Finalmente acabaram 2 dias de extrema preocupação. Foi-se a ANPEC, prova para quem quer fazer mestrado de economia no Brasil. Quanto ao mestrado, já desisti dele há alguns meses (se bem que, dependendo da minha nota na ANPEC, quem sabe...?). As matérias pelas quais fui avaliado dão uma boa idéia de como é o mestrado, e de como é a ciência econômica hoje em dia.
Matemática e estatística. É nisso que se resume a economia acadêmica nos dias de hoje. Não devemos confundir as duas coisas; pelo contrário, são opostas enquanto métodos. A matemática, dedutiva e independente da experiência; a estatística, pura indução baseada nos dados empíricos.
Seguindo o que se chama de “abordagem neoclássica”, a ciência econômica tem como objetivo fazer previsões. É essa a definição de ciência, oriunda do positivismo, com a qual trabalha a maioria dos economistas: formular hipóteses que façam previsões empiricamente testáveis sobre a realidade. Por meio do teste da experiência, a hipótese pode ser rejeitada (se o que ela previr não ocorrer) ou ser aceita (na verdade não é tão simples assim, mas para este texto basta).
Para as ciências naturais isso é muito direto. Apesar de todos os problemas epistemológicos, não há muita dúvida de que esse método rende bons frutos. Mas e na economia? O economista depara-se com muitos problemas: os comportamentos humanos são altamente complexos e variáveis, e não parecem obedecer a nenhuma lei; há sempre incontáveis variáveis em operação; é impossível fazer experimentos em laboratório ou controlar as condições de um possível experimento.
O economista matemático (que é quem está por trás de toda a microeconomia) reconhece a impossibilidade de se lidar com a realidade em toda sua variabilidade. Mas, argumenta ele, isso seria, em todo caso, inútil; o objetivo da economia deve ser criar modelos que resultem em previsões precisas, usando o mínimo possível de informação. O mapa bom simplifica e diminui muito a cidade que ele visa mostrar; e se não fizesse isso não seria um bom mapa, seria uma fotografia gigantesca que em nada facilitaria a navegação.
Como proceder, então? Assumamos algumas hipóteses simplificadas sobre como se comportam as pessoas. Essas hipóteses serão falsas, não há dúvidas; mas serão jeitos de representar a realidade com uma certa simplicidade. Suponhamos que os homens agem de acordo com funções de utilidade, ou seja, que a preferência deles obedeça a certas equações matemáticas. Suponhamos também que eles tenham informação perfeita sobre o estado do mercado, que tenham os mesmos gostos, etc. Em suma, façamos um monte de suposições com o intuito de construir modelos matemáticos que nos dêem alguma base para fazer previsões sobre como a realidade se comportará. Assim, o mercado de produção agrícola comporta-se mais ou menos como um modelo de competição perfeita: livre entrada de competidores; produtores se deparam com preços dados de seus produtos, os quais são incapazes de alterar; a margem de lucro econômico sempre se aproxima do zero. Tudo isso é representado matematicamente. Se tivermos alguma idéia de come é a curva de demanda da sociedade, poderemos concluir quantas unidades do bem serão produzidas.
Isso foi só um exemplo. Para os economistas deve ter sido desnecessário, e para os não-economistas não deve ter ficado muito claro, mas sigamos em frente: o grande problema dessa metodologia toda é que ela tem deixado a desejar nas previsões, que são o objetivo dela. O caráter irreal e simplificador de suas suposições também garante que ela não seja um bom jeito de se entender como o mercado funciona na realidade.
Uma outra corrente, de importância crescente, toma o caminho oposto: o da estatística. As teorias abstratas dos economistas são furadas; partem de pressupostos falsos, fogem da realidade. É preciso ater-se a ela; é preciso testar todas as premissas e ficar só com o que se verifica nos fatos. É preciso parar de fazer “economia de poltrona” e passar a fazer econometria. É com base na correlação entre os dados observados e coletados que poderemos estabelecer relações de causa e efeito entre as diversas variáveis operantes no mercado; claro, algum insight puramente econômico sempre permanecerá, mas só teremos modelos úteis se abandonarmos a especulação abstrata e partirmos para a mensuração das variáveis. O que afeta a taxa de câmbio? Só uma regressão econométrica, que compare o comportamento da taxa de câmbio e o de muitas outras variáveis, poderá nos dizer. E mesmo esse resultado será fugaz; em outro período, as variáveis relevantes podem ser outras.
Em outro texto daqui já dei argumentos contrários ao uso que se tem feito da estatística como substituto da ciência econômica. Mas também não sou partidário da economia matemática neoclássica. Para onde ir? Existem outros caminhos? Existem. E eles se tornam mais claros ao questionarmos o objetivo fundamental da economia. Fazer previsões quantitativas precisas sobre o mercado e seus participantes, cientificamente, é impossível; talvez alguns discordem, talvez com razão. Em todo caso, ainda que não seja uma meta impossível, digo que não é a única meta que vale a pena ser perseguida. Mais importante e interessante do que fazer previsões quantitativas sobre os preços, a inflação e o câmbio, é entender como funciona o mercado. Qual o papel que os diversos participantes, preços e outra variáveis têm em coordenar a produção e distribuição de bens e serviços? São essas as questões que nos levam a todo um “novo” jeito (na verdade, é o jeito original) de se pensar a ciência econômica, já bem distante da corrente dominante. E com esse entendimento, estaremos inclusive em melhores condições de tentar prever o futuro.
