É essa a chamada do dia 4 de junho no blog oficial da invasão da reitoria da USP pelos estudantes, que já completa um mês. E não é para menos: o que esperar de tal movimento além de baladas e festas juninas?
Os estudantes revoltam-se contra os decretos do Serra. Se postos em prática, dizem, tirariam a autonomia da universidade em decidir seus gastos. E eu, a princípio, teria tudo para concordar com a reivindicação. Afinal, não cabe a burocratas do governo decidir sobre os rumos da educação superior.
Mas vejam só a incoerência: exige-se autonomia para a universidade, mas só na decisão dos gastos. O financiamento deve ser integralmente estatal.
Gasta-se mais de DOIS BILHÕES DE REAIS (sim, é verdade) com a USP anualmente. E como estudante da mais prestigiada faculdade de filosofia do país afirmo com segurança que o que se apresenta não justifica tais gastos. Pelo contrário, muita gente está lá sem qualquer rumo, sem retornar absolutamente nada para a sociedade. O prédio é mal-conservado, os cursos são mal-organizados, muitos professores parecem não dar a mínima, e a produção intelectual é muito baixa.
Como tentei mostrar no texto anterior, não é surpreendente que a USP gaste tão mal seu dinheiro. Isso é, antes, exatamente o esperado em se tratando de uma instituição estatal.
A Universidade de São Paulo virou um buraco negro de sugar recursos públicos. Algum controle tem que haver! Querer “autonomia” (na verdade, irresponsabilidade) frente tais proporções é obsceno.
Os estudantes culpam o neo-liberalismo, o capitalismo, o imperialismo, pela precariedade da USP e pelas medidas que estão sendo tomadas para mitigar o problema. Eles não sabem, mas sua revolta não é contra o capitalismo; é contra a própria estrutura da realidade. O fato é que os recursos que temos à nossa disposição para satisfazer os desejos humanos são escassos; não dá para todo mundo. Os 2 bilhões da USP faltam para outras coisas: moradias, educação básica, comida, etc.
Os estudantes querem “autonomia” para reverter toda a produção do país em benefício próprio. Muitos não estão conscientes disso, mas acham, no fundo, que o resto do país deveria trabalhar para que eles fumem sua maconha de graça. Isso é inaceitável, e nem mesmo o idealismo juvenil desculpa ações tão irresponsáveis como a atual invasão, que só teve sucesso em piorar um pouco a educação superior oferecida pela universidade.
Se for para mantê-la pública (e não tenho quaisquer ilusões quanto à privatização do ensino num futuro próximo), que aqueles que possam pagar por sua educação passem a fazê-lo. Daí sim poderiam, com justiça, exigir autonomia do Estado nos gastos universitários. A autonomia na escolha dos gastos só faz sentido se acompanhada da autonomia do financiamento. Até lá, o Brasil continuará trabalhando para financiar baladas, cervejadas e shows na reitoria.
Os estudantes revoltam-se contra os decretos do Serra. Se postos em prática, dizem, tirariam a autonomia da universidade em decidir seus gastos. E eu, a princípio, teria tudo para concordar com a reivindicação. Afinal, não cabe a burocratas do governo decidir sobre os rumos da educação superior.
Mas vejam só a incoerência: exige-se autonomia para a universidade, mas só na decisão dos gastos. O financiamento deve ser integralmente estatal.
Gasta-se mais de DOIS BILHÕES DE REAIS (sim, é verdade) com a USP anualmente. E como estudante da mais prestigiada faculdade de filosofia do país afirmo com segurança que o que se apresenta não justifica tais gastos. Pelo contrário, muita gente está lá sem qualquer rumo, sem retornar absolutamente nada para a sociedade. O prédio é mal-conservado, os cursos são mal-organizados, muitos professores parecem não dar a mínima, e a produção intelectual é muito baixa.
Como tentei mostrar no texto anterior, não é surpreendente que a USP gaste tão mal seu dinheiro. Isso é, antes, exatamente o esperado em se tratando de uma instituição estatal.
A Universidade de São Paulo virou um buraco negro de sugar recursos públicos. Algum controle tem que haver! Querer “autonomia” (na verdade, irresponsabilidade) frente tais proporções é obsceno.
Os estudantes culpam o neo-liberalismo, o capitalismo, o imperialismo, pela precariedade da USP e pelas medidas que estão sendo tomadas para mitigar o problema. Eles não sabem, mas sua revolta não é contra o capitalismo; é contra a própria estrutura da realidade. O fato é que os recursos que temos à nossa disposição para satisfazer os desejos humanos são escassos; não dá para todo mundo. Os 2 bilhões da USP faltam para outras coisas: moradias, educação básica, comida, etc.
Os estudantes querem “autonomia” para reverter toda a produção do país em benefício próprio. Muitos não estão conscientes disso, mas acham, no fundo, que o resto do país deveria trabalhar para que eles fumem sua maconha de graça. Isso é inaceitável, e nem mesmo o idealismo juvenil desculpa ações tão irresponsáveis como a atual invasão, que só teve sucesso em piorar um pouco a educação superior oferecida pela universidade.
