quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Dinheiro não é Riqueza

A ciência econômica estuda, primordialmente, as transações que ocorrem no mercado, ou seja, aquelas nas quais o homem pode, com o uso dos preços, calcular suas ações futuras e averiguar o resultado das passadas. E o que possibilita esse cálculo é o uso do dinheiro. Assim, o estudo da natureza e dos efeitos do dinheiro é essencial à economia. E erros nesse campo de estudo levam a propostas socialmente desastrosas de política econômica.

O dinheiro é o meio de troca geralmente utilizado em certo lugar; é aquele bem que as pessoas não procuram como um fim em si mesmo, mas sim porque, com ele, poderão adquirir outros produtos e serviços. O dinheiro, portanto, é um facilitador de trocas, um intermediário entre o bens a se vender e aqueles que se quer comprar. Em si mesmo não tem grande valor; ele tem valor porque, com ele, podemos adquirir coisas valiosas. Se alguém tem mais dinheiro, essa pessoa está mais rica porque ela agora pode comprar mais bens, e não porque ela tem, na carteira, maior quantidade de papel colorido.

Suponhamos um pequeno vilarejo, que funcione como qualquer outro, com seus habitantes comprando e vendendo no mercado para satisfazer seus desejos. Um morador da cidadezinha, no entanto, descobre como produzir notas perfeitas em sua casa; ele não precisa mais oferecer ao resto da sociedade um bem ou serviço de valor para conseguir dinheiro: pode imprimi-lo ao seu bel-prazer; virou um falsário. Já no primeiro mês imprimiu $10000.

Esses $10000 impressos pelo falsário não foram tirados de outras pessoas; são cédulas novas, criadas “do nada”. Assim, a quantidade total de dinheiro no vilarejo aumentou. Eles serão gastos e aceitos como dinheiro normal; mas, como acabamos de ver, não são, em si mesmos, riqueza. A quantidade de riquezas, de bens e serviços úteis às pessoas, ficou constante; mas a demanda por esses bens e serviços aumentou em $10000, já que todo mundo tem comprado seus produtos como de costume e o nosso falsificador aumentou a sua demanda.

Com uma quantidade maior de dinheiro e uma quantidade igual de bens, o preço de cada bem aumenta, e só aqueles dispostos a pagar mais ficarão com os bens em disputa. O falsário saiu ganhando: enriqueceu e pôde gastar seu dinheiro novo antes que os vendedores tivessem ajustado seus preços ao aumento de demanda. Os primeiros vendedores a receber o dinheiro novo aumentarão seus preços, mas poderão gastar a renda nova antes que o resto da sociedade tenha subido seus preços. Conforme o dinheiro novo circula por todos os lares, todos os preços (inclusive salários) sobem; aquelas pessoas cuja renda subir por último perdem: tiveram que arcar com preços mais altos enquanto seus salários ainda estavam no nível original.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Lucro: Serviço à Sociedade

Haverá algo mais oposto ao bem comum do que o lucro individual? Que um homem, ao operar seu negócio, termine com mais do que gastou, significa que se apropriou de parte da riqueza da sociedade. É isso que pode parecer à primeira vista; a realidade, no entanto, é oposta a essa percepção: o lucro é a recompensa da sociedade para aqueles que melhor a serviram.

Podemos distinguir entre dois tipos de bens: bens de consumo, que satisfazem diretamente desejos e necessidades humanos, e bens de capital, que são usados para produzir outros bens. O pão francês que compramos na padaria é um bem de consumo (ou, no caso de alguns, o pão já com manteiga; a distinção entre bens de consumo e de capital depende do uso que se faz deles). O forno e a farinha usados em sua produção são bens de capital. Da mesma forma, o trigo e as máquinas usadas para fazer a farinha com a qual se faz o pão também são bens de capital.

