E se o homem nada mais for do que uma máquina da natureza? E se todos os nossos pensamentos, idéias, crenças e ações forem, na verdade, o resultado de processos neurológicos do nosso cérebro, funcionando de acordo com as leis cegas da física e da biologia? São essas crenças que têm sido diariamente bombardeadas pelos meios de comunicação.
Toda semana sai uma nova notícia sobre mais um mecanismo cerebral. Há pouco tempo anunciava-se a descoberta triunfal do centro cerebral da moral e da ética, da explicação neurológica da crença religiosa e ainda que nossas decisões são tomadas inconscientemente pelo cérebro e só depois racionalizadas pelo pensamento consciente. Tudo isso coopera para fixar na mente das pessoas a crença no homem-máquina.
Quem tem um mínimo de senso crítico, no entanto, sabe que não existe absolutamente nenhuma evidência científica que corrobore a tese de que o homem seja um autômato. As descobertas da ciência apenas desvendam como se dá o funcionamento do corpo humano, que está, de fato, ligado à mente (o que também não é nenhuma novidade; não é de hoje que se sabe, por exemplo, que o exagero na bebida - estímulo material - tem conseqüências mentais). É a interpretação materialista (e nada científica) que se dá às descobertas da ciência que passa adiante, junto com os fatos observados, toda uma visão de mundo, como se fossem a mesma coisa.
O fato de que um estado mental esteja correlacionado com um estado cerebral não significa que um se reduza ao outro. Já se sabe com boa certeza que as endorfinas estão associadas à sensação do prazer; são elas o mecanismo, a causa material, por meio do qual a pessoa sente prazer ao fazer o que gosta. Mas elas em nada explicam por que algo é prazeroso. Se alguém adora assistir futebol, não se explica o seu gosto fazendo referência ao fato de que essa atividade libera endorfinas no cérebro. É o fato da pessoa gostar de assistir futebol, de ver interesse nisso (pelas mais variadas razões), que faz com que seu cérebro libere endorfinas quando se senta na frente da TV na hora do jogo. É claro que, em casos extremos, esse mecanismo pode “tomar o controle” da situação, como ocorreria se, por exemplo, injetássemos endorfinas diretamente no cérebro do sujeito; mas isso em nada altera a verdade sobre o funcionamento normal da pessoa. O significado de um livro não pode ser reduzido às formas geométricas dos caracteres o que compõem; mas mude o formato dos caracteres, e alterará o significado do livro.
Essa explicação é até bastante óbvia no caso do prazer. Mas passa despercebida em outros campos da neurologia. Assim, a descoberta de que pessoas deprimidas têm certas características cerebrais leva a conclusão de que a depressão nada mais é do que um problema no cérebro. E se o pensamento moral está associado a uma região cerebral, então a base da moral é um pedaço do cérebro.
Nada disso é aceitável. Se afirma-se que o homem é, como essas interpretações infundadas de descobertas científicas levam a crer, nada mais do que o produto de componentes físicos, então todo o nosso modo de pensar e viver é absurdo. Não existe livre arbítrio, não existe ética nem moral e a existência humana é tão irrelevante quanto um pedrisco que cai da montanha. Quem defende a tese do homem como máquina defende, quer queira ou não, a destruição de nossa própria civilização e de toda nossa cultura; uma aparentemente inofensiva tese filosófica tem como conseqüência a aniquilação da sociedade humana.
Toda semana sai uma nova notícia sobre mais um mecanismo cerebral. Há pouco tempo anunciava-se a descoberta triunfal do centro cerebral da moral e da ética, da explicação neurológica da crença religiosa e ainda que nossas decisões são tomadas inconscientemente pelo cérebro e só depois racionalizadas pelo pensamento consciente. Tudo isso coopera para fixar na mente das pessoas a crença no homem-máquina.
Quem tem um mínimo de senso crítico, no entanto, sabe que não existe absolutamente nenhuma evidência científica que corrobore a tese de que o homem seja um autômato. As descobertas da ciência apenas desvendam como se dá o funcionamento do corpo humano, que está, de fato, ligado à mente (o que também não é nenhuma novidade; não é de hoje que se sabe, por exemplo, que o exagero na bebida - estímulo material - tem conseqüências mentais). É a interpretação materialista (e nada científica) que se dá às descobertas da ciência que passa adiante, junto com os fatos observados, toda uma visão de mundo, como se fossem a mesma coisa.