Se for para mantê-la pública (e não tenho quaisquer ilusões quanto à privatização do ensino num futuro próximo), que aqueles que possam pagar por sua educação passem a fazê-lo. Daí sim poderiam, com justiça, exigir autonomia do Estado nos gastos universitários. A autonomia na escolha dos gastos só faz sentido se acompanhada da autonomia do financiamento. Até lá, o Brasil continuará trabalhando para financiar baladas, cervejadas e shows na reitoria.
15 comentários:
felizmente eu posso dizer
que o gasto da unicamp serve pra alguma coisa.
2 bilhões é menos do que o maluf roubou, não é muito.
é menos do que custou o pan americano no rio, que não deixou nenhuma obra de infra estrutura para o rio de janeiro, etc.
pelo menos lá, eu acho que o investimento vale.
Joel, o dinheiro gasto comf estas e baladas não é público, são arrecadados pelos CAs.
No mais, acho que vc tem razão, o governo gastar dinheiro para formar pensadores em um país como este é um tremendo desperdício!
Vc tem toda razão...
Tem razão tbm quando diz que a ducação deveria ser nas igrejas ou dadas pelas famílias. Em um povo como o nosso, onde pelo menos 70% é semi-analfabeto, com certeza formaríamos uma geração de pessoas com um nível intelectual brilhante!
Bjus
Olivia, é o fato de as faculdades serem todas de graça que permite a tantos jovens não fazer nada o dia inteiro na faculdade, e se dedicar a tantas baladas.
O resto dos seus argumentos são inaceitáveis. Você diz que o governo deve gastar para formar pensadores. Quanto deve ser gasto nisso? E como devem ser feitos esses gastos?
Será que gastar tudo o que o país produzir para formar um pensador vale a pena? Nesse caso, todo o resto da população morreria de fome para que esse pensador tivesse a melhor formação do mundo. Será que vale a pena?
Você também, assim como muitos dos manifestantes, não percebeu ainda o problema: recursos usados para uma finalidade faltam a outras. E fora do mercado não há como fazer qualquer avaliação minimamente objetiva sobre quanto deve ir para cada finalidade e, ainda por cima, quão bem os gastos atendem ou não às suas finalidades.
Por fim, com a privatização da educação ainda existiriam escolas especializadas e inclusive muito melhores do que as públicas. A mênção a famílias e igrejas foi só para lembrar que existem muitas outras instituições além de escolas que provêm educação, INCLUSIVE numa sociedade como a nossa.
Ah Joel, é tudo uma questão de ponto de vista. Você e esse seu radicalismo!
Se o objetivo das universidades for gerar diversão e entretenimento para a juventude desocupada, promover a baderna e o caos, ou até mesmo servir de massa de manobra pra sindicatos e partidos políticos, devemos nos orgulhar muito de nosso ensino superior público, ele é muito eficiente em tais áreas.
Já se olharmos pelo ângulo de objetivos menos nobres e não tão correlacionados com o verdadeiro papel de uma Universidade, como ser um centro de excelência em pesquisa e ensino... bom ai elas não são tão boas assim, né?
Mas, com um show do Peixelétrico ai, quem liga pra isso?
Se compararmos o orçamento de Harvard (cerca de US$ 35 bilhões e não cerca de US$ 3 bilhões como dissera Reinaldo Azevedo), poderemos perceber que o orçamento da USP é minúsculo, ainda mais porque o corpo discente é quatro ou cinco vezes maior que o de Harvard. Assim, em dólares PPC (uma concessão, veja), Harvard tem um orçamento setenta vezes maior. Ou, sem paridade, cerca de 140 vezes maior. O Brasil é pobre, etc., mas aí está a dimensão da questão.
E se não for subvencionada a filosofia no Brasil, poderemos simplesmente não ter mais filosofia. E é preciso dizer também que o Estado americano gasta uma boa grana com bolsas de estudos para estudantes pobres da Ivy League ou das grandes universidades e "colleges" privados.
Sem contar que a questão da educação está longe de ser resolvida posta em termos de privatização ou estatização.
Adriano, não propus solução nenhuma. Apenas apontei uma situação insustentável de drenagem de recursos de nossa sociedade e da mentalidade absolutamente desconectada da realidade de muitos alunos de humanas.
Se deixarmos a cargo deles, vai logo tudo para a universidade e o resto do país morre de fome.
"Ah, mas quando eles se formarem... que contribuições darão!"
Espero que sejam boas mesmas, pois a conta está alta demais para uma sociedade pobre demais!
Não sei se a conta está alta demais. A USP costuma ser classificada sempre entre as 100 melhores universidades do mundo e a Unicamp fica entre as 150.
A produção científica de USP, Unicamp e Unesp equivale a 50% da que é feita no país (são 4,5 bilhões de ICMS, mas parece que eles estão tendo resultado).
Só a biblioteca da Fefeléchi tem mais de 300 mil livros. Para uma biblioteca de humanas é bastante, quanto a Mário de Andrade tem 1 milhão e a Nacional 1,3 milhão.
