terça-feira, novembro 17, 2009

Tá tudo Controlado

Meu pára-brisa ganhou um novo adesivo. Sim, sou mais um orgulhoso dono de um veículo devidamente inspecionado pela Controlar. Paulistanos, respirem aliviados, e se a fuligem ou o monóxido os intoxicarem, saibam que não fui eu: o adesivo verde está lá para provar. Fiz minha inscrição ontem e consegui vaga para hoje. Entrei no site uma vez, vi que os dois pontos de inspeção da região centro-oeste (Jaguaré e Barra Funda) estavam sem vagas, então fui ver se na zona sul tinha lugar. Ter, tinham, para daqui alguns dias, mas... Cidade Dutra? Sacomã? Acho que não. Meio desencantado, voltei para a zona centro-oeste. Supresa! Apareceu vaga na Barra Funda, mas para um mês depois só. No tempo que fiquei considerando se me inscrevia ou não, a vaga foi embora. Mas o conhecimento principal eu já tinha: vagas novas aparecem; é só ficar entrando e saindo do site até que apareça um horário conveniente. Eventualmente, apareceu para hoje no Jaguaré. Negócio fechado.

Devo dizer, antes de tudo, que o serviço na Controlar foi muito eficiente. Cheguei alguns minutos antes do meu horário (que era 10:54 - precisão nanométrica), já preocupado. Temia esperar horas, e, como sempre acontece nas minhas raras e sofridas interações com o governo, tinha certeza que um burocrata ia me informar (sorrisinho cínico nos lábios) que um documento essencial estava faltando, que eu teria que marcar outro dia e ainda levar a multa, já que minha chapa é 8 e o prazo terminou mês passado. Muito pelo contrário: os atendentes foram todos profissionais e rápidos. As 11:03 eu já estava de saída.

Alguém consegue imaginar a causa dessa eficiência? Sim, a Controlar é uma empresa privada (bem, mais ou menos - foi criada pelo consórcio vencedor da licitação governamental - essa eterna geradora de monopólios). Foi a única boa surpresa de um processo nefasto. Da noite para o dia, algum político demagogo decidiu que todos os carros precisariam passar por uma inspeção desnecessária para a maioria deles (meu caso). E para quem não fizesse isso dentro do prazo, multa de 500 Reais. Para o governo é muito cômodo. Os burocratas e políticos, que via de regra já não trabalham, não precisam fazer esforço nenhum. Bolam um novo requerimento, contratam uma empresa (nosso dinheiro) para o serviço, cobram de nós uma taxa, e decretam multa para quem não fizer tudo certinho.

Alguém me contestará, dizendo que a qualidade do ar é importante. Olha, concordo. O que não gosto é o modus operandi do governo: jogar todo o peso nas nossas costas e ainda faturar uns trocados (com as multas vindouras e taxas que não serão requeridas de volta). Num sistema de ruas privadas, os donos das ruas (em geral empresas) procurariam saídas que não impusessem custos na vida dos motoristas, sob pena de perder clientela. Como as ruas são do governo, é a ele que cabe bolar um jeito de melhorar a qualidade do ar. Se é para apelar para a punição - como é de seu feitio -, então os únicos punidos deveriam ser os carros desregulados. É dever do governo avisar, identificar e possivelmente punir os infratores; e não declarar punição universal e obrigar a todos a ir para bem longe fazer uma inspeção desnecessária e custosa. Entrei e saí do Controlar em 10 minutos, mas do meu lado estava uma mulher cujo carro funcionava a gasolina e a gás. Infelizmente, seu tanque de gás estava bem vazio e acabou no meio do teste. Enquanto eu saía para enfrentar o trânsito da Marginal e da Pedroso de Moraes, ela ficou lá, numa conversa bem frustrante com o técnico. Espero que tenha acabado bem, mas temo que ela terá que fazer tudo de novo. E aposto que, no fim das contas, estará tudo certo com o carro dela. Pune-se inocentes aos montes para pegar alguns infratores. Punir apenas os infratores; não seria mais justo?

Mas nosso governo opera sob outro princípio. Poluição, violência, acidentes, a solução é universal: medidas draconianas de proibição e regulação, e que se danem os prejudicados. O pior, o mais odioso, é que a maioria da população, mesmo amigos meus, condicionada por toda uma vida de liberdades tolhidas e mistificações acerca da importância do Estado, acha isso lindo, na crença equivocada de que estamos contribuindo para uma sociedade melhor. Do jeito que as coisas estão, daqui a pouco vão declarar obrigatório, para controlar o efeito estufa, medidor de pum enfiado vocês sabem onde. E tem muito otário que vai colocar - e pagar - sorrindo.

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