o trauma e o possível dano físico não tem mais volta!

Claro que existe controvérsia se as roupas a la slut aumentam a probabilidade do estupro, mas não se deve criminalizar a hipótese ou a sugestão; o correto é afirmar com dados empíricos que ela está errada, que independente da roupa ou estuprador age da mesma maneira. Condenar alguém por propor a hipótese é esquerdismo barato, coisa de quem se importa mais com a luta ideológica contra os valores tradicionais do que com a situação real das mulheres.

Dito isso, não, a Cora "não matou a pau", como disse o fantoche fake abaixo. Ela simplesmente ignorou a mensagem do artigo e preferiu ver nele uma justificação do estupro no caso de pouca roupa - o que NÃO É COLOCADO DE MANEIRA ALGUMA NO ARTIGO!!!

Aliás, é engraçado como na esquerda é possível discutir se determinados fatores além do comportamento criminal aumentam ou não as chances de crimes tipo roubo ou assassinato mas quando se fala de estupro torna-se um dogma discutir desta mesma forma. Por outro lado, a maioria dos conservadores é a favor até mesmo da pena de morte, ou no mínimo da castração química dos criminosos (ex. Bolsonaro, enquanto a feminista vitimista Maria do Presidiário defendia a não-punição de um "dimenor" que estuprou, torturou e matou uma mulher. Irônico, non?)