Odeio política. Dão-me raiva a ignorância e as mentiras dos candidatos, e indignação a igualdade das propostas. Toda eleição é a mesma farsa: ter que escolher, dentre poucos e péssimos, aquele que parece ser o menos nocivo ao país. Neste ano, no entanto, a política americana tem me entusiasmado; e isso por um motivo apenas: Ron Paul, do partido Republicano.
Ron Paul é o único candidato que defende o Estado mínimo: rejeita tanto as intervenções estatais internas (assistencialismo) quanto externas (guerras). Se eleito, entre outras coisas, reduzirá drasticamente a carga tributária, eliminará o imposto de renda, abolirá o Banco Central (volta ao padrão-ouro) e retirará as tropas do Iraque. É defensor do direito à posse de armas e contrário ao aborto.
Ao mesmo tempo, é o único que, em sua trajetória política, demonstrou ser um homem de princípios. Em sua carreira de congressista, sempre votou conforme seus ideais, contra qualquer proposta que não encontrasse respaldo explícito na Constituição americana, o que lhe rendeu o apelido de “Dr. No”. Não muda suas posições conforme o vento, diferentemente da grande maioria de ambos os partidos.
Sem dúvida, é um candidato radical; e por isso mesmo entusiasma. Vence todas as pesquisas online. Seus próprios eleitores fazem, voluntária e extra-oficialmente, a maior parte de sua campanha. Tem sido recordista em angariar fundos (dia 05/11, sua campanha recebeu US$ 4 milhões em doação, tudo de apoiadores autônomos). É ainda pouco conhecido, e por isso vai mal nas pesquisas convencionais por telefone, mas quem o conhece costuma gostar dele; e quem o apóia, o faz por convicção, e não para evitar o mal maior.
Por isso, a grande mídia estabelecida tem feito o possível para ignorá-lo. Evitam falar sobre ele ou dar-lhe qualquer tempo de exposição. Acusam seus eleitores de “melar” pesquisas online, “straw polls”, encontros políticos, etc. Enfim, seria tudo uma agitação de uns poucos extremistas que não mereceria atenção. Mesmo a The Economist, revista supostamente liberal, tem se calado. Quando falou de Ron Paul, foi para dar o exemplo de um sonhador tolo mas inspirador, cujo módico e inesperado sucesso aponta para um idealismo que outros candidatos deveriam emular. Já em um “leader” de 20/10, de subtítulo “American conservatives need to rediscover the charm of the small government”, nem uma palavra. Falam das “propostas promissoras”, “market-oriented”, de Giuliani e McCain para reformar a saúde; de Ron Paul, o único verdadeiro conservador e defensor do Estado mínimo e do mercado, nada.
Mas os fatos já estão grandes demais para serem ignorados. US$ 4 milhões em um dia, sem qualquer organização por parte da campanha oficial, é inédito; agora não são meros votos em simulações, mas dinheiro real. E dinheiro fala alto.
Mesmo contra toda a pressão ideológica e todos os interesses poderosos contrários à sua candidatura, Ron Paul tem tido desempenho surpreendente; grupos de apoio têm sido criados não só nos EUA, mas no mundo todo (até no Brasil). Sua vitória, embora improvável, é perfeitamente possível; será mais difícil conseguir a nomeação Republicana do que vencer os Democratas. Com efeito, diz-se que ele é o único Republicano com chances de vencer Hillary.
Mas por mais que a política americana nos anime, ela nos afeta apenas indiretamente. Estado mínimo, incentivo aos poupadores e empreendedores (os motores do crescimento), fim das tarifas e regulamentações, embora muito bons para os EUA, são ainda mais necessários aqui no Brasil, que é um país pobre. Quando surgirá um Ron Paul brasileiro? E, se tal pessoa existisse, conseguiria algum apoio? Como mudar nossa situação institucional, na qual pobreza, ignorância e dissimulação garantem que os piores permaneçam no poder?
domingo, novembro 11, 2007
Ron Paul: esperança para a política americana; e para a brasileira?