O fato de que um estado mental esteja correlacionado com um estado cerebral não significa que um se reduza ao outro. Já se sabe com boa certeza que as endorfinas estão associadas à sensação do prazer; são elas o mecanismo, a causa material, por meio do qual a pessoa sente prazer ao fazer o que gosta. Mas elas em nada explicam por que algo é prazeroso. Se alguém adora assistir futebol, não se explica o seu gosto fazendo referência ao fato de que essa atividade libera endorfinas no cérebro. É o fato da pessoa gostar de assistir futebol, de ver interesse nisso (pelas mais variadas razões), que faz com que seu cérebro libere endorfinas quando se senta na frente da TV na hora do jogo. É claro que, em casos extremos, esse mecanismo pode “tomar o controle” da situação, como ocorreria se, por exemplo, injetássemos endorfinas diretamente no cérebro do sujeito; mas isso em nada altera a verdade sobre o funcionamento normal da pessoa. O significado de um livro não pode ser reduzido às formas geométricas dos caracteres o que compõem; mas mude o formato dos caracteres, e alterará o significado do livro.
Essa explicação é até bastante óbvia no caso do prazer. Mas passa despercebida em outros campos da neurologia. Assim, a descoberta de que pessoas deprimidas têm certas características cerebrais leva a conclusão de que a depressão nada mais é do que um problema no cérebro. E se o pensamento moral está associado a uma região cerebral, então a base da moral é um pedaço do cérebro.
Nada disso é aceitável. Se afirma-se que o homem é, como essas interpretações infundadas de descobertas científicas levam a crer, nada mais do que o produto de componentes físicos, então todo o nosso modo de pensar e viver é absurdo. Não existe livre arbítrio, não existe ética nem moral e a existência humana é tão irrelevante quanto um pedrisco que cai da montanha. Quem defende a tese do homem como máquina defende, quer queira ou não, a destruição de nossa própria civilização e de toda nossa cultura; uma aparentemente inofensiva tese filosófica tem como conseqüência a aniquilação da sociedade humana.
3 comentários:
Joel e seus pitacos na neurologia: "esse fato passa desapercebido". coitados dos neurologistas, eles não devem ser estúpidos.
a depressão tem a ver SIM com o cérebro, e remédios podem REALMENTE ajudar, ok?
claro que ainda existe toda a parte metafísica, mas só porque algumas pessoas podem se curar desse modo, não quer dizer que deva servir sempre.
Nunca falei que toda depressão tem causas não-físicas.
Muito pelo contrário, já havia contemplado a possibilidade do mecanismo "tomar o controle da situação", ou seja, que a origem de um estado mental esteja de fato no funcionamento do cérebro e deva-se a causas internas a ele.
Assim, a objeção não procede.
Também vale a pena comentar dois pontos: não dei pitaco algum sobre neurologia. Se a leitura do texto tivesse sido feita com mais atenção, isso teria ficado claro. Muito pelo contrário: me abstive de fazer qualquer juízo sobre qualquer tese neurológica, ou mesmo mencioná-las diretamente.
O que apontei foi a deficiência filosófica das interpretações dadas às descobertas da neurologia, as quais não questiono de forma alguma.
Por fim, ressalto que o fato de remédios psiquiátricos curarem a depressão nada nos diz sobre se a causa deles era apenas um problema cerebral ou se era uma causa externa (digamos, falta de sentido na vida).
Ao agir diretamente sobre o mecanismo físico da depressão, o remédio obviamente acabará com os sintomas dela; mas terá ele removido as causas da depressão? Se as causas fossem o mau-funcionamento do próprio cérebro, então sim; se fossem algo extra-cerebral, então não.
E assim podemos ter pessoas sem os sintomas mas depressão mas que cujas vidas continuam com os problemas profundos que causariam a depressão. É a famosa imagem da pessoa que vive "alegrinha" por causa do anti-depressivo, com um milhão de problemas psicológicos e existenciais mal-resolvidos.
E é claro que o caso da depressão foi apenas um exemplo ilustrativo e não-essencial da tese principal do texto, que é: a interpretação do homem como máquina natural não tem nenhum embasamento científico; é puramente ideológica e apresenta perigos sérios para a vida humana.
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