sexta-feira, outubro 17, 2008

Algumas considerações sobre a crise atual

Este blog não morreu! Estava apenas hibernando. Acontece que ruídos alarmantes penetraram sua caverna, e é hora de voltar, espero, à ativa.

Nada mais propício do que voltar ao bom e velho tema da economia, que agora está na boca e, em menor grau, na cabeça de todo mundo. O trabalho do economista é curiosamente anti-cíclico; quando as coisas vão mal, aí que suas opiniões se valorizam! Ainda há muito espaço nessa crise para minha opinião se valorizar, mas dado que nada receberei por ela de qualquer jeito, este parece ser um bom momento.

O ex-presidente do Banco Central americano (FED), Alan Greenspan, afirmara “central banking is largely a theatrical business”, querendo dizer que, em larga medida, o papel dele é produzir as emoções certas nos participantes do mercado. Mais importante do que as medidas e previsões exatas, que são em todo caso inalcançáveis, é manter o otimismo dos investidores.

Nem isso os Bancos Centrais têm conseguido. Ninguém mais acredita em seu poder de reverter a crise. Poder que eles nunca tiveram, embora afirmassem e afirmem o contrário. A crise atual tem causas objetivas; não é mero fruto de mudanças de expectativas. As contas não serão pagas com otimismo, e não é a confiança no futuro que criará riqueza onde ela não existe. O pessimismo do mercado não é a causa; é a conseqüência. Outra coisa que não é a causa é a ganância dos investidores e especuladores. Não que eles não sejam gananciosos (a crise, inclusive, é uma boa oportunidade para muitos repensarem suas prioridades). A ganância existe, e é grande, mas não é a culpada. A raiz deste mal não é o amor ao dinheiro.

Qual é, então? Os próprios bancos centrais. Não podem remediar o que poderiam ter prevenido. São eles, hoje em dia, por trás daquilo que se chama, na ciência econômica, de ciclo de negócios: período de prosperidade seguido de queda abrupta dos valores de muitos ativos, e possivelmente de recessão (período de estagnação econômica); o boom seguido do crash. Inicialmente, parece que nada pode dar errado: todos os ativos se valorizam, a bolsa sobe a galope, todo mundo ganha. Subitamente, a bolha explode, e a mula empaca. O que aconteceu? Para onde foi a riqueza? Mas o momento da crise não destrói riqueza nenhuma. Antes, revela que a riqueza existente é muito menor do que se acreditava, e que muitos investimentos que pareciam valer a pena, não valem. O que criou essa ilusão coletiva foi a política inflacionista dos bancos centrais, especialmente do FED.

Hoje em dia, “inflação” quer dizer aumento geral dos preços; originalmente, significava a criação de mais dinheiro sem lastro (por exemplo, impressão maciça de novas cédulas). O aumento dos preços é a conseqüência natural disso, embora possa ter outras causas. A mudança no uso do termo apenas confundiu o entendimento do processo, ao se fixar na conseqüência e se esquecer da causa. Neste texto, utilizo “inflação” no sentido original do termo.

Há dois meios de se inflacionar a moeda: o primeiro é a emissão simples. Essa, ao mexer com o valor do dinheiro (mais unidades de dinheiro, menor o valor de cada unidade), danifica o funcionamento de todo o sistema de preços da economia, mas não gera o ciclo de negócios. A inflação que o gera é aquela criada por meio do crédito, ou seja, quando um empréstimo é feito a investimentos para o qual não existe poupança. Os bancos centrais incentivam essa prática ao manter os juros artificialmente baixos e dar aos bancos comerciais a garantia de que, se estiverem insolventes, receberão ajuda.

Com os juros artificialmente baixos devido à abundância do crédito, muitos maus investimentos são feitos. Ativos altamente arriscados parecem um ótimo negócio; sobra capital. Mas é tudo ilusório; ilusão que dura apenas enquanto dura a política inflacionista do banco central. Quando cessa a inflação - e ela tem que cessar eventualmente, porque senão todo o sistema econômico colapsaria - a real situação da poupança nacional fica aparente; o crédito tem que contrair. Os maus investimentos que foram feitos têm que ser liquidados. Não há outra saída.

Tudo o que o governo e banco central podem fazer é: inflacionar ainda mais, o que aumenta e empurra a crise para um futuro incerto; ou impedir, por meio de novos gastos e regulamentações, que os maus investimentos sejam liquidados, o que impede que os recursos da economia rendam frutos para a população, às custas dos contribuintes e de todo mundo que sair perdendo com o aumento de preços que resultará da inflação.

O melhor a fazer é fazer nada. Deixar quebrar quem precisar quebrar, e facilitar o redirecionamento do capital e do trabalho para novas finalidades. É hora também de cortar impostos e gastos do governo, para permitir que as pessoas tenham mais recursos à sua disposição nesses tempos de reajuste.

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