quarta-feira, novembro 15, 2006

Welfare ou Warfare: Triste Escolha

Há poucos dias o partido Democrata americano obteve uma importante vitória eleitoral: conseguiu a maioria de representantes no congresso e no senado. Isso não é mérito algum do partido. Muito pelo contrário: ele se encontra desestruturado, suas propostas falham em animar a população americana e figuras importantes cometem gafes grosseiras (John Kerry insinuou que quem serve no exército o faz por não ter tido educação de qualidade; o que obviamente pegou muito mal).

O motivo dessa virada eleitoral tampouco foi uma grande mudança de crenças ou valores da população. Interpretou-se que talvez os americanos estivessem desistindo da recente guinada conservadora e voltando aos ideais liberais, mas isso não é o caso; ao mesmo tempo em que os democratas venceram as eleições, os referendos sobre o casamento homossexual deram vitória conservadora. O grande culpado pela virada dos Democratas nos EUA é o partido Republicano. E a causa é uma: a guerra no Iraque.

Saddam Hussein era um tirano violento. Um dos poucos pontos positivos da guerra foi sua queda; mas como o presente nos mostra, a retirada desse mal liberou males novos, talvez até mais perigosos do que o velho ditador. Pois uma coisa é certa: se a maioria xiita, até então oprimida, conseguir impor seu ideal de governo ao país, então a ditadura secular de Saddam será lembrada com saudades dentro e fora do Iraque. Mas aqui já sonho alto demais, dado que não há qualquer perspectiva de instalação de um governo iraquiano estável e independente do poder americano.

Para os EUA a situação também é terrível. Vidas são perdidas e uma quantidade inconcebível de recursos é gasta (o que fez com que o governo se afunde em dívidas). O Partido Republicano tem aparecido como defensor da moral tradicional e de uma economia menos controlada pelo Estado. Isso na teoria. Na prática, ambos esses objetivos foram sacrificados para sustentar uma guerra sem sentido e sem possibilidade de sucesso. Os Republicanos mostram-se tão estatizantes quanto os Democratas; nos EUA há a escolha entre dois matizes de intervencionismo: “welfare” e “warfare”.

Os democratas, com sua defesa do Estado de bem-estar social, de salários mínimos mais altos, de extensa redistribuição de renda, de regulamentações e impedimentos ao livre mercado, representam o “welfare”: sob o pretexto de construir uma sociedade mais justa e com melhor qualidade de vida, promovem a pobreza generalizada, o desemprego e a falta de oportunidades. Já os republicanos representam o “warfare”: sob o pretexto de tornar o mundo um lugar melhor e de proteger o país de seus inimigos externos promovem guerras sanguinárias e extremamente custosas. Uns empobrecem a sociedade torrando seus recursos em políticas que pioram a vida de todos; os outros empobrecem-na gastando sua renda para explodir casas e matar famílias a milhares de quilômetros dali.

Mas tenho dado crédito demasiado ao discurso dos dois partidos. Há muitos eleitores que votam em um dos dois exatamente por defender o “welfare” em oposição ao “warfare” ou vice-versa. Mas no final das contas ambos são iguais: os Republicanos continuam as políticas sociais dos Democratas, e criam novas, e os Democratas mantêm as guerras, isso quando não são eles que as declaram.

A derrota dos republicanos não foi uma derrota do livre mercado e da moral cristã. Foi a derrota do fracassado “warfare” e a concessão de mais uma chance ao “welfare”; a permuta de duas posições que, na prática, são indistinguíveis.

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