A estatística e a econometria estão tomando o lugar da ciência econômica. Os danos disso para o entendimento do funcionamento do mercado são enormes. Mas a maioria dos economistas não o percebe. Preferem iludir-se, crendo que, assim como nas ciências naturais, a economia deve testar seus modelos teóricos pela observação dos fatos, isto é, pela estatística.
O primeiro ponto a se levar em conta é que não é possível, quando se lida com a sociedade humana, fazer qualquer experimento; não há controle de variáveis; há as inúmeras interações humanas, sujeitas a todo tipo de circunstância e alteração, a todo tipo de surpresa, o tempo todo.
Além disso, ao contrário dos eventos naturais, a ação humana não obedece a relações de magnitude constante. Podemos ter certeza de que, amanhã, a aceleração da gravidade na Terra continuará a mesma. Mas não podemos afirmar que as pessoas reagirão da mesma maneira aos mesmos eventos. Cada ação humana é única, e suas condições particulares são irrepetíveis. Ontem julguei que um copo de Coca-Cola era o suficiente para minha sede; hoje, em condições similares, tomei dois.
Como procede um economista contemporâneo, que ignora esses fatos? Ele forma uma conjectura, uma hipótese; digamos, de que um aumento no salário mínimo legal causa um aumento do desemprego. Bom, mas até aqui essa tese não passa de “teoria” (no mau sentido), um exercício abstrato, mera elocubração mental. Precisa ser confrontada com a realidade, precisa sair do estúdio e pisar no chão do mundo real! Nosso economista, então, coleta dados de um determinado país durante um certo período.
Surpresa: De acordo com esses dados, durante o período, o salário mínimo aumentou e o nível de desemprego caiu. Resignado, o economista se convence: é, a teoria estava errada nesse caso. Ou então, quem sabe, ele se convence de que existem outras variáveis relevantes que não foram observadas; é preciso de mais dados.
Qualquer que seja a conclusão dele, vejam só a falácia da inferência estatística em economia: quem disse que, apenas por que há uma correlação entre desemprego e salário mínimo, existe uma relação de causalidade entre eles? Será que o salário mínimo mais alto causou a diminuição do desemprego? Ou será que foi a diminuição do desemprego que levou os legisladores a aumentar o salário mínimo? Ou, quem sabe, há uma mesma causa para esses dois eventos, ou, ainda, a relação entre os dois é pura coincidência? Podemos ir mais longe: a diminuição do desemprego pode ter ocorrido apesar do aumento do salário mínimo.
Como decidir entre essas diversas interpretações conflitantes dos dados? Todas são possíveis; os dados não contêm sua própria interpretação. A escolha dessa interpretação depende da teoria aceita a priori, sem qualquer referência aos dados. A estatística sem a teoria não pode nos dizer nada. Com efeito, a própria escolha de quais variáveis medir já depende de uma teoria sobre quais variáveis são relevantes para explicar o fato que se tem em mente.
As relações estatísticas (no que diz respeito à economia) só se tornam inteligíveis à luz de uma teoria, e não há motivo para supor que as diversas variáveis manterão, no futuro, a mesma relação numérica que mantêm hoje. Todo o economista, ao fazer um teste estatístico e ao interpretá-lo já aceita, mesmo que não perceba, uma teoria econômica que guia sua escolha de dados e sua interpretação.
A estatística não pode nem refutar nem comprovar nenhuma tese econômica. Pode apenas estabelecer as relações históricas que se estabeleceram entre algumas variáveis. A economia, portanto, não é não pode ser uma ciência empírica, como o são as ciências naturais. Isso não quer dizer, no entanto, que ela não sirva para nada na economia. Ela é essencial para que façamos história econômica, isto é, conhecer os fatos passados (à luz da teoria correta, sem a qual os dados perdem seu valor por completo). Além disso, pode, diversas vezes, ilustrar a teoria; mas nunca com a pretensão de comprová-la ou refutá-la!
O primeiro ponto a se levar em conta é que não é possível, quando se lida com a sociedade humana, fazer qualquer experimento; não há controle de variáveis; há as inúmeras interações humanas, sujeitas a todo tipo de circunstância e alteração, a todo tipo de surpresa, o tempo todo.
Além disso, ao contrário dos eventos naturais, a ação humana não obedece a relações de magnitude constante. Podemos ter certeza de que, amanhã, a aceleração da gravidade na Terra continuará a mesma. Mas não podemos afirmar que as pessoas reagirão da mesma maneira aos mesmos eventos. Cada ação humana é única, e suas condições particulares são irrepetíveis. Ontem julguei que um copo de Coca-Cola era o suficiente para minha sede; hoje, em condições similares, tomei dois.
