terça-feira, fevereiro 13, 2007

Lucro: Serviço à Sociedade

Haverá algo mais oposto ao bem comum do que o lucro individual? Que um homem, ao operar seu negócio, termine com mais do que gastou, significa que se apropriou de parte da riqueza da sociedade. É isso que pode parecer à primeira vista; a realidade, no entanto, é oposta a essa percepção: o lucro é a recompensa da sociedade para aqueles que melhor a serviram.

Podemos distinguir entre dois tipos de bens: bens de consumo, que satisfazem diretamente desejos e necessidades humanos, e bens de capital, que são usados para produzir outros bens. O pão francês que compramos na padaria é um bem de consumo (ou, no caso de alguns, o pão já com manteiga; a distinção entre bens de consumo e de capital depende do uso que se faz deles). O forno e a farinha usados em sua produção são bens de capital. Da mesma forma, o trigo e as máquinas usadas para fazer a farinha com a qual se faz o pão também são bens de capital.

O que determina o valor, ou o preço, de um pão? O mesmo que determina o valor de todos os bens: o desejo que ele satisfaz no ser humano. Como a quantidade de pãezinhos é muito grande, e como existem muitos possíveis substitutos para eles, o preço de cada unidade é bem baixo, pois o desejo que ela satisfaz em cada pessoa é em geral de pouca importância. Mas se o Brasil entrasse numa era glacial e o alimento ficasse muito escasso, cada pãozinho teria um valor altíssimo, pois a necessidade satisfeita por cada unidade seria da mais alta importância: a sobrevivência de quem o come.

O valor de um bem de consumo depende do desejo que ele satisfaz. O valor do bem de capital, por sua vez, depende do valor dos bens de consumo que ele pode ajudar a produzir. Assim, o valor da farinha de trigo depende do valor dos produtos que podem ser feitos com ela. Se a partir de amanhã todo mundo passasse a odiar todos os alimentos feitos com trigo, o valor da farinha de trigo cairia para zero; assim como o valor de uma máquina cujo único uso possível fosse processar grãos de trigo.

Essa explicação explicita uma verdade que escapa a muitos: é o valor esperado dos produtos finais (dos bens de consumo) que determina o custo de produção, isto é, o preço dos meios de produção. O pão não tem valor porque foi feito com uma máquina cara; é a máquina que é cara porque pode ser usada para produzir pão, que é algo valioso aos homens. O preço de um meio de produção expressa a avaliação comum da sociedade sobre o valor daquelas coisas que ele pode produzir.

O que acontece, então, quando algum empreendedor lucra? Significa que ele conseguiu utilizar os meios de produção da sociedade de uma forma que eles satisfaçam desejos e necessidades de importância maior do que se sabia possível com aquela quantidade de meios de produção. Em termos mais práticos, ele descobriu como, com uma máquina de pão e a mesma quantidade de ingredientes, produzir um pão mais gostoso, ou uma quantidade maior de pães de qualidade igual. Assim, usou meios de produção avaliados em X (ou seja, cujos produtos finais possíveis são avaliados em X) e produziu, com eles, produtos avaliados em mais do que X (chamemos de Y). Conforme o conhecimento de como produzir Y com esses meios de produção se dissemine, o preço desses meios de produção passará a ser Y também, acabando assim com o lucro inicial.

O empreendedor que lucra no livre mercado, portanto, presta um grande serviço à sociedade: usa uma quantidade de recursos para satisfazer necessidades da sociedade que antes precisavam de mais recursos para ser satisfeitas. Ao fazer isso, ele economiza recursos, que podem agora ser utilizados para satisfazer outros desejos e necessidades, até então deixados de lado.

7 comentários:

Anônimo disse...

Joel, adorei o texto novo! Mais claro, impossível.

Essa aversão ao lucro que as pessoas tendem a ter me lembrou um artigo do Stephen Kanitz.
http://www.kanitz.com.br/veja/lucro.asp

beijos

Gabi

Werther Vervloet disse...

Boa, Joel. Mas ainda preferia um texto sobre a cartilha...

heheheh

Ailton disse...

Ótimo texto. Bela explicação. Não tenho o que acrescentar.

Até mais.

Anônimo disse...

O JOel, como vai?
Para poder postar aqui eu tenho que clicar naquele bonequinho azul de cadeira de rodas logo abaixo! haha

Olha, concordo plenamente que o retorno que algumas atividades dão e que é uma forma honesta de se ascender economicamente. O que se deve repensar é a forma como uma pequena parcela da sociedade se apropria da maior parte da riqueza produzida. Estou muito cansada para elaborar melhor meu comentário, mas acho que o governo é ineficiente seja por faltade uma politica séria ou por falta de interese mesmo, de fazer uma política de redistribuição de renda para que o enriquecimento dessas pessoas não se dê de tal forma que acentue ainda mais as disparidades sociais e economicas desse país.
Justificar o lucro sem questionar a forma como se dá esse processo e as consequencias não basta!
BJus

Joel Pinheiro disse...

Mas Sonja, o meu texto faz questão, exatamente, de mostrar "como se dá esse processo".

Anônimo disse...

Sim, mas eu estava me querendo dizer que vc poderia fazer uma análise crítica desse processo e não uma jutificativa que o legitime! =D
Tipo, até que ponto ele é justo? hehe

Joel Pinheiro disse...

E como pode ajudar as pessoas ao nosso redor a viver a melhor ser algo injusto?

Concordo plenamente que algumas formas de lucro podem se dar com atividades injustas. Por exemplo, com a venda de pornografia.

Mas em si mesmo, o lucro significa que, na visão das pessoas, a atividade do empresário satisfaz saus necessidades melhor do que as outras opções disponíveis. E isso não pode, a não ser acidentalmente (como no caso citado acima, da pornografia), ser injusto.