Entro feliz num bar, para uma reunião de amigos, quando me dou conta de estar em meio a fumantes, o que logo me deixa preocupado. O primeiro dos nada agradáveis sintomas é a irritação da garganta e dos olhos, que de tanto coçar transformam-se em chagas inflamadas de lágrimas e catarro, o que não é grave se comparado ao que se passa dentro de mim: à fumaça que entra em meu peito a cada respiração, e que me levará, em alguns anos, do bar à UTI, esquelético e careca depois de várias quimioterapias fracassadas, aguardando sozinho a morte de câncer pulmonar. Por pior que seja, contudo, câncer letal é pouco perto do pior efeito do tabaco: ao sair do bar, minhas roupas e corpo exalam um odor tão repulsivo que eu me sinto como o fundo de um cinzeiro lotado de bitucas amanhecidas. A única coisa a fazer é incinerar as roupas imediatamente e me esfregar com a bucha por duas horas no banho. Assim, não sou exatamente fã do cigarro. Mas há algo que eu odeio ainda mais: a lei anti-fumo de José Serra, nosso Stalin da saúde.
Onde foram parar o direito de propriedade e o direito de escolha? Um dono de bar tem o direito de escolher se permitirá ou não que se fume em seu estabelecimento. Não há maneira mais justa ou eficiente de se solucionar o problema.
Justa, porque respeita o direito de propriedade e autonomia de cada um. O dono de um estabelecimento pode decidir as regras que valem lá dentro, e quem não quiser segui-las, que não vá lá. Ninguém é obrigado a ir a bar ou balada nenhuma. Eu detesto música tecno e ambientes barulhentos e escuros; adivinha qual é minha conduta acerca da maioria das baladas que existem por aí? Peço ao Serra que imponha por lei um nível mínimo de luz e um nível máximo de ruído, bem como uma política de cotas para músicas de vários estilos em cada balada? Não; simplesmente não vou. E já que não conheço nenhuma balada próxima de mim que não seja assim, não vou a baladas e ponto final. Se quiser baladas diferentes, devo estar disposto a pagar por elas; não estou.
Essa solução é também a mais eficiente. Se eu terminantemente não quero contato com cigarro, não irei à casa de um fumante ou a um bar que permita o fumo. Se a ojeriza dos não-fumantes ao cigarro for tal que eles se recusem a ir a bares de fumantes, ou estejam dispostos a pagar a mais para ter seu “smoke-free environment”, então valerá a pena abrir bares onde é proibido fumar. Se tais bares não existem, então ou o os não-fumantes não se incomodam tanto assim com o cigarro, ou há oportunidades de lucro esperando os primeiros empreendedores a auferi-las. Provavelmente, o desgosto com o cigarro não é tal que justifique bancar estabelecimentos onde não se fume. Quem defende a lei quer, portanto, que os outros paguem por seu conforto e saúde.
Eu adoraria um mundo sem cigarros. Outras coisas que eu eliminaria de bom grado são o mau hábito de mascar chiclete e de homens adultos andarem por aí de bermuda. A externalidade negativa é real. Mas fazer o quê? Eles não violam meus direitos. Se a fumaça dos bares e baladas invadisse nossas casas e atacasse nossas crianças, daí sim haveria motivo para alguma medida legal entrar em vigor (punindo o estabelecimento responsável, e apenas ele). Como não é esse o caso, o governo deveria se manter bem longe da discussão. Se nós, não-fumantes, não estamos dispostos a arcar com o custo de estabelecimentos exclusivos para nós, com que direito os exigimos? Cada um é dono do seu nariz apenas; é uma pena que o Serra meta o dele onde não foi chamado.
Onde foram parar o direito de propriedade e o direito de escolha? Um dono de bar tem o direito de escolher se permitirá ou não que se fume em seu estabelecimento. Não há maneira mais justa ou eficiente de se solucionar o problema.
Justa, porque respeita o direito de propriedade e autonomia de cada um. O dono de um estabelecimento pode decidir as regras que valem lá dentro, e quem não quiser segui-las, que não vá lá. Ninguém é obrigado a ir a bar ou balada nenhuma. Eu detesto música tecno e ambientes barulhentos e escuros; adivinha qual é minha conduta acerca da maioria das baladas que existem por aí? Peço ao Serra que imponha por lei um nível mínimo de luz e um nível máximo de ruído, bem como uma política de cotas para músicas de vários estilos em cada balada? Não; simplesmente não vou. E já que não conheço nenhuma balada próxima de mim que não seja assim, não vou a baladas e ponto final. Se quiser baladas diferentes, devo estar disposto a pagar por elas; não estou.
