domingo, julho 09, 2006

Ganhos de Troca

"The key insight of Adam Smith's Wealth of Nations is misleadingly simple: if an exchange between two parties is voluntary, it will not take place unless both believe they will benefit from it. Most economic fallacies derive from the neglect of this simple insight, from the tendency to assume that there is a fixed pie, that one party can only gain at the expense of another." (Milton Friedman)



O propósito deste post é demonstrar a origem dos ganhos de troca as condições nas quais eles se apresentam. O post encerra a discussão nas últimas semanas acerca dos benefícios da abertura comercial com um argumento teórico com os objetivos de formalizar e estender a discussão. Tentarei manter o texto didático e objetivo devido ao tamanha relativamente extenso da exposição, que se dividirá em três partes. Na primeira, de forma a se estabelecer as bases do argumento apresentarei a definição de fronteira de possibilidade de produção (FPP); na segunda, demonstrarei os ganhos de troca na ocasião de especialização na produção; na terceira, por fim, demonstrarei os ganhos de troca na ocasião de vantagens absolutas em produtividade.

I) A Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP)

A fronteira de possibilidades de produção é a combinação de bens que um determinado agente (indivíduo/firma/país) pode produzir dados seus recursos escassos. Tomemos um exemplo: João pode trabalhar no máximo 24 horas por dia (ele não precisa dormir), ele usa a madeira das árvores ao redor de sua casa para produzir cadeiras e mesas. João gasta duas horas em cada cadeira e quatro horas em cada mesa. Logo ele pode em um dia, se apenas produzir cadeiras, produzir doze cadeiras e nenhuma mesa; se apenas produzir mesas, seis mesas e nenhuma cadeira; ou alguma combinação entre os dois bens (uma mesa e dez cadeiras, por exemplo). Abaixo temos a FPP de João (Gráfico 1).




Percebam que as combinações de bens acima da linha azul (a FPP de João) não são possíveis de serem produzidas. Analogamente, as combinações sobre a linha e abaixo dela são possíveis de serem produzidas. Por fim, os pontos sobre a linha são as combinações de bens possíveis de serem produzidas por João quando ele utiliza todas os recursos que lhe são permitidos (as 24 horas do dia).

II) Ganhos de troca com especialização

Suponhamos que existam apenas dois agentes econômicos (A e B) e dois bens a serem produzidos (x e y). Se A produz o bem x gastando menos recursos que B e B produz o bem y gastando menos recursos que A, diz-se que há especialização na produção dos bens. Para simplificar a análise suponhamos que o único recurso existente é tempo (24 horas por dia). Assim A gasta 2 horas para produzir o bem x e 4 horas para produzir o bem y, enquanto B gasta 4 horas para produzir o bem x e 3 horas para produzir o bem y. Abaixo temos três gráficos: a FPP de A (Graf. 2) a FPP de B (Graf. 3) e a FPP de A e B (Graf. 4).




Suponhamos então que A produza apenas o bem x produzindo 12 unidade por dia e B produza apenas o bem y, produzindo 8 unidades por dia. Além disso A troca com B 2 unidades de x por duas unidades de y. Com a troca A possui 10 unidades de x e 2 de y (ponto T); enquanto B possui 2 unidades de x e 6 de y (ponto T’). Pelas FPP de A e de B abaixo (Graf. 5 e Graf. 6), percebemos que cada agente passa a possuir quantidades que não conseguiriam possuir produzindo sem trocar. Ou seja, a troca favoreceu a ambos.



III) Vantagens absolutas

Tomemos agora um exemplo semelhante ao anterior, mas nesse caso A produz x em 2 horas e y em 4 horas, enquanto B produz x em 3 horas e y em 10 horas. Abaixo (Graf. 7) temos as duas FPP. Observa-se que A tem vantagens absolutas de produtividade sobre B, isso se mostra pelo fato de que a FPP de A está sempre acima da de B. Ainda assim, A e B podem se beneficiar trocando.


Suponhamos que A produza apenas y, produzindo assim 6 unidades e B produza apenas x produzindo assim 8 unidades. Além disso, suponhamos que se troque 3 unidades de x por 1 unidade de y. Com a troca, A terá 3 unidades de x e 5 de y e B terá 5 unidades de x e 1 de y. Como vemos pelas FPP de A e B (Graf. 8 e Graf. 9), ambos se beneficiaram com a troca, pois passaram a consumir em pontos além da FPP.

Um comentário:

Joel Pinheiro disse...

De fato, mesmo um país que seja pior na produção de absolutamente tudo tem muito a ganhar com o comércio internacional!