Postado por Joel Pinheiro às 12:27 AM
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8 comentários:
Joel,
acho que um Ron Paul brasileiro é possível. Mas a "missão pedegógica" levaria muito tempo... será difícil achar algum partido que banque um sujeito que provavelmente perderá algumas eleições... Acho que o link dá uma idéia do problema.
http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2007/11/11/maioria_233_contra_privatiza231245es_aponta_pesquisa_1077728.html
Abraço,
Samuel
A maioria do eleitorado brasileiro (62%) é contra a privatização de serviços públicos, feita por quaisquer governos, apontou pesquisa realizada pelo jornal O Estado de São Paulo em parceria com o instituto Ipsos. Apenas 25% dos brasileiros a aprova.
A percepção é que as privatizações pioraram os serviços prestados à população nos setores de telefonia, estradas, energia elétrica e água e esgoto. As mais altas taxas de rejeição (73%) estão no segmento de nível superior e nas classes A e B.
Este Ron Paul faz-me lembrar o Howard Dean das eleições de 2004. Havia também do lado de Dean uma euforia enorme, apesar de, contrariamente à euforia de Ron Paul, as sondagens para Dean eram completamente irreais.
Quanto a Ron Paul, no momento em começarem realmente as primárias a euforia por trás dele vai-se desfazer.
Espero é que não se candidate como independente, pois isso irá com certeza prejudicar o candidato republicano.
P.S. Joel, defendes mesmo o padrão ouro?
Muito bom Joel!!
Temos um "Ron Paul" sim. Paulo Afnoso Feijó, atualmente vice-governador do Estado do Rio Grande do Sul. Feijo é libertário em economia, defende a privatização de tudo e sabe muito bem que o caminho do progresso brasileiro passa pela redução do Estado. Em virtude de suas posições radicais e inflexíveis, sua voz foi apagada da cena política gaúcha. Ele nem participa das reuniões oficias de secretariado. É um marginal, mas segue coerente com os princípios que sempre defendeu, desde quando era Presidente da FEDERASUL aqui.
Veja o blog dele: http://pauloafeijo.blogspot.com/
Abraço
Lucas
Pois é, Samuel, há muito trabalho a ser feito; e o principal deles é a mudança das idéias nas mentes das pessoas. E com a educação viesada que o Brasil tem, trabalhamos contra a corrente.
O mais deprimente dessas pesquisas é constatar que são os mais ricos os mais contrários à privatização; ou seja, os com maior educação formal.
Ulaikamor-
talvez você esteja certo, e essa euforia seja vazia. Não é o que parece agora; a popularidade do Dr. Paul só faz crescer.
Com o começo das primárias, saberemos. O fato é que se ele for muito mal nas primeiras, isso poderá ser letal à campanha.
Quanto ao padrão-ouro, defendo-o sim. Aqui, um texto do próprio Ron Paul sobre os males que o FED engendra:
http://www.lewrockwell.com/paul/paul410.html
Não conhecia o Paulo Afonso Feijó, Lucas; muito obrigado pela indicação!
Caro Joel,
Não sou apoiante do padrão-ouro, mas estou muito interessado em saber as razões por detrás do teu apoio.
Se ainda não o fizeste, se calhar sugiro um post sobre o assunto. ;)
Cumprimentos.
Ah sim, há um texto meu sobre o padrão-ouro aqui. Em termos bem teóricos e com pouca ilustração de casos reais, coisa que venho tentando mudar um pouco nos meus textos. Ainda assim, a força do argumento permanece.
Nos comments pode se ver os rudimentos de uma discussão com outro blogueiro-economista (Leonardo Monastério), mas que não chegou a vingar.
http://tavista.blogspot.com/2007/04/ouro-vs-papel.html
Só nos resta um político com culhão para tal, tia Kátia!
http://www.youtube.com/watch?v=4Vn5VxO1p4c
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