Matemática e estatística. É nisso que se resume a economia acadêmica nos dias de hoje. Não devemos confundir as duas coisas; pelo contrário, são opostas enquanto métodos. A matemática, dedutiva e independente da experiência; a estatística, pura indução baseada nos dados empíricos.
Seguindo o que se chama de “abordagem neoclássica”, a ciência econômica tem como objetivo fazer previsões. É essa a definição de ciência, oriunda do positivismo, com a qual trabalha a maioria dos economistas: formular hipóteses que façam previsões empiricamente testáveis sobre a realidade. Por meio do teste da experiência, a hipótese pode ser rejeitada (se o que ela previr não ocorrer) ou ser aceita (na verdade não é tão simples assim, mas para este texto basta).
Para as ciências naturais isso é muito direto. Apesar de todos os problemas epistemológicos, não há muita dúvida de que esse método rende bons frutos. Mas e na economia? O economista depara-se com muitos problemas: os comportamentos humanos são altamente complexos e variáveis, e não parecem obedecer a nenhuma lei; há sempre incontáveis variáveis em operação; é impossível fazer experimentos em laboratório ou controlar as condições de um possível experimento.
O economista matemático (que é quem está por trás de toda a microeconomia) reconhece a impossibilidade de se lidar com a realidade em toda sua variabilidade. Mas, argumenta ele, isso seria, em todo caso, inútil; o objetivo da economia deve ser criar modelos que resultem em previsões precisas, usando o mínimo possível de informação. O mapa bom simplifica e diminui muito a cidade que ele visa mostrar; e se não fizesse isso não seria um bom mapa, seria uma fotografia gigantesca que em nada facilitaria a navegação.
Como proceder, então? Assumamos algumas hipóteses simplificadas sobre como se comportam as pessoas. Essas hipóteses serão falsas, não há dúvidas; mas serão jeitos de representar a realidade com uma certa simplicidade. Suponhamos que os homens agem de acordo com funções de utilidade, ou seja, que a preferência deles obedeça a certas equações matemáticas. Suponhamos também que eles tenham informação perfeita sobre o estado do mercado, que tenham os mesmos gostos, etc. Em suma, façamos um monte de suposições com o intuito de construir modelos matemáticos que nos dêem alguma base para fazer previsões sobre como a realidade se comportará. Assim, o mercado de produção agrícola comporta-se mais ou menos como um modelo de competição perfeita: livre entrada de competidores; produtores se deparam com preços dados de seus produtos, os quais são incapazes de alterar; a margem de lucro econômico sempre se aproxima do zero. Tudo isso é representado matematicamente. Se tivermos alguma idéia de come é a curva de demanda da sociedade, poderemos concluir quantas unidades do bem serão produzidas.
Isso foi só um exemplo. Para os economistas deve ter sido desnecessário, e para os não-economistas não deve ter ficado muito claro, mas sigamos em frente: o grande problema dessa metodologia toda é que ela tem deixado a desejar nas previsões, que são o objetivo dela. O caráter irreal e simplificador de suas suposições também garante que ela não seja um bom jeito de se entender como o mercado funciona na realidade.
Uma outra corrente, de importância crescente, toma o caminho oposto: o da estatística. As teorias abstratas dos economistas são furadas; partem de pressupostos falsos, fogem da realidade. É preciso ater-se a ela; é preciso testar todas as premissas e ficar só com o que se verifica nos fatos. É preciso parar de fazer “economia de poltrona” e passar a fazer econometria. É com base na correlação entre os dados observados e coletados que poderemos estabelecer relações de causa e efeito entre as diversas variáveis operantes no mercado; claro, algum insight puramente econômico sempre permanecerá, mas só teremos modelos úteis se abandonarmos a especulação abstrata e partirmos para a mensuração das variáveis. O que afeta a taxa de câmbio? Só uma regressão econométrica, que compare o comportamento da taxa de câmbio e o de muitas outras variáveis, poderá nos dizer. E mesmo esse resultado será fugaz; em outro período, as variáveis relevantes podem ser outras.
Em outro texto daqui já dei argumentos contrários ao uso que se tem feito da estatística como substituto da ciência econômica. Mas também não sou partidário da economia matemática neoclássica. Para onde ir? Existem outros caminhos? Existem. E eles se tornam mais claros ao questionarmos o objetivo fundamental da economia. Fazer previsões quantitativas precisas sobre o mercado e seus participantes, cientificamente, é impossível; talvez alguns discordem, talvez com razão. Em todo caso, ainda que não seja uma meta impossível, digo que não é a única meta que vale a pena ser perseguida. Mais importante e interessante do que fazer previsões quantitativas sobre os preços, a inflação e o câmbio, é entender como funciona o mercado. Qual o papel que os diversos participantes, preços e outra variáveis têm em coordenar a produção e distribuição de bens e serviços? São essas as questões que nos levam a todo um “novo” jeito (na verdade, é o jeito original) de se pensar a ciência econômica, já bem distante da corrente dominante. E com esse entendimento, estaremos inclusive em melhores condições de tentar prever o futuro.