O que determina o valor, ou o preço, de um pão? O mesmo que determina o valor de todos os bens: o desejo que ele satisfaz no ser humano. Como a quantidade de pãezinhos é muito grande, e como existem muitos possíveis substitutos para eles, o preço de cada unidade é bem baixo, pois o desejo que ela satisfaz em cada pessoa é em geral de pouca importância. Mas se o Brasil entrasse numa era glacial e o alimento ficasse muito escasso, cada pãozinho teria um valor altíssimo, pois a necessidade satisfeita por cada unidade seria da mais alta importância: a sobrevivência de quem o come.

O valor de um bem de consumo depende do desejo que ele satisfaz. O valor do bem de capital, por sua vez, depende do valor dos bens de consumo que ele pode ajudar a produzir. Assim, o valor da farinha de trigo depende do valor dos produtos que podem ser feitos com ela. Se a partir de amanhã todo mundo passasse a odiar todos os alimentos feitos com trigo, o valor da farinha de trigo cairia para zero; assim como o valor de uma máquina cujo único uso possível fosse processar grãos de trigo.

Essa explicação explicita uma verdade que escapa a muitos: é o valor esperado dos produtos finais (dos bens de consumo) que determina o custo de produção, isto é, o preço dos meios de produção. O pão não tem valor porque foi feito com uma máquina cara; é a máquina que é cara porque pode ser usada para produzir pão, que é algo valioso aos homens. O preço de um meio de produção expressa a avaliação comum da sociedade sobre o valor daquelas coisas que ele pode produzir.

O que acontece, então, quando algum empreendedor lucra? Significa que ele conseguiu utilizar os meios de produção da sociedade de uma forma que eles satisfaçam desejos e necessidades de importância maior do que se sabia possível com aquela quantidade de meios de produção. Em termos mais práticos, ele descobriu como, com uma máquina de pão e a mesma quantidade de ingredientes, produzir um pão mais gostoso, ou uma quantidade maior de pães de qualidade igual. Assim, usou meios de produção avaliados em X (ou seja, cujos produtos finais possíveis são avaliados em X) e produziu, com eles, produtos avaliados em mais do que X (chamemos de Y). Conforme o conhecimento de como produzir Y com esses meios de produção se dissemine, o preço desses meios de produção passará a ser Y também, acabando assim com o lucro inicial.

O empreendedor que lucra no livre mercado, portanto, presta um grande serviço à sociedade: usa uma quantidade de recursos para satisfazer necessidades da sociedade que antes precisavam de mais recursos para ser satisfeitas. Ao fazer isso, ele economiza recursos, que podem agora ser utilizados para satisfazer outros desejos e necessidades, até então deixados de lado.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

O Aquecimento Global e o Fim do Mundo

Muito tem se falado sobre o aquecimento global nos últimos tempos. Até que mesmo que o homem parasse hoje de emitir gás carbônico demorariam mais de 100 anos para que tudo voltasse à normalidade. O alarmismo tomou conta da grande mídia e, agora, não é raro ver toda espécie de meio de comunicação mostrando como o ser humano é maligno, depredando e destruindo a mãe natureza. Entre a população já há um sentimento generalizado de desespero, que pouco a pouco, já começa a se disseminar entre os governantes, virando um perigoso discurso político.

É preciso ter cuidado. Primeiro porque ainda existem muitas divergências quanto aos reais efeitos do aquecimento global e sua intensidade. Há quem diga que eles podem ser bem menores do que andam pintando por ai. Segundo, porque nesses ambientes de calamidade pública surge espaço para a ação de oportunistas e aproveitadores em geral.

Já é comum ao redor do globo políticos que adotam o discurso do aquecimento global e da preservação da natureza, de como devemos combater os poluentes e nos preocupar com o fim do mundo e de como é culpa dos outros o deplorável estado para o qual nosso planeta caminha. Nada serve melhor aos autoritários do que esse ambiente de calamidade pública. Conhecemos bem a história do líder quer surge pra salvar o país das diversas ameaças que o colocam em perigo. Evitar o fim do mundo, uma nobre escusa para todo tipo de tirania.