Como procede um economista contemporâneo, que ignora esses fatos? Ele forma uma conjectura, uma hipótese; digamos, de que um aumento no salário mínimo legal causa um aumento do desemprego. Bom, mas até aqui essa tese não passa de “teoria” (no mau sentido), um exercício abstrato, mera elocubração mental. Precisa ser confrontada com a realidade, precisa sair do estúdio e pisar no chão do mundo real! Nosso economista, então, coleta dados de um determinado país durante um certo período.
Surpresa: De acordo com esses dados, durante o período, o salário mínimo aumentou e o nível de desemprego caiu. Resignado, o economista se convence: é, a teoria estava errada nesse caso. Ou então, quem sabe, ele se convence de que existem outras variáveis relevantes que não foram observadas; é preciso de mais dados.
Qualquer que seja a conclusão dele, vejam só a falácia da inferência estatística em economia: quem disse que, apenas por que há uma correlação entre desemprego e salário mínimo, existe uma relação de causalidade entre eles? Será que o salário mínimo mais alto causou a diminuição do desemprego? Ou será que foi a diminuição do desemprego que levou os legisladores a aumentar o salário mínimo? Ou, quem sabe, há uma mesma causa para esses dois eventos, ou, ainda, a relação entre os dois é pura coincidência? Podemos ir mais longe: a diminuição do desemprego pode ter ocorrido apesar do aumento do salário mínimo.
Como decidir entre essas diversas interpretações conflitantes dos dados? Todas são possíveis; os dados não contêm sua própria interpretação. A escolha dessa interpretação depende da teoria aceita a priori, sem qualquer referência aos dados. A estatística sem a teoria não pode nos dizer nada. Com efeito, a própria escolha de quais variáveis medir já depende de uma teoria sobre quais variáveis são relevantes para explicar o fato que se tem em mente.
As relações estatísticas (no que diz respeito à economia) só se tornam inteligíveis à luz de uma teoria, e não há motivo para supor que as diversas variáveis manterão, no futuro, a mesma relação numérica que mantêm hoje. Todo o economista, ao fazer um teste estatístico e ao interpretá-lo já aceita, mesmo que não perceba, uma teoria econômica que guia sua escolha de dados e sua interpretação.
A estatística não pode nem refutar nem comprovar nenhuma tese econômica. Pode apenas estabelecer as relações históricas que se estabeleceram entre algumas variáveis. A economia, portanto, não é não pode ser uma ciência empírica, como o são as ciências naturais. Isso não quer dizer, no entanto, que ela não sirva para nada na economia. Ela é essencial para que façamos história econômica, isto é, conhecer os fatos passados (à luz da teoria correta, sem a qual os dados perdem seu valor por completo). Além disso, pode, diversas vezes, ilustrar a teoria; mas nunca com a pretensão de comprová-la ou refutá-la!
4 comentários:
Joel, uma análise interessante.
Veja só agora o seguinte: Todos os livros de introduão ao estudo da economia são neoclassicos.
Será que poderia ser diferente, e que todos não imaginassem o mercado como sendo estático, algo como o calculado em uma planilha? Dificilmente.
Infelizmente, TODOS os economistas das nossas universidades não conhecem a dinamina do mercado, e mesmo assim dedicam seu tempo a combate-lo, sem saber que eles mesmos serão os projudicados, ou seja, o proprio mercado que nada mais passa do que eles proprios.
Abraços, Guilherme.
Olá Guilherme.
Bom, eu não iria tão longe a dizer que todos os economistas das faculdades não conhecem a dinâmica de mercado ou que combatem o mercado. Muitos defendem o mercado, embora, e aí concorde com você, a abordagem neoclássica é deficiente em muitos pontos no que toca o entendimento de como ele funciona.
Um dos grandes erros, como você indica, é a fixação na idéia de equilíbrio, como se fosse algo de fato verificável na economia. A matematização é outro problema, que caminha junto dele.
E o crescimento da estatística e da econometria, que negam radicalmente o tipo de teoria a priori e os modelos matemáticos abstratos, é uma resposta às falhas e aos fracassos da economia neoclássica em atingir seus próprios objetivos (a previsão correta do futuro).
Respondem os neoclássicos: "Ah, mas a economia tem apenas 200 anos. A Física teve milhares para chegar aos modelos corretos."
Poucos são convencidos por essa desculpa patética. E, conforme se desesperam de achar algum modelo teórico que os permita prever o que acontecerá, descartam a teoria e tentam construir seus modelos com base nos dados empíricos.
Os resultados não são muito melhores.
Todos nós, que estudamos economia, temos o nosso papel em ajudar a corrigir a ciência e levá-la para um caminho mais produtivo.
Nem me fale, amanhã tenho prova de Estatística I.
É terrível mesmo, Tati.
Recomendo que você procure o que o Ludwig Von Mises tinha a dizer sobre a pretensão dos estatísticos na economia. Não pouca vezes fui consolado pelas duras palavras que ele reservava aos estatísticos e matemáticos.
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