segunda-feira, março 26, 2007

Homem-Máquina?

E se o homem nada mais for do que uma máquina da natureza? E se todos os nossos pensamentos, idéias, crenças e ações forem, na verdade, o resultado de processos neurológicos do nosso cérebro, funcionando de acordo com as leis cegas da física e da biologia? São essas crenças que têm sido diariamente bombardeadas pelos meios de comunicação.

Toda semana sai uma nova notícia sobre mais um mecanismo cerebral. Há pouco tempo anunciava-se a descoberta triunfal do centro cerebral da moral e da ética, da explicação neurológica da crença religiosa e ainda que nossas decisões são tomadas inconscientemente pelo cérebro e só depois racionalizadas pelo pensamento consciente. Tudo isso coopera para fixar na mente das pessoas a crença no homem-máquina.

Quem tem um mínimo de senso crítico, no entanto, sabe que não existe absolutamente nenhuma evidência científica que corrobore a tese de que o homem seja um autômato. As descobertas da ciência apenas desvendam como se dá o funcionamento do corpo humano, que está, de fato, ligado à mente (o que também não é nenhuma novidade; não é de hoje que se sabe, por exemplo, que o exagero na bebida - estímulo material - tem conseqüências mentais). É a interpretação materialista (e nada científica) que se dá às descobertas da ciência que passa adiante, junto com os fatos observados, toda uma visão de mundo, como se fossem a mesma coisa.

O fato de que um estado mental esteja correlacionado com um estado cerebral não significa que um se reduza ao outro. Já se sabe com boa certeza que as endorfinas estão associadas à sensação do prazer; são elas o mecanismo, a causa material, por meio do qual a pessoa sente prazer ao fazer o que gosta. Mas elas em nada explicam por que algo é prazeroso. Se alguém adora assistir futebol, não se explica o seu gosto fazendo referência ao fato de que essa atividade libera endorfinas no cérebro. É o fato da pessoa gostar de assistir futebol, de ver interesse nisso (pelas mais variadas razões), que faz com que seu cérebro libere endorfinas quando se senta na frente da TV na hora do jogo. É claro que, em casos extremos, esse mecanismo pode “tomar o controle” da situação, como ocorreria se, por exemplo, injetássemos endorfinas diretamente no cérebro do sujeito; mas isso em nada altera a verdade sobre o funcionamento normal da pessoa. O significado de um livro não pode ser reduzido às formas geométricas dos caracteres o que compõem; mas mude o formato dos caracteres, e alterará o significado do livro.

Essa explicação é até bastante óbvia no caso do prazer. Mas passa despercebida em outros campos da neurologia. Assim, a descoberta de que pessoas deprimidas têm certas características cerebrais leva a conclusão de que a depressão nada mais é do que um problema no cérebro. E se o pensamento moral está associado a uma região cerebral, então a base da moral é um pedaço do cérebro.

Nada disso é aceitável. Se afirma-se que o homem é, como essas interpretações infundadas de descobertas científicas levam a crer, nada mais do que o produto de componentes físicos, então todo o nosso modo de pensar e viver é absurdo. Não existe livre arbítrio, não existe ética nem moral e a existência humana é tão irrelevante quanto um pedrisco que cai da montanha. Quem defende a tese do homem como máquina defende, quer queira ou não, a destruição de nossa própria civilização e de toda nossa cultura; uma aparentemente inofensiva tese filosófica tem como conseqüência a aniquilação da sociedade humana.

sábado, março 10, 2007

Pela Privatização Integral de Florestas, Rios e Mares

Embora eu não seja engajado em nenhum movimento ambiental, isso não quer dizer que considere a preservação da natureza pouco importante. Qualquer morador de São Paulo reconhece os danos à qualidade de vida que decorrem da poluição dos rios Tietê e Pinheiros. E duvido que algum brasileiro não se preocupe com a destruição das florestas e matas de nosso país, em especial a Amazônia. Afinal, é todo um potencial de recursos biológicos desperdiçados para se ter o benefício imediato da madeira.

Nessas observações creio estar de acordo com todos os ambientalistas. Mas a proposta que ofereço para solucionar esses problemas não encontra muito apoio. Pois o que sempre se diz é que, sendo os rios, florestas e mares necessários à humanidade como um todo, é necessário que sejam cuidados por todos, e que portanto sua propriedade seja pública, para que ninguém seja excluído de seu uso.

A propriedade pública, no entanto, é contrária à preservação e ao uso racional de recursos escassos. Comprovar isso é simples: suponha uma lagoa tida em comum por um grupo de homens, e cujos peixes não sejam suficientes para satisfazer todos os desejos desses homens (são escassos). Cada homem sabe que, se ele não for imediatamente para a lagoa pescar, os outros irão, e esse que esperou ficará sem nada. Assim, todos têm o incentivo de ir imediatamente pescar e esgotar o estoque de peixes da lagoa, sem nem sequer deixar que os peixes se reproduzam. Essa situação é chamada de “tragédia dos comuns”: na propriedade comum, o uso excessivo e a visão de curtíssimo prazo são incentivados, pois não auferir o benefício do bem comum agora significa perdê-lo de vez.

E o que aconteceria se a lagoa fosse propriedade privada, cada pedaço dela com um dono (ou um dono só para ela toda) que teria exclusividade da pesca naquele local? O dono de cada parte da lagoa sabe que não precisa ir imediatamente pescar, pois ninguém mais pode extrair os recursos daquele pedaço. Assim, não é preciso que cada um maximize o seu benefício a curto prazo; é possível pensar mais a frente, deixando, por exemplo, que os peixes mantenham uma certa taxa de reprodução, para conseguir assim aumentar a produção da lagoa ao longo do tempo. Ele também pode vender concessões de pesca, e administrar sua propriedade de modo que ela seja usada da melhor forma possível.

Se o rio é propriedade pública, então qualquer um pode jogar seu lixo nele. Se tiver dono, qualquer um que queira jogar seu lixo lá terá que pagar uma taxa ao dono; isso se ele concordar com a proposta. O mais provável é que o dono de cada setor do rio permita apenas uma certa quantidade de lixo, depois da qual o dano aos outros potenciais usos do rio (pesca, navegação, lazer, etc) não seria mais compensado pelo preço cobrado para se jogar lixo lá.

Com florestas vale o mesmo. Hoje em dia a Amazônia é, na prática, propriedade pública: quem cortar primeiro, leva. É claro que o governo tenta protegê-la, mas inutilmente; mesmo porque ele não tem como saber qual o nível de utilização de seus recursos é mais benéfico para a sociedade. Se ela fosse privatizada, o dono de cada pedaço se encarregaria de proteger o que é seu. Aqueles que cortassem tudo de uma vez sairiam perdendo, enquanto que aqueles que tivessem uma visão de mais longo prazo e quisessem maximizar o valor de sua propriedade, preservariam seus pedaços de selva, adotando medidas para mitigar os danos causados pelo extrativismo e limitando a extensão deste, garantindo assim ganhos futuros.

O futuro das florestas, dos rios e dos mares depende da privatização integral deles. Assim, a humanidade conseguirá, quem sabe, utilizar os recursos naturais à sua disposição de forma mais racional e consciente.