Há, também, aqueles grandes protetores da Mãe Natureza, que de maneira mais radical sugerem que voltemos à era pré-industrial! Quanto tempo levará para que esses ecologistas radicais, sustentados pelo frenesi antiaquecimento, comecem a atacar fábricas que considerem poluidoras, usinas termoelétricas e poços de petróleo? Não muito eu imagino. Afinal, o mundo esta pra acabar, se eles demorarem muito vão acabar não aparecendo na foto.

Enfim, é necessário, claro, que tenhamos mais cuidado com nosso planeta. Obviamente que ele não pode suportar indefinidamente toda carga de poluição a que o sujeitamos. Porém, não se pode deixar que o alarmismo tome conta. Ele só serve aos propósitos de gente mal intencionada e oportunista que certamente, como sempre aconteceu ao longo de toda a história da humanidade, explorará o medo das pessoas em benéfico próprio. Além disso, é preciso colocar as coisas na balança. Quais serão os reais efeitos do aquecimento, o que teremos que fazer para combatê-lo? Vale a pena? Apesar da clara degradação trazida ao nosso planeta, os avanços da humanidade trouxeram uma melhoria de bem estar gigantesca para todas pessoas de todos países. O mais pobre dos pobres de hoje vive melhor que o mais rico dos ricos de ontem. Devemos abrir mão de parte desse bem estar em prol da preservação da natureza? Essas perguntas certamente não podem ser respondidas sem a devida reflexão.

E, por pior que seja a situação, não se esqueçam que muita gente já previu o fim do mundo, fosse por falta de comida ou por alguma peste. Nossa presença aqui mostra o tamanho de seus erros. A engenhosidade do ser humano em lidar com as adversidades não deve nunca ser subestimada.

sábado, fevereiro 03, 2007

Fatos sobre o crescimento econômico

O fim da hiperinflação mudou o debate econômico no Brasil. Percebeu-se que não basta a estabilidade de preços para uma melhora no desempenho econômico nacional. O anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é evidência de que restam ainda muitos problemas e entraves ao crescimento econômico no Brasil. É salutar, pois, entender alguns dos “fatos” do crescimento econômico.

Um primeiro passo é entender como medir o crescimento econômico e o que tais medidas significam. É importante, logo de início, entender que o que se busca não é simplesmente medir o desempenho das economias, mas sim medir o progresso material das sociedades. De forma mais simples, deve-se entender que o fato relevante não é o desempenho econômico strictu sensu, mas sim quão menos subordinada à escassez de recursos é uma sociedade, seja pela abundância destes ou pelo seu uso mais eficiente. Para tanto, mede-se o crescimento econômico, resultado dos dois últimos fatores, pelo crescimento do PIB per capita, ou seja, o quanto em média cada cidadão da economia produziu a mais em relação a um período anterior e, logo, tem para “gastar”.

Um segundo passo diz respeito ao crescimento econômico do ponto de vista histórico. Pode-se imaginar, por exemplo, que o crescimento econômico é um fator constante na história da humanidade, tendo as sociedades sempre progredido do ponto de vista material. Ocorre, entretanto, que o progresso material a altas taxas é fenômeno recente. Estima-se, por exemplo, que o crescimento médio anual do PIB per capita mundial entre 1750 e 1850 tenha sido de apenas 0,17% ao ano e entre 1500 e 1750, 0,08% ao ano. Em comparação, a segunda metade do século XX presenciou taxas de 2,2% ao ano.

Finalmente, dois outros aspectos do crescimento econômico devem ser destacados. O primeiro deles, é o processo de investimento, o que aparenta o mais importante motor do fenômeno em questão. O mecanismo do investimento é muito peculiar e necessita atenção: o investimento é processo em que se sacrifica consumo no presente pela perspectiva de consumo maior no futuro. É, portanto, uma troca intertemporal. A lição básica, contudo, é que não se pode almejar um futuro materialmente mais confortável sem antes haver algum tipo de sacrifício (“não há almoço de graça”). O segundo deles diz respeito à relação entre o crescimento e a abertura comercial: o crescimento no produto e o crescimento no volume do comércio internacional são duas variáveis proximamente relacionadas.

Há muitos outros temas e questões no debate sobre o crescimento. Esses constituem apenas o “básico do básico”.