quarta-feira, agosto 29, 2007

Uma defesa ambientalista

Vou inovar. Meu amigo Lucas Mation escreveu uma crítica ao meu último texto, que publico aqui:

Joel,

Seu primeiro argumento é válido. O governo, de uma forma ou de outra, tem maior poder de influência quando se decide enfrentar um problema desses. E por que? Porque um problema desses é justamente o tipo de situação que justifica a existência de um governo! E é assim porque se trata de um problema de coordenação, tragédia dos comuns. Não vou desenvolver isso muito aqui mas, é basicamente isso.

Quanto à veracidade da ciência, há uma certa controvérsia, que tende um pouco para os pró tese do homem como causador do aquecimento. A questão é que é prevenir do que remediar. Você poderá responder que os cursos de evitar o aquecimento global excederão os benefícios e que uma solução alternativa, ou realocação de recursos para usar menos energia, mas de forma ótima, será encontrada quando a energia acabar. Mas para isso você teria que conhecer a ciência do aquecimento global, coisa que você admite não conhecer. Acreditar que uma solução será encontrada é voluntarismo. Isso é uma possibilidade. No entanto, pode ser que a solução seja explorar os recursos até o fim de depois enfrentar uma gravíssima crise porque as alternativas não apareceram e não foram desenvolvidas. Ou porque não valia a pena (por problemas tradicionais de dificuldades na apropriação dos benefícios e incerteza) ou porque na media que começou a valer a pena não deu tempo de achar uma solução.

Alguns movimentos tentam colocar uma visão mais balanceada levando em conta também as outras espécies e até dispostos a sacrificar o bem estar dos humanos em pról delas. Pessoalmente eu discordo desta visão, mas nao vejo mal eu uma pessoa cujos valores reflitam isso se posicione desta maneira. Só vou votar contra.
Mas você força a barra ao dizer que o este tipo de ambientalismo vai dominar. Ele não só não vai dominar quanto está argumentação já estava presente e não dominou. A questão ambiental só ganha maior repercussão agora porque justamente é o bem estar material do homem que está ameaçado pelo problema de coordenação. E é isso que justifica a ação governamental, como resposta ao movimento popular que indica uma necessidade de mudança e incentiva os políticos a fazerem tais políticas.

Agora, alguns comentários meus:

Tragédia dos comuns é um problema que escancara os problemas da propriedade pública: como ela "é de todo mundo", todo mundo quer se beneficiar o máximo dela, e assim ela acaba bem rapidinho.

A grande maioria dos problemas ambientais tem solução bem óbvia no livre mercado: poluição de rios, mares, qualidade do ar, desmatamento; tudo isso é facilmente resolvível se deixarmos que os recursos tenham donos e que cada pessoa escolha o que pode e o que não pode em sua propriedade.

O aquecimento global apresenta um problema novo: o efeito estufa se dá com algo que não é usado pelos homens: o ar distante da Terra. Por isso, não há como estabelecer, com alguma legitimidade, direitos de propriedade sobre esse ar. Além disso, não é possível dividi-lo e nem saber qual é a origem dos diversos gases que sobem até ele.

Fica complicado pensar em soluções para a poluição desse lugar distante mas que, ainda assim, impacta a vida das pessoas ao mudar a temperatura do planeta. Estabelecer direitos de propriedade arbitrários é sempre uma péssima solução; do nada, algumas pessoas teriam direito de receber dinheiro de outras para que essas outras emitam CO2. Ë claro que quem receberá esse dinheiro serão sempre governos. De alguma forma, eles serão considerados os donos da atmosfera...

Se houver ações que ajudam a diminuir o efeito estufa, seria possível criar algum tipo de mercado no qual poluidores tenham que pagar algo a limpadores. E assim todos teriam incentivo para poluir menos e limpar mais o ar.

Dizer que é melhor prevenir do que remediar é uma péssima justificativa. Você seria a favor de gastar trilhões para construir um sistema de mísseis para nos prevenirmos contra possíveis invasores extra-terrestres? Nem eu.

Por fim, você diz que a ideologia "anti-humana", chamemo-la assim, não é, e nem se tornará, popular. Enquanto idéia, concordo com você. Só uns poucos cientistas e ambientalistas consideram o homem um vírus e propõem seriamente a eliminação de grande parte da humanidade (mas também esses existem e são prestigiados!). Mas as aplicações práticas dessas idéias, mascaradas com outras roupagens, podem sim encontrar ampla aceitação. Em grande parte já encontram.

Repete-se que é importantíssimo controlar a população, que a explosão populacional atual irá destruir o planeta; e todo mundo aceita. E as conseqüências práticas disso vão aos poucos sendo impostas.

Referendos de aborto, de eutanásia. E se um referendo perde, outro é imediatamente convocado. E claro que só se convoca eles com a esperança de que "dessa vez vão passar". Se não foi agora é na próxima, que virá!

terça-feira, agosto 21, 2007

Aquecimento Global: Finalidades Sombrias

Não sei se a Terra está esquentando. Suspeito que sim. Não faço a menor idéia se esse aquecimento é fruto da ação humana. Suspeito que não. Não vou falar do que nada sei; posso apenas dizer que, quem procurar, achará material convincente contrário ao senso comum. Falarei de algo que vejo claramente e que me preocupa: o uso que vem sendo feito da teoria do aquecimento global, ou seja, o que ela tem servido para justificar.

O primeiro, e mais óbvio, fim a que as teses de aquecimento global têm se prestado é justificar mais intervenção estatal na vida social. Usar um carro, voar de avião, construir um prédio; se os alarmistas conseguirem impor suas soluções, precisaremos de permissões para tudo isso e muito mais. Precisaremos fazer cálculos de carbono, comprar e vender créditos de emissão, pagar pesados impostos ambientais e se adequar a novas regulamentações. Não é ir longe imaginar comitês ecológicos com poder de veto sobre qualquer empreendimento.

Numa sociedade como a nossa, tudo passa pelas mãos do governo. Transações voluntárias benéficas a ambas as partes precisam de permissão estatal; paga-se impostos para servir aos outros (e quanto melhor o serviço, mais se paga!). Em nosso contexto, mais intervenção estatal beira o intolerável. É claro que muitas pessoas, inclusive eu, não terão sua sobrevivência ameaçada por essa relativa piora no padrão de vida. Para muitas outras, no entanto, que mal têm condições básicas de existência, um pequeno encarecimento no custo de vida terá conseqüências drásticas.

É notório que os cientistas envolvidos na pesquisa e no alarde em torno do aquecimento global recebem verbas públicas. Ambos, governo e cientistas patrocinados, têm muito a ganhar ao propagar essa tese e defender soluções estatais. Uma coisa é fato: independentemente do mérito das teorias, as medidas estatais, de si mesmas, empobrecerão a população. Resta saber se elas terão o efeito de evitar a catástrofe ambiental que se prediz para breve.

A segunda finalidade a que se presta o alarde em torno do efeito estufa é, a meu ver, mais sombria. É distinta da primeira, mas ambas não existem separadamente, e sim em mútuo auxílio.

Os defensores de medidas estatais, em geral, têm em vista proteger a vida humana dos efeitos não-intencionais e nocivos de suas ações. Por vezes, no entanto, vê-se por trás desse discurso uma outra ideologia, segundo a qual não é tanto a proteção da vida humana que interessa, mas sim a preservação ambiental como um fim em si mesma. O homem, segundo essa tese, é um fator de desequilíbrio ecológico; perturba a ordem natural do planeta. Privilegiar o homem em detrimento de outros seres (ou do ecossistema como um todo) seria moralmente errado; a atitude correta seria limitar e tolher a existência humana, consumidora ávida dos recursos naturais. Ela deve ser tolerada, e não incentivada.

E assim entramos em terreno perigosíssimo. As teses ambientalistas transformam-se em justificativa para práticas que violam o respeito mais básico à dignidade humana. Os doentes, os idosos, os mais fracos, esses só consomem; sustentá-los enquanto a humanidade drena o planeta seria uma atitude egoísta. Também o seria querer trazer novas pessoas ao mundo; já pararam para pensar nos impactos ambientais de gerar mais um filho? Será que a nova criança justifica os custos para a natureza e para as gerações futuras? E em todo caso, valeria a pena viver em um mundo poluído e desmatado? É um passo muito pequeno até a defesa explícita da eutanásia, do aborto e do controle populacional.

Será possível acreditar que alguém que vê com maus olhos a reprodução humana se preocupe com as “gerações futuras”? Não é porque agora justificamos certas práticas com base na ecologia e na “qualidade de vida” (mas apenas daqueles que tiverem permissão de viver!) que elas se tornam menos monstruosas do que quando eram justificadas pelos conceitos espúrios de pureza racial e aprimoramento genético.

sábado, agosto 18, 2007

Enriquecer gastando?

Jornalistas da Globo, por favor! Parem de confundir a população com suas noções erradas! Consumo não gera crescimento. Consumo não sustenta economia nenhuma; não a “faz girar”.

O consumo é uma conseqüência, e nunca uma causa, do aumento da produção. Quem dera fosse o contrário! Bastaria irmos todos às compras que enriqueceríamos. Mantenha-se as “expectativas” boas, de modo que todos passem as tardes no Carrefour, que a prosperidade virá.

Se os shoppings andam vazios, não é pelo desprendimento ascético da população. Se não produzimos mais do que o atual, não é por falta de consumidores. Poucos são os que estão satisfeitos com o seu próprio consumo; sempre há desejos e necessidades insatisfeitos. “Propensão a consumir” não falta. O que falta é produção para satisfazer toda essa sede de consumo.

Se, sem nenhum aumento da oferta de produtos, mais bicicletas forem compradas, isso significa que outros produtos e serviços terão suas demandas reduzidas; carros, chapéus, bóias de piscina; sabe-se lá o quê. Ou então estão todos poupando menos, e, portanto, reduzindo sua capacidade de crescimento econômico no futuro. Ou então um outro grupo de pessoas tem poupado para que esses consumam. A conta virá.

Quem quer enriquecer deve poupar; e não aumentar seu consumo. Se a filha compra tantos vestidos que o cartão do pai entra no vermelho (isto é, pega emprestado de gente que restringiu o próprio consumo), eles passam por dificuldades. Se todas as filhas do país fizerem o mesmo, o efeito não muda. O consumo das filhas aumenta na mesma exata medida em que se restringem os investimentos e o consumo dos poupadores.

Se a realidade é essa, por que os jornalistas insistem em dizer que quem sustentou o crescimento global foi o consumo dos americanos? Se os americanos aumentam seu consumo, ou eles aumentaram também sua produção (e essa é a causa do crescimento), ou eles estão consumindo a própria poupança (diminuindo assim seu crescimento), ou então pessoas de outros países estão consumindo menos agora para emprestar esses recursos aos americanos, e esperam recebê-los com juros no futuro. O consumo americano não alimentou crescimento nenhum; Foi ou alimentado pelo crescimento ou tirou-lhe o alimento.

Mas as dívidas foram contraídas. Se o dinheiro foi investido, ou se consumido, não importa. Ou parte dos lucros dos investimentos pagará os juros, ou, na falta de tais investimentos, os devedores terão que diminuir seu próprio consumo para pagá-los. E se, com base em expectativas delirantes sobre o valor dos imóveis (e a causa de tais erros em expectativas é algo que merece estudo), aceitou-se casas comuns como se fossem de diamante, todos aqueles cuja fortuna consistia em imóveis ou dependia do valor deles, perceberá que é mais pobre do que julgava. Se amanhã acordarmos e ver que nossa riqueza não passava de ilusão, adeus passeios pelo Iguatemi; adeus consumo! Melhor preservar o pouco que temos.

Não dêem bola para o Jornal Nacional: sair às compras não cria riqueza.

domingo, agosto 12, 2007

Preconceito e Livre Mercado: Contradição

Com freqüência associa-se capitalismo, ou economia de mercado, a racismo, sexismo, etc. Quem diz isso não percebe que no mercado o incentivo é na direção de erradicar discriminações e preconceitos sem base.

Todos os salários tendem para o valor real da produtividade dos trabalhadores, ou seja, daquele aumento de receita que o trabalhador pode promover numa empresa se for contratado por ela. Provar isso é simples: se a produtividade de um trabalhador para uma empresa for, digamos, 100 Reais, essa empresa estará disposta a contratá-lo por 90 (paga 90, recebe 100). E se esse trabalhador for contratado por 90, uma outra empresa similar à primeira poderá oferecer um salário de 95 por ele, e sair ganhando. A competição das empresas pelos trabalhadores (o recurso mais escasso do mercado, sem o qual nenhum outro pode ser utilizado) eleva seu salário até sua produtividade.

Se uma empresa se recusa a contratar mulheres, isso diminui a demanda por trabalhadoras no mercado, o que permite que outras empresas contratem-nas por salários mais baixos. A empresa que pratica essa política sexista perde oportunidades de lucro e beneficia suas concorrentes; contrata homens menos competentes e deixa passar mulheres mais preparadas. Quanto mais empresas agirem assim, maior a oportunidade de lucro ao se contratar mulheres. Se todas aderirem a essa política (por uma crença errônea de que a produtividade feminina é inferior), o primeiro empreendedor a agir de forma diferente lucrará muito, ao mesmo tempo em que beneficia todas as mulheres que procuram empregos. As outras empresas, pagando salários altos por homens pouco eficientes, ou mudam sua política de contratação ou terão prejuízo.

Se um trabalhador negro e um branco têm a mesma produtividade, então o salário deles no mercado tenderá a ser igual. Uma firma que, por puro racismo, ofereça salário inferior aos negros estará prejudicando a si mesma: as empresas que não praticam o racismo conseguirão contratar os melhores trabalhadores negros, oferecendo salários mais altos do que a racista, que ficará com os piores trabalhadores.

O preconceito impede a melhor satisfação das demandas dos consumidores. Assim, diminui o lucro da empresa. A empresa que deixa teorias falsas guiarem sua seleção e remuneração de funcionários satisfaz pior as necessidades dos consumidores, e, portanto, lucra menos do que aquela para a qual a satisfação dos consumidores vem em primeiro lugar e não se deixa guiar pelo preconceito.

Isso não quer dizer que o mercado incentive a equalização de todos os membros da sociedade. O que ele faz é punir as falsas atribuições de diferença. Quanto às reais diferenças de produtividade, o incentivo é de percebê-las o quanto antes e da forma mais precisa possível. Se um empreendedor descobrir, antes de todos os concorrentes, que os ruivos são muito melhores em prestar um dado serviço, ele pode oferecer aos ruivos um salário um pouco acima do que se paga comumente aos outros e, assim, sair ganhando. Mas é claro que, conforme todos percebam a vantagem de se contratar ruivos, o salário deles tenderá a subir até o ponto em que o salário deles reflita sua real produtividade, acabando com as oportunidades de lucro.

Assim, fica claro que o mercado, ao punir as falsas percepções e premiar as verdadeiras, tem um papel importantíssimo no combate de todas as formas infundadas de discriminação.