Essa solução é também a mais eficiente. Se eu terminantemente não quero contato com cigarro, não irei à casa de um fumante ou a um bar que permita o fumo. Se a ojeriza dos não-fumantes ao cigarro for tal que eles se recusem a ir a bares de fumantes, ou estejam dispostos a pagar a mais para ter seu “smoke-free environment”, então valerá a pena abrir bares onde é proibido fumar. Se tais bares não existem, então ou o os não-fumantes não se incomodam tanto assim com o cigarro, ou há oportunidades de lucro esperando os primeiros empreendedores a auferi-las. Provavelmente, o desgosto com o cigarro não é tal que justifique bancar estabelecimentos onde não se fume. Quem defende a lei quer, portanto, que os outros paguem por seu conforto e saúde.
Eu adoraria um mundo sem cigarros. Outras coisas que eu eliminaria de bom grado são o mau hábito de mascar chiclete e de homens adultos andarem por aí de bermuda. A externalidade negativa é real. Mas fazer o quê? Eles não violam meus direitos. Se a fumaça dos bares e baladas invadisse nossas casas e atacasse nossas crianças, daí sim haveria motivo para alguma medida legal entrar em vigor (punindo o estabelecimento responsável, e apenas ele). Como não é esse o caso, o governo deveria se manter bem longe da discussão. Se nós, não-fumantes, não estamos dispostos a arcar com o custo de estabelecimentos exclusivos para nós, com que direito os exigimos? Cada um é dono do seu nariz apenas; é uma pena que o Serra meta o dele onde não foi chamado.
13 comentários:
Eu concordo.
Não consigo não pensar na relação entre a lei antifumo e a descrição de Tocqueville da onipotência da maioria. Assim como "ocorre certas vezes faltar força à lei, quando a maioria não a apóia", uma lei absolutamente estúpida e que atente contra o direito de propriedade pode muito bem vigorar. Desde que a maioria a apóie. E, bem, dado que vivemos sob a tirania da qualidade de vida, quem não vai apoiar uma lei antifumo?
Para esse pessoal da saúde (Serra, Temporão, etc) até mesmo o direito à vida é algo a ser sacrificado pela "qualidade de vida" da maioria. É perverso.
Lei seca, antifumo. Isso vai diminuindo cada vez mais a autonomia de cada indivíduo. Daqui a pouco não se poderá mais servir batatas fritas em bar. Afinal, elas são nocivas à saúde, e os hospitais do governo já gastam recursos demais com pessoas com problemas no coração.
O princípio é rigorosamente o mesmo.
A única coisa que falta é uma leve "evolução" da mentalidade da maioria. Mas ela não tardará a vir.
"Por pior que seja, contudo, câncer letal é pouco perto do pior efeito do tabaco: ao sair do bar, minhas roupas e corpo exalam um odor tão repulsivo que eu me sinto como o fundo de um cinzeiro lotado de bitucas amanhecidas"; "...que de tanto coçar transformam-se em chagas inflamadas de lágrimas e catarro"; "...e que me levará (...) do bar à UTI, esquelético e careca depois de várias quimioterapias fracassadas, aguardando sozinho a morte de câncer pulmonar".
huahuahuauhuahua...O primeiro parágrafo do seu texto é de um exagero e tragicidade sem precedentes aqui nesse blog. Mas, se assim não fosse, também não seria tão poético!
Heh, pois é, estou tentando mudar um pouco estilo, sair da chatice e da mesmice de sempre. Vamos ver se funciona.
Oi gostei muito do seu blog, a discussão sobre a lei antifumo atingiu limites bem mais amplos do que a superficialidade que a mídia vem tratando.
Eu sou fumante e saio muito a noite, a lei começa a vigorar hoje e estou com uma insônia inenarrável, imaginando como será daqui para frente.
Tenho dois links interessantes para passar. Um blog e um abaixo assinado:
Blog, terceiro post sobre lei antifumo:
http://ditaduraenrustida.wordpress.com/
Abaixo assinado:
http://www.petitiononline.com/antifumo/petition.html
Dêem uma olhada e comentem se quiserem, Se algum não fumante quiser assinar o abaixo assinado, pode, uma amiga minha que não fuma já assinou, isso é que é solidariedade.
Abraço
Bom, cada pessoa possui uma opinião Joel e eu discordo totalmente da sua apesar de respeitá-la. Como essa lei apenas me beneficia eu a defendo até que seja provado que estou sendo prejudicado.
Acho que economicamente falando é muito difícil, para não dizer impossível, calcular se está lei irá ou não trazer prejuízo a sociedade, como medir as externalidades negativas ou positivas do cigarro.!?
Pessoalmente acho que a diminuição na arrecadação com as empresas do setor e a redução no número de empregados da mesma, ou qualquer outro gasto gerado pela lei será compensado pela redução nos gastos diretos e indiretos na saúde, limpeza da cidade ( pense nas bitucas )e outros ..
Joel, não achei válido seu argumento.
A música alta da balada é uma escolha - é sua vontade ir ou não à este tipo de lugar. Já a fumaça do cigarro não obedece a vontade de cada indivíduo e ela nada mais é que a imposição da vontade alheia sobre a sua.
Anônimo, se a fumaça do cigarro saísse do estabelecimento e entrar na sua casa, daí sim, você teria razão.
Mas não é o caso. Aliás, a música da balada invade mais a propriedade alheia do que a fumaça do cigarro...
Você escolhe se vai ou não a um lugar com música alta. Você escolhe se vai ou não a um lugar com fumaça de cigarro. Simples assim.
E por acaso as ondas sonoras da música obedecem à vontade de cada indivíduo que está dentro da balada? Claro que não.
Sua distinção é sem base.
Será que o Joel é um liberal?
Não podemos tentar resolver todos os problemas da sociedade através da teoria econômica.
Deixar a mão invisível da economia resolver todos os problemas não funciona.
E olha que acredito no estado mínimo!
Nunca teremos estabelecimentos para fumantes e não fumantes. Pode até haver um ou outro, mas nunca teremos restaurantes japoneses p/ fumantes e outros p/ não fumantes. Pizarrias p/ fumantes e pizzariaspara não fumantes. Uma sociedade desse tipo nunca existirá. Muitas vezes dentro de uma família, há fumantes e não fumantes. Happy hour com os amigos do trabalho na sexta-feira? Melhor não ir né, já que com certeza alguem irá acender o cigarrinho. As pessoas não pensam assim, por que elas não são capazes de tangibilizar o custo de ser um um fumante passivo. Isso por que, o custo individual é muitas vezes menor que o social, e por que os custos são geralmente de curto prazo. Isso torna a discussão das externalidades fundamental.
Desta vez não posso concordar com você Joel.
Sorry
"Eu adoraria um mundo sem cigarros. Outras coisas que eu eliminaria de bom grado são o mau hábito de mascar chiclete e de homens adultos andarem por aí de bermuda. A externalidade negativa é real." Bom Joel, sobre a escolha do dono do bar poder escolher sobre seus clientes... não sei não. Mas achei bem legal sua opnião. Mas em relação aquele trecho ali em cima, " A externalidade negativa é real ". Poderia me explicar?
Forte abraço.
Olá Rodrigo.
É, acho que devo explicar-me.
Externalidade é um termo da economia para significar os efeitos (positivos ou negativos) de um dado bem ou serviço que não estão contabilizados no preço.
Por exemplo, se eu compro uma casa e embelezo a fachada dela, isso embeleza a rua como um todo e aumenta o valor das casas próximas. Esses benefícios que a minha obra trouxe à rua (tornar o passeio mais agradável, aumentar o valor das casas) não foram pagos pelos moradores que os receberam. Diz-se, então, que esse embelezamento da fachada tem externalidades positivas, isto é, efeitos positivos para outras pessoas.
Já homens adultos, maduros, andando por aí de bermuda, tornam a vida (ao menos a minha) uma experiência menos agradável, bem como pessoas que mascam chiclete (fazem barulho, colam o chiclete embaixo de mesas e cadeiras, etc). Essas ações têm externalidades negativas, isto é, impactam outras pessoas de maneira negativa. E as pessoas que agem dessas formas não pagam um preço por isso (um preço para compensar o impacto negativo do que elas fazem).
Paulo, tudo o que você diz apenas ilustra o que eu falei:
SE as pessoas se incomodassem tanto assim com o cigarro, estariam dispostas a pagar mais caro por um lugar que proibisse a entrada de fumantes, e então seria lucrativo ter um lugar assim. Já que, creio, não é esse o caso, isso significa que as pessoas NÃO se incomodam tanto com o cigarro assim.
Mas existe sim algum desconforto de não-fumantes com relação a fumantes, e é por isso que muitos estabelecimentos têm áreas de fumantes e de não-fumantes.
No livre mercado, são os consumidores que decidem quanto, como e o quê será produzido e servido.
Se você acha que os não-fumantes que aceitam entrar num bar com fumantes estão fazendo uma grande besteira, e que estão botando a vida delas em risco, você é livre para falar com elas e convencê-las usando os melhores argumentos que tiver.
A lei, embora pequena, parte de um princípio ditatorial, e é mais um sintoma de muitos dos males que assolam as mentes hoje em dia: o Estado como organizador da sociedade, o culto à saúde como o bem máximo (é tão incompreensível assim imaginar que uma pessoa saiba dos riscos do cigarro e MESMO ASSIM continue a fumar devido os benefícios que ele traz para ela?) e o moralismo politicamente correto que substituiu a verdadeira preocupação de se ser uma boa pessoa.
"à fumaça que entra em meu peito a cada respiração, e que me levará, em alguns anos, do bar à UTI, esquelético e careca depois de várias quimioterapias fracassadas, aguardando sozinho a morte de câncer pulmonar."
Todo seu argumento é concluído de maneira válida. No entanto, nao existem estudos conclusivos acerca dos males causados pelo cigarro para os fumantes e, muito menos, para o chamado "fumo passivo"
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