Agora que há problemas, não tenho a menor dúvida. Se houvesse um movimento estudantil democrático, transparente, anti-autoritário e antenado, tenho certeza de que estaríamos numa situação muito melhor. Porém há também aqueles que dizem que o departamento de filosofia da USP já alcançou a excelência de Sorbonne (digamos, se não me engano, Paris I, III, IV, IX). E não duvido que com 35 professores no departamento não estejamos longe do padrão dos departamentos de filosofia do resto do mundo.
Não discuto as coisas boas que de lá saem, Adriano, das quais eu também me beneficio.
O problema é: será que tem valido a pena? Será que nossa sociedade não seria um lugar melhor para se viver se não fosse pelos gastos enormes com a faculdade, que como mostrei também dão vazão a todo tipo de abuso, mal-uso e desperdício?
Responder a essa pergunta fora do mercado é, no mínimo, bastante arbitrário. Ou, ao menos, mais arbitrário do que seria uma resposta inserida no mercado, isto é, nas interações voluntárias dos próprios integrantes da sociedade.
Que se pergunte então: a educação é uma mercadoria?
JOel, não argumentei nada. Apenas ironizei!
Ninguém falou em gastar TODO o dinheiro público em faculdade. Até pq nem o mínimo do que deveria ir para esse setor é destinado a ele. Segundo porque não considero ensino como gasto, mas investimento.
Tornar o ensino privado só vai aumentar ainda mais a exclusão social, tendo em vista que só teria acesso ao ensino quem teria dinheiro para pagar, um privilégio de poucos.
Depois que o países com a menor taxa de analfabetismo do mundo possue ensino público. Não se infromar se até o nível superior, mas o fundamental e médio, com certeza são.
Na França que foi citada como exemplo, todas as faculdades são públicas! Os países onde o ensino superior é pago, tem um grande programa de bolsas para alunos de baixa renda.
No mais, ensino oferecido por instituições religiosas tanto é possível que existe tanto escolas como faculdades que pertencem a igrejas, como o sagrado coração, a puc, a metodista, faculdades batista e afins.... Isso não é nenhuma novidade!
Agora, afirmar que faculdades particulares possuem excelência frente às públicas, é uma verdadeira piada! Apenas a infraestrutua de algumas é superior. Com relação ao corpo profissional, o ensino e pesquisa, as Públicas são as melhores!
Bjus
"Os 2 bilhões da USP faltam para outras coisas: moradias, educação básica, comida, etc."
Essa frase é perfeita, by the way. Tenho um amigo do PCB (ah, you know him, after all you give lifts to your comrades), que menciono sempre, que reclama que esse pessoal pequeno-burguês (classe média) da ocupação não faz nada pelo povão, até o evita. Nesse sentido, só posso clamar aos céus e dizer: bando de canalhas!
Mas a discussão não é exatamente essa, quero crer.
"Educação é uma mercadoria?"
Depende do sentido que você der ao termo.
O entendimento que temos de algo, a contemplação de nosso conhecimento e da realidade, não é um algo que possa ser transacionado, assim como não serve, ou não precisa servir, a um fim outro que si mesmo.
Já o conhecimento que utilizamos para realizer diversas atividades complexas (como fazer um programa de computador por exemplo), apesar de não poder ser transacionado, é algo que usamos para satisfazer desejos que temos.
Por fim, o ato de transmitir conhecimento para outras pessoas, seja por meio da fala ou da escrita, é claramente um serviço que é prestado.
E ao se ir à escola, é exatamente isso que se demanda, e é por isso que se paga: por alguém que seja capaz de nos ajudar a compreender um dado corpo teórico de conhecimento.
É uma "mercadoria"? Esse termo carrega consigo toda uma carga negativa e utilitária.
Mas é um "bem"? Certamente.
Por ora eu acho que minha participação foi suficiente. Pretendo usar algumas das questões aqui levantadas para estudo e também para futuros textos no "Palatando".
Só gostaria de especificar o sentido de "mercadoria", quando fiz a pergunta. Veja, existe a "operação que o operário realiza". Essa operação é a causa eficiente (aqui o sentido é específico também, aristotélico) de algo que está sendo feito. Esse "algo" tem como causa final (Ari again) o mercado (diga-se, circulação, compra/venda). Já que tem como causa final (finalidade) o mercado, é uma mercadoria.
Não quis usar o sentido pseudo-marxista-panfletário-dos-dias-de-hoje. Deus me livre disso.
Joel, não saia pela tangente.
Se eu acho que ensino é mercadoria? Oras, vivemos em uma sociedade capitalista! Tudo é ou pode ser mercadoria!!!
É esse o grande lance do capitalismo....
Mas não foi isso o que quis dizer. Só quis dizer que dou graças a Deus que tudo que está aqui é uma mera abstração, apenas idéias. Pq qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade social sabe que uma medida como essa não é possível - pelo menos agora - e nos causaria graves danos